Simoninha celebra a negritude no projeto Na minha quarentena

Cantor regrava 'Moro no fim da rua', lançada por seu pai, Wilson Simonal, e comenta o movimento contra o racismo que se alastrou pelo mundo

Augusto Pio 04/06/2020 07:20
S de Samba/divulgação
Simoninha regravou Moro no fim da rua, canção inspirada nos quilombos do Rio Grande do Sul (foto: S de Samba/divulgação)
Nesta quinta-feira (4), Wilson Simoninha será o convidado da cantora Paula Lima na live Janela UBC, promovida pela União Brasileira dos Compositores. A onda mundial de revolta contra o racismo, deflagrada pelo assassinato do americano George Floyd, certamente estará na pauta da dupla, assim como o preconceito enfrentado pelos negros no Brasil.

Simoninha lançou recentemente o single Moro no fim da rua, canção gravada por seu pai, Wilson Simonal, em 1970, composta por Luis Wagner e Tom Gomes. A dupla de autores chamava a atenção para a cultura negra e os quilombos do Rio Grande do Sul.

Sempre orgulhoso de sua negritude, Wilson Simonal (1938-2000), considerado o primeiro popstar negro do país, foi alvo de racismo. Em seu perfil no Instagram, Simoninha postou a tarja preta, protesto contra a desigualdade racial inspirado na campanha americana Vidas Negras Importam, que se espalhou pelo mundo desde o assassinato de Floyd, em 25 de maio, por um policial branco.

“O ato se tornou um protesto violento das duas partes, tanto da polícia quanto dos manifestantes. Confesso que me deu uma tristeza danada, por isso coloquei aquele post e a gravação do meu pai cantando Tributo a Martin Luther King, parceria dele com o Ronaldo Bôscoli”, diz Simoninha.

“São coisas bem diferentes, no Brasil é uma coisa, lá é outra. O mundo está em quarentena, os dois países (Brasil e EUA) são os principais focos no momento. O racismo está ligado à impunidade, pois, normalmente, os agressores são absolvidos”, afirma ele.

“Nos Estados Unidos, estourou esse movimento, o maior desde os anos 1960. Não é uma coisa esporádica, mas desde aquela época não se tem um levante tão grande. Na década de 1960, houve o levante gigante comandado pelo pastor Martin Luther King, que pregava a paz, e também os Panteras Negras, que pegavam mais pesado”, lembra o cantor.

“Por aqui, vai se tratando o racismo sempre como uma coisa menor, muitos até falam que ele não existe. Só que ele sempre surge. Agora juntou este momento de efervescência tanto aqui quanto nos EUA”, diz Simoninha.

Ele também fez a sua versão de Tributo a Martin Luther King. “Minha mãe dizia que meu pai tocava pandeiro quando cantava aquela canção. Batia o instrumento tão forte na perna que ela ficava ferida. Quando minha mãe me contou essa história, fiquei muito impactado”, revela Simoninha. “O legal é que hoje existe muita gente se manifestando nas redes sociais. Os artistas norte-americanos fizeram o vídeo em silêncio, por isso repliquei vários posts. Muita gente também replicou versões minhas, principalmente a do Tributo.”

QUARENTENA 
O cantor, de 56 anos, está lançando nas plataformas digitais o projeto Na minha quarentena eu canto assim, com releituras de clássicos e inéditas. Além da canção dos gaúchos, em que está acompanhado por Guiza Ribeiro ao violão, Simoninha mandou para as redes Minha música. “É uma composição autoral que havia gravado com a Jazz Big Band, em 2017, e registra a minha chegada à fase madura da vida. O novo arranjo tem a participação do pianista Michel Lima.”

Na segunda-feira (8), ele vai lançar Carnaval e réveillon (1995), composta pelo irmão dele, Max de Castro, e João Marcello Bôscoli. A releitura conta com a participação da pianista Juliana Ripke. Em 25 de junho, aniversário da morte de Wilson Simonal, será a vez de Correnteza (Antonio Adolfo/Tibério Gaspar), gravada pelo astro negro em 1968.

Nestes dias de isolarmento social, Simoninha trabalha em esquema home office. “Coloco a voz em minha casa mesmo, músicos e produtores atuam remotamente. Quero mostrar a simplicidade como verdade, fazer um registro fiel deste momento que estamos vivendo”, explica.

A ideia surgiu logo no início da quarentena. “Achei que tinha que fazer uma live e gravei Moro no fim da rua. Quis falar com as pessoas, pois estava todo mundo assustado. Tinha de cantar e entreter as pessoas. Senti-me na obrigação de fazer isso, o que ocorreu antes da febre das lives. É muito legal registrar este momento.”

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