Clássico, boxe se renova e pode ser excelente opção para condicionamento físico e perda de peso

Seja pela vontade de aprender a 'nobre arte' ou como exercício aeróbico, aula do tradicional boxe vai muito além dos golpes e esquivas. Esporte não ficou parado no tempo

por Letícia Orlandi 12/09/2013 08:30

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Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press
Boxe clássico não ensina apenas a arte dos socos. Oferece condicionamento cardiorrespiratório e emagrece. Além da parte física, extravasa a agressividade/tensão, traz grandes efeitos para a autoestima e proporciona ótimas noções de autodefesa (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
Corre, pula corda, faz abdominal, agachamento, carrega peso, jab, direto, esquiva. E corre, pula corda...e mais rápido, com graça e habilidade, hein? Uma aula de boxe clássico não ensina apenas a nobre arte dos socos. Oferece condicionamento cardiorrespiratório, emagrece e descarrega a tensão. O professor mineiro Bruno Fonseca, conhecido como Bruno Carcará, explica que há dois tipos principais de alunos que buscam a aula de boxe: os que querem aprender a lutar e os que buscam uma atividade aeróbica.


Bruno, que tem 36 anos de idade e quase dez de experiência, praticou outras lutas (kung fu, judô, jiu jitsu) até se encontrar com o boxe em uma temporada nos Estados Unidos. Ele revela que hoje 90% de suas alunas de personal são mulheres. “Elas preferem a aula individual porque não têm que lutar com um adversário, têm menos vergonha e aceleram a demanda calórica. Para quem está fugindo da musculação, os resultados para saúde e boa forma são rápidos e muito satisfatórios”, afirma Bruno.

Um aspecto importante é que a aula individual (ou personal) pode ser adaptada ao estilo e aos objetivos de cada um, focando mais na parte técnica ou mais no gasto calórico. O boxe não só se renovou, como adquiriu uma flexbilidade que permite democratizá-lo como atividade de bem-estar.

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Bruno, que dá aulas em academia ou em domicílio: combinação de técnica e demanda calórica conquistam todos que experimentam a aula de boxe (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
Renata Almeida Versiani, 30, é educadora física e pratica o boxe há 8 anos. Sempre gostou de lutas, praticou jiu jitsu, kickboxing e sanshou (variação que também é conhecida como boxe chinês), mas se identificou mais com o boxe, pela técnica e pelo estilo. “O boxe envolve um treinamento mais psicológico e traz benefícios estéticos imbatíveis. Faço a aula de manhã e meu humor muda. Sinto que estou pronta para o dia a dia, para trabalhar, cuidar do meu filho e me divertir”, explica Renata.

A aluna observa que a mudança de imagem do boxe e o crescimento da procura por mulheres é recente. “As mulheres achavam que as lutas eram coisas muito masculinas, ficavam com medo de machucar. Mas, na medida em que mais mulheres fizerem as aulas e perceberem que é uma atividade segura e técnica, vai crescer muito mais”, acredita ela, apontando o uso de manoplas (proteção acolchoada para mãos). “Nas aulas, eu faço, além dos golpes e esquivas, um circuito que inclui corrida, agachamento, corda, abdominal e exercícios com pesos para os braços. O corpo inteiro é trabalhado, de forma dinâmica e intensa”, define.

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Renata já praticou outras lutas e artes marciais, mas se encontrou no boxe. O estilo e graciosidade da luta contribuem para que a aula passe mais rápido (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
De aluna, Renata passou também a professora e dá aulas para grupos só de mulheres em academias e empresas. “Os grupos começam pequenos, mas uma aluna vê os resultado de perda de peso e bem-estar e sempre chama as outras. Rapidinho, as turmas estão cheias”, explica a educadora física. Bruno acrescenta que é possível também ter aulas em casa. O aluno deve adquirir os mesmos equipamentos exigidos pela academia – luvas e bandagem – mas deve ter também um espaço de pelo menos quatro metros quadrados, com espelho. “Se não houver um espelho grande em casa, mas o prédio tiver um salão de festas envidraçado, por exemplo, já é suficiente”, explica o treinador, lembrando que é possível também investir em um saco de pancada - veja mais abaixo, na seção 'Quer ir também?'.

