Vírus da gripe aviária pode ser transmitido pelo ar

Um surto de H7N9 iniciado em março deste ano já matou 35 pessoas na China e infectou 130

por Vilhena Soares 24/05/2013 10:38

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STR/AFP
Mais de 20 mil aves foram sacrificadas na China desde março, quando iniciou um surto de gripe aviária (foto: STR/AFP)
Aumenta ainda mais a tensão em relação aos efeitos do vírus da gripe aviária em seres humanos. Após o polêmico estudo da Academia Chinesa de Ciências Agrícola divulgado no início deste mês - cientistas anunciaram a criação de um vírus híbrido da doença com capacidade de ser disseminado por vias áereas entre cobaias -, pesquisadores, também da China, utilizaram a cepa H7N9 e conseguiram fazer, em laboratório, a transmissão do micro-organismo entre mamíferos da mesma forma, pelo ar. Um surto de H7N9 iniciado em março deste ano já matou 35 pessoas na China e infectou 130.

A nova pesquisa foi liderada pelo infectologista Yi Guan, que testou o vírus H7N9 em furões. Ao isolar os animais contaminados, os estudiosos notaram que as cobaias transmitiram, pelo ar, a doença para os saudáveis, que estavam separados em jaulas distintas. Com esses dados, os cientistas defendem que a infectividade e a transmissibilidade do H7N9 têm a capacidade de, em um momento, dar início à transmissão do micro-organismo entre humanos.

“A transmissão eficiente de vírus influenza em furões é considerada como um preditor de transmissibilidade humano (...). Aqui, demonstramos que os furões podem ser infectados por contato direto e aéreo, resultando em infecções produtivas. Se esse vírus adquire capacidade de transmitir de forma eficiente a partir de humano para humano, a extensa disseminação do vírus pode ser inevitável”, alerta Guan. O cientista sugere um maior controle no contato entre animais e humanos a fim de que não aconteçam mutações mais letais do micro-organismo. “Para evitar isso, pode ser aconselhável reconsiderar a gestão dos mercados de aves vivas, especialmente nas áreas urbanas”, pondera. Desde o início do surto na China, mais de 20 mil aves foram sacrificadas.

De acordo com Rodrigo Angerami, infectologista do Hospital das Clínicas, da Universidade de Campinas (Unicamp), a pesquisa feita pelos chineses serve de alerta às autoridades de saúde pública. “Esses estudos e outros feitos nessa área tomaram essa linha de abordagem após casos de infecção do H7N9 em que os humanos não tiveram o contato direto com as aves. A Organização Mundial da Saúde (OMS) não considera ainda que o H7N9 possa ser transmitido de humano para humano, mas isso deve mudar para que evitemos uma epidemia como aconteceu com outros variantes desse vírus”, destaca o especialista.

No fim de março, a OMS alertou que a nova gripe aviária identificada na China é uma das mais letais dos últimos anos. O micro-organismo ainda é um mistério para a comunidade científica, mas uma das conclusões iniciais é de que ele é transmitido com mais facilidade de aves para humanos do que o H5N1, cepa responsável por surtos na Ásia e na Europa Oriental desde 1998. A estimativa da OMS é que o H5N1 tenha infectado 628 pessoas e matado 374 desde 2003. (VS)

Perigo mutante
O vírus criado pelos cientistas chineses é fruto de uma mistura de genes do H5N1, da gripe aviária, e do H1N1, da gripe suína. Transmitido às pessoas pelas aves, o H5N1 é letal em 60% dos casos, mas não é transmitido entre humanos. Já o H1N1, detectada pela primeira vez no México, em 2009, é transmissível entre humanos, mas pouco letal. O vírus mutante foi transmitido com facilidade entre cobaias por meio de gotículas respiratórias, um indício, segundo os pesquisadores envolvidos, de que, com simples mutações, cepas da gripe aviária poderão provocar uma epidemia.