Pais estimulam filhos a praticar esportes cada vez mais cedo para ajudar no desenvolvimento

Especialistas aprovam atividades, mas sem excessos

por Jefferson da Fonseca 30/03/2013 12:25

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Juarez Rodrigues/EM/DA Press
Júlia, de 1 ano, em aula com a professora Giselle Napier: "A piscina deixa de ser bicho-papão", diz a mãe, Alouette (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Da calçada, no encontro das ruas Fornaciari e Belmiro Braga, a poucos metros da Avenida Carlos Luz, em ponto nevrálgico do Bairro Caiçara, na Região Noroeste de Belo Horizonte, não é possível imaginar, portão adentro, o templo de paz, em casa de esquina, para a prática de ioga, tai-chi-chuan e kung fu. Na BR-356, entre os bairros Sion e Belvedere, na Região Centro-Sul – curva de caos que vai além da hora do rush –, em shopping do lar, técnicas de respiração e braçadas para avançar nas raias. Não muito longe, em meio à rotina de tumulto dos dias de semana na Savassi, o sensei faz uso de diversão para ensinar disciplina. Três endereços de contrastes e atividades físicas. Neles, em comum, os mais serelepes caçulas da geração saúde. Ao matricular cada vez mais cedo as crianças nas academias de práticas corporais, pais buscam proporcionar a elas dose extra de força e fôlego para a vida. Uma medida aprovada por especialistas, sobretudo em um momento em que muitas crianças brasileiras têm excesso de peso – o dado mais recente do IBGE indica que 33,5% dos meninos e meninas com idade entre 5 e 9 anos estão com sobrepeso. Mas há recomendações: é preciso organizar bem o tempo dos pimpolhos e buscar orientação profissional. “O excesso de atividades e a falta de acompanhamento são preocupações que não devem ser desprezadas”, ensina o professor de educação física José Roberto B. Moreira.

Lições além do esporte

Júlia Niyama, de 1 ano, já parece um peixinho. Cheia de intimidade com a água, a filha de Pedro Meireles, de 31, e de Alouette Niyama, de 37, faz aulas de natação duas vezes por semana e enche os pais, profissionais de educação física, de orgulho. “A Júlia tem muita energia. Nos dias de natação ela chega mais calma em casa”, diz a mãe. Alouette destaca ainda a importância da atividade para a segurança. “A piscina deixa de ser um bicho-papão”, sorri. Para Pedro, começar cedo é importante para que a fase “tão receptiva aos estímulos” seja aproveitada.

Juarez Rodrigues/EM/DA Press
Maria Vitória, de 3 anos, ensaia movimentos do judô: aulas curtas com momentos lúdicos (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Além das aulas de inglês, Maria Vitória, de 3, faz natação, balé e judô. Desde os 10 meses, a mocinha nada com a mãe, Milena Pereira. A menina já passou pelo curso básico do Minas Tênis. A mamãe companheira está atenta para evitar sobrecarga. Faz questão que a filha tenha tempo de sobra para a infância. “Tem hora que me questiono sobre a quantidade de atividades. Por enquanto, há uma liberdade enorme no que ela faz. O tempo das aulas é curto e é tudo lúdico”, observa. Milena, como a filha, começou a dançar aos 3 anos. Hoje, faz musculação e ginástica aeróbica.

A empresária Bruna Jardim, mãe dos gêmeos Luca e Hugo, de 4, reconhece na prática de esportes mudanças importantes na vida dos filhos desde que eles, aos 6 meses, começaram a nadar. “Foco, concentração e menos estresse. Uma melhora muito significativa. Tanto no que se refere ao físico, quanto ao emocional. Estão bem mais disciplinados”, avalia. No tatame, sob o olhar do sensei, o depoimento da mãe se confirma. Luca e Hugo fazem bonito no treino. Ao lado de 10 colegas de estatura aproximada, os gêmeos dão exemplo de respeito e obediência. Ano passado, a dupla passou também pela capoeira.

Outro pequeno de quimono é destaque no grupo da Bodytech, na Savassi. Bernardo, de 4. Filho do neurocirurgião Franklin Bernardes Faraj, de 36, o jovem judoca faz festa com as brincadeiras de “gato guerreiro”. O pai percebe a prática esportiva fundamental para a socialização e disciplina. Franklin conta que, logo que Bernardo completou 1 ano de vida, colocou-o na natação. “Primeiro, por segurança: é nadar para não morrer”, justifica o médico, pai também de Maria Paula, de 7 meses.

Atleta do Minas Tênis desde 1979, o faixa preta Luiz Augusto Teixeira, de 44, presidente da Federação Mineira de Judô, vê com alegria as crianças cada vez mais cedo nas academias. O professor considera a atividade física, essencialmente, saúde. Receia, entretanto, a “especialização precoce”. “A prática na infância, com acompanhamento, de forma diversificada e lúdica, desperta o prazer para a prática esportiva na vida adulta”, considera.