Renata já se arrisca em lutas nas academias que frequenta, pela adrenalina e para avaliar sua evolução. E tem certeza que quem começa a praticar boxe ou artes marciais vê os benefícios de imediato. “Meu filho, de 8 anos, está no judô e já melhorou muito a atenção, a obediência e a concentração. E adora as aulas, ou seja, aprende com prazer. Fico feliz que ele, de alguma maneira, também acompanhe minha paixão pela luta e tenha benefícios para a saúde e desenvolvimento”, conta Renata.

Equilíbrio psicológico
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Hoje, 90% dos alunos de personal são mulheres (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
Já os homens que procuram o boxe ainda têm como principal objetivo aprender a lutar e até competir. De acordo com o professor, em apenas três meses já é possível participar de disputas na academia. “O combate não tem a ver com descontrole e violência, mas com a aplicação precisa da técnica. Normalmente, um lutador perde para ele mesmo, e não para o adversário”, define Bruno. Em Belo Horizonte, há lutas e treinamento de pugilistas regularmente no Mineirinho, promovidos pela Federação Mineira de Boxe (31 3459-6837).

O boxe competitivo tem categorias dividas por peso e idade, ou seja, não há faixas, como nas artes marciais. Mas vale também a disciplina do atleta e o respeito pelo professor/mestre. “Uma luta de boxe está totalmente vinculada ao equilíbrio psicológico. Quando um aluno quer lutar, ele tem que aprender a tomar um soco de olho aberto, por exemplo. E deve aprender a superar o abalo de levar um golpe. Levar um soco não é o fim de uma luta, mas os iniciantes têm que aprender a dominar essa sensação”, explica o treinador.

Pelas suas características e pelo fascínio que exerce nos mais jovens, a nobre arte é muito aplicada em projetos sociais. Uma das academias em que Bruno é professor, a Minas Fight Club, vai passar a oferecer, ainda em 2013, aulas gratuitas para crianças e adolescentes de baixa renda. “Canalizar a agressividade para o esporte é uma ótima maneira de redirecionar a energia dos meninos para coisas boas”, define.
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As aulas podem ser individuais, coletivas ou em dupla (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)

Exercício
Já para quem busca o boxe como exercícios físico, os benefícios são principalmente a perda calórica e a definição muscular – especialmente de abdômen, ombros, costas e panturrilha, porque muitos exercícios envolvem ficar na ponta do pé. “A perda de gordura e o ganho de massa muscular são intensos. O boxe pode ser a única atividade física do interessado em praticar, e os efeitos já são sentidos ao final do primeiro mês”, afirma Bruno. A musculação e a prática aeróbica – corrida, por exemplo – associados ao boxe, no entanto, podem acelerar o aparecimento de resultados.

Segundo Bruno Fonseca, pessoas de 5 a 80 anos podem praticar. “Para as crianças, é muito lúdico. Para os adultos, ajuda a descarregar o stress”, define. O professor pondera que é necessário fazer uma avaliação física e fisioterápica antes de começar e ter atenção aos joelhos, que são bastante exigidos nas aulas. “Além da parte física, o boxe extravasa a agressividade, traz grandes efeitos para a autoestima e proporciona ótimas noções de autodefesa. Não estamos falando de uma briga na rua, mas de melhorar os reflexos e saber se defender se for absolutamente necessário e inevitável”, afirma o professor.
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O circuito: corrida, agachamento, corda, pesos e abdominais. Só não entra em forma quem não quiser. Clique para ampliar a imagem (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)

Arte: Soraia Piva / EM / DA Press
(foto: Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)

Um grande diferencial dessa aula experimental para as outras que já fiz na série Manual do Iniciante foi o fato de ela ter sido em formato personalizado, individual. Quando você está em uma aula coletiva, acaba tendo que pegar os movimentos meio na marra, junto com a turma, por mais que o professor se esforce.

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Luva, encontrada por R$100 em lojas de equipamentos esportivos, é equipamento obrigatório (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
Para quem tem vergonha – e realmente, os primeiros movimentos são muito desajeitados – a opção personal também pode ajudar. E, para quem está começando e tem medo de acertar um golpe errado no colega, por exemplo, fazer a aula com o professor traz mais segurança. Eu tive as duas experiências – aprendi alguns dos golpes básicos (jab, direto, cruzado) e movimentos de esquiva com o professor, que usava as manoplas acolchoadas; e também simulei golpes com outra aluna.