Para Luiz Augusto, é fundamental que a individualidade da criança seja respeitada. De acordo com o professor, é preciso ficar atento aos sintomas de cansaço. “Sonolência, insônia, inapetência e irritabilidade, por exemplo, são sinais de excesso”, alerta. O mestre, pai de Luiz Henrique, de 4 – um dos mocinhos do tatame na tarde de treinos –, ressalta a importância do lúdico no treinamento dos mais jovens. “Temos que cobrar, mas não excessivamente.”

Unidos pela saúde da família

Pai, mãe e filhos juntos pela saúde da família. Luiz Eric Gollop, de 40, fora da piscina, acompanha a mulher, Andrea, e os filhos Luiza, de 8, Pedro, de 4, e Letícia, de 2. Três vezes por semana, a família Gollop nada unida. Desde bebês, as duas mocinhas e o rapazinho praticam esportes. “É bom também para tirá-los um pouco de casa”, diz o financista, que mora e trabalha no Bairro Belvedere.

Na academia do Ponteio Lar Shopping, Alessandra Pimenta assiste à performance do filho Henrique Pimenta Muck, de 3. Durante 20 minutos, três vezes por semana, o pequeno nadador manda ver, com fôlego de dar gosto, pernas e braços na piscina da Rio Sport Center. Gabriel, de 6, irmão de Henrique, além do futebol, é atleta da água. Outra família unida pela saúde em uma manhã de treinos.

Alessandra diz ter cuidado para evitar a sobrecarga dos garotos e faz coro quanto aos benefícios das atividades. “Dormem bem, todos os dias, das 20h às 6h”, exemplifica. Revela que Gabriel, aos 2 anos, pareceu “um pouco gordinho” ao pediatra. O que motivou Alessandra a procurar ajuda. “A nutricionista disse que ele era forte, ‘socadinho’, não gordo”, sorri.

Já Camila Hermeto Valadares, de 30, moradora do São Bento, foi para a água com a filha Clara, ainda bebê, com 10 meses. Hoje, com 2 anos, Clara nada três vezes por semana e, espertíssima, dá trabalho para quem a acompanha. “Ela sempre teve muita energia. A natação fez com que ela dormisse melhor e ajudou na socialização”, conta. O próximo passo é o balé. “Para ajudar na postura”, explica Camila, grávida de oito semanas.

Os professores Renata Codo de Freitas, de 25, e Leonardo Vinícius Ribeiro, de 28, não têm trégua com os pupilos dentro d’água. Ao mesmo tempo, não escondem a satisfação com o trabalho. “O melhor é ver a evolução. E ver que as crianças começam a fazer uma das coisas mais importantes da vida, que é nadar, com a minha ajuda”, orgulha-se Renata. Para Leonardo, as crianças ensinam grandes lições. “A maior delas: a espontaneidade.”

Ao colo de Leonardo, Júlia Rocha Guerra Mendes, de 2, está pronta para saltar no abraço e nadar experiente. A mãe, Cristiane Rocha, conta que a mocinha nada desde bebê. O que explica a desenvoltura de Júlia. Salta, pula, abraça e vai de um lado para o outro, sob a guarda do professor. Há outro jovem atleta na família da empresária: Pedro, de 5, que, além de nadador, joga tênis. Júlia está também no balé. “A gente oferece. Depois, a escolha é deles”, sorri Cristiane.

PALAVRA DE ESPECIALISTA
José Roberto B. Moreira, professor de educação física

Benefícios para o futuro

“É de fundamental importância o hábito da prática regular de atividade física pelas crianças, principalmente pelo fato de que o sedentarismo pode resultar em um prejuízo muito grande para a saúde. Organizar a agenda semanal das crianças de tal forma que elas tenham disponibilidade para poder brincar, participar de atividades recreativas, caminhar, correr, pular, andar de bicicleta, fazer algum curso de esportes (natação, futebol, judô, ginástica rítmica desportiva, balé etc.) é medida que deve ser adotada pelos pais. Mas muito cuidado: o excesso de atividades, a falta de acompanhamento e a orientação de profissionais não capacitados são preocupações que não devem ser desprezadas pelos responsáveis. Entre os principais benefícios das atividades físicas, destaco o controle do peso corporal, a redução do desenvolvimento de doenças crônicas futuras, o aprimoramento das habilidades motoras, a melhoria da flexibilidade, o aumento da força e da resistência dos músculos, a socialização e até mesmo a melhoria no desempenho escolar.”

Arte da paz
No Bairro Caiçara, o trânsito das ruas vizinhas não afeta o mestre e de seus alunos miúdos, no Núcleo Cultural Manu. É hora de treinar kung fu. O faixa preta Thiago da Silva, de 27, explica o conceito da arte marcial como “arte da paz”. “É você entender como funciona a luta… é se conhecer melhor. É entender e buscar uma forma de parar a luta. É uma arte de parar as armas”, ensina. Primeira lição que parece aprendida pelo pupilo em calças curtas Acauã Quintino, de 8. “É legal porque estou aprendendo a me defender. Estou mais concentrado. Não estou mais ficando zangado”, garante. No endereço, templo da psicóloga e professora Jade Sotero Costa Goulart, de 34, crianças a partir de 6 anos também praticam ioga. Segundo ela, são muitos os benefícios da atividade para crianças. “Consciência corporal, flexibilidade, socialização, capacidade de raciocínio e concentração”, enumera.