Nesse caso, quando fizemos uma dupla de 'lutadoras', foi praticamente um balé, porque você tem que memorizar a sequência dos golpes e lembrar de se abaixar – se você não se esquiva, pode levar um soco acidentalmente. Na minha avaliação, o risco de isso acontecer é muito baixo nas aulas, porque, apesar de os movimentos serem rápidos, percebe-se que os alunos e professores têm muito cuidado um com o outro. Não tive medo e me senti à vontade.

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Os golpes não são a primeira coisa ensinada. A aula começa com aquecimento intenso e só depois vamos aos jabs, diretos e cruzados, além dos movimentos de esquiva, que exigem bastante do joelho. A manopla acolchoada garante a segurança do professor e do aluno (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
A combinação de aprendizado da técnica dos golpes com o circuito – corrida, agachamento, corda, exercícios para os braços com peso, abdominais – é intensa, muito intensa. O suor pingava no fim da aula. Mas é justamente o que torna o boxe tão apaixonante. O que poderia se imaginar de um esporte tão clássico seria uma certa monotonia, afinal, os movimentos parecem mesmo repetitivos. Nada mais longe da realidade. A aula mescla a parte técnica e o esforço físico de forma lúdica e motivadora.

A cada minuto que passava, mais eu desejava ser capaz de completar mais uma volta do circuito e já saí da academia me sentindo mais leve – no corpo e no coração. Como o próprio professor Bruno disse – 'não conheço ninguém que fez a aula experimental e não continuou'. Eu não serei a primeira e já agendei mais um mês de experiência.

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Equilíbrio psicológico e controle emocional são desenvolvidos na aula de boxe (foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
O escritor argentino Julio Cortázar utilizava uma metáfora curiosa para diferenciar o conto do romance: o conto é o gênero que deve vencer o leitor por nocaute, enquanto o romance deve ‘derrotá-lo’ por pontos. Ao que me parece, a prática de boxe é coisa para a vida inteira, logo, fico com o romance, digo, com os pontos.

Quer ir também?
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(foto: Elcio Paraíso / Bendita Conteúdo & Imagem/ Esp. EM / DA Press)
O quê?
Boxe

Onde? Na academia Minas Fight Club, Rua André Cavalcanti, 749, Gutierrez. Ou em domicílio. O contato do professor Bruno Fonseca é (31) 9209 4989

Preço? R$120/ mês, aula coletiva na academia, duas ou três vezes por semana.
Personal: R$50 hora/aula, duas ou três vezes por semana, em casa ou na academia.
Podem ser montados grupos em domicílio e o valor pode ser negociado.
Em dupla, a hora/aula de personal sai por R$60, ou seja, R$30 para cada.

Investimento em equipamentos? O aluno iniciante deve comprar uma luva, que custa em torno R$100; e a bandagem, em torno de R$30. Ambas são encontradas em lojas de equipamentos esportivos. Se a pessoa quiser investir em equipamentos para praticar em casa, é possível comprar um saco de pancada por R$200, mais a mão de obra da instalação, é claro.

Pré-requisitos: Avaliação física e fisioterápica

Contraindicações: Em princípio, não tem. É necessário verificar se há alguma lesão grave nas articulações.

Dicas: Assim como outras aulas de lutas e artes marcais apresentadas aqui, o boxe não abre muita margem para frescura em relação a suor, por exemplo. E também não é indicado usar colares, brincos e outros acessórios que podem atrapalhar os movimentos. O tênis pode ser de sola lisa.

Avaliação final: Uma delícia. Tradicional e clássico, mas renovado, o boxe é intenso e exige dedicação física, mental e psicológica. O autocontrole e também a aceitação do erro, da falha, são constantemente trabalhados. Já fizemos outras aulas por aqui, muito envolventes; mas nesta posso dizer, com certeza, que os neurônios foram totalmente absorvidos pela técnica e pela atividade física orientadas pelo professor. A aula individual ou em dupla (personal) também conquista, pelos resultados e evolução mais rápidos. Vale a pena.

A série Manual do Iniciante faz um 'test drive' de atividades ligadas à saúde e ao bem-estar. Se você quiser sugerir um tema, mande uma mensagem para saudeplenauai@gmail.com