A distancia, DJs animam festas virtuais na quarentena

Profissionais das pick-ups se uniram para continuar ativos durante o período de isolamento social e garantem a música em reuniões próprias ou alheias

Pedro Galvão 27/05/2020 09:05
Euler Junior/EM/D.A.Press
O DJ Seu Muniz, em registro de 2015. Ele conta que ouve música durante aproximadamente oito horas por dia para %u201Cgarimpar%u201D novidades (foto: Euler Junior/EM/D.A.Press)
Acostumados a estar sempre no meio das multidões, literalmente ditando o ritmo da festa, os DJs, que ganham a vida com as chamadas discotecagens em casas noturnas, espaços culturais e eventos em Belo Horizonte, encontraram uma realidade dura nos dias de quarentena, em que tudo isso está suspenso.

Porém, assim como foi para muitos músicos, as transmissões ao vivo pelas redes sociais e a criatividade se tornaram uma alternativa para esses profissionais se reconectarem com o público, mesmo que a distância.

Nome conhecido da noite belo-horizontina, Marcos Paulo Diniz, o DJ Seu Muniz, presença constante em festas dedicadas ao indie e ao rock alternativo internacional, propôs entregar uma dosagem especial de novidades musicais ao público no projeto chamado Gotas.

Assinatura 

Muniz tinha a ideia antiga de oferecer em seus perfis virtuais três novidades musicais por dia. Antes da pandemia, no entanto, o projeto não engrenou. Com a interrupção das programações, o plano saiu do papel. “Sem festas nem eventos, a coisa começou a apertar e pensei em voltar com a ideia das três músicas ao dia, mas de uma forma diferente. A pessoa assina o serviço, por R$ 5 mensais, e eu envio para ela duas músicas por dia, frutos de minhas pesquisas”, conta ele, que diz escutar até oito horas de música diariamente.

“Junto a necessidade com a chance de mostrar novidades para o pessoal. A quarentena é um momento propício para pessoas conhecerem músicas novas”, afirma Seu Muniz, que seleciona apenas lançamentos ocorridos nos últimos quatro anos.

Ele envia as faixas aos assinantes no formato digital que preferirem, via link em plataformas como YouTube, Deezer ou Spotify, ou o arquivo em mp3, quando possível. As assinaturas são feitas no site Catarse.

O foco de Muniz é a música internacional. “Segue o que toco na maioria dos lugares. Indie, soul, jazz moderno, nu jazz. Bandas como Metric, coisas na linha do folk, como Damen Jurado, até mais dançantes, como a Superjava. São coisas menos conhecidas, não tão fáceis de ouvir por aí, mas numa veia mais pop. Meu trabalho é esse da garimpagem, pensando em quem gosta de conhecer coisas novas.”

Apesar de já ter conquistado 66 assinantes, o Gota não afastou Seu Muniz das pick-ups. Assim como outros DJs de BH, ele tem feito apresentações ao vivo, de casa, para quem está em isolamento residencial, como as que acontecem na Quarentena Fest, da qual participou.

Realizada semanalmente de quinta a domingo, a festa virtual é uma oportunidade para os DJs seguirem divulgando seus trabalhos, além de oferecer uma quarentena mais animada a quem está em casa,

Chá Gelado/divulgação
A DJ Naroca é uma das fundadoras do coletivo de DJs de BH, que hoje reúne 130 profissionais (foto: Chá Gelado/divulgação)
O evento foi criado pelo coletivo DJs Disco Clube, fundado em 2018 pela DJ Naroca (Nara Torres) e que reúne hoje mais de 130 profissionais de BH.

Muitos deles vêm se apresentado na Quarentena Fest, que tem a diversidade musical como marca registrada. “Tem sido uma miscelânea de som. Já tivemos o Seu Muniz, a DJ Mary An, que é mais do eletro e do dance, tem uma galera que discoteca só com vinil, outros só com digital, já teve DJ de samba, de forró, como o DJ Vhinny, que toca só com vinil”, afirma Celso Soares, o DJ Corisco, um dos responsáveis pela Quarentena Fest ao lado dos DJs Naroca, Cente, Joca, Black Josie, Luiz Valente, Elias e Yuga.

Corisco explica que a proposta começou como um meio de divulgar os trabalhos dos DJs da cidade, desde antes da pandemia, e hoje a procura é enorme. “Esse formato da live já era uma tendência, mas com a pandemia veio à tona”, comenta o DJ e produtor musical.

Ainda sem uma forma de remunerar os DJs ou arrecadar as colaborações do público, tudo tem sido feito voluntariamente, sem nem mesmo um patrocinador, diferentemente de muitas lives musicais promovidas ultimamente.

O propósito é se manter na ativa, enquanto a programação de casas e eventos não retorna. O grupo vem realizando também sessões de bate-papo entre DJs e produtores musicais, chamadas Con-Versa Com. Um dos convidados foi o produtor Buguinha Dub, que já trabalhou com Nação Zumbi e Baiana System.

No perfil do DJs Disco Club no Instagram, no qual a programação é divulgada, a Quarentena Fest é anunciada “na plataforma mais perto de você”. Embora haja diversidade no canal de transmissão, variando entre redes sociais mais populares e suportes mais alternativos, o grupo ainda procura “a batida perfeita” em termos de streaming.

“Hoje estamos com uma programação legal, com horários (de quinta a sábado, das 18h à 0h; domingo, das 14h às 21h; cada DJ toca uma hora), mas estamos aprendendo juntos como aperfeiçoar. Nesses dois meses, vimos que dá para estar conectado no wi-fi, tem que estar direto no 4G, entre outras coisas”, comenta o DJ Corisco.

Segundo ele, alguns profissionais têm utilizado plataformas como Zoom, Twitch ou Mixcloud para as transmissões, como alternativa ao YouTube e às principais redes sociais. Uma das dificuldades no Facebook, por exemplo, tem a ver com direitos autorais. A rede social “derruba” transmissões de músicas que pertencem às grandes gravadoras.

“Procuramos nos manter vivos nas nossas plataformas on-line e redes sociais, com atrações semelhantes àquelas que nosso público já conhece. Então, estamos fazendo lives de DJs nas sextas e sábados, à noite. Fomos nos adequando em relação à conexão ideal, mas lamentamos porque sempre pagamos o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) em dia, embora transmissões no Facebook sejam derrubadas por direitos autorais mesmo assim”, explica Marcelo Crocco, um dos sócios proprietários d’A Obra e DJ.

Crocco explica que alguns DJs parceiros têm feito as apresentações por outras plataformas, para evitar o problema. A resposta do público, segundo diz, tem sido boa. “As pessoas estão com saudades de ver o ambiente, sentir o clima da casa. Há muita interação nos comentários, por mensagens, e sempre aproveito para falar para todos ficarem em casa e se cuidar.” Na semana passada, ele transmitiu sua discotecagem diretamente da boate, localizada na Savassi.
 
Problema 
Sem funcionar desde antes da quarentena, enquanto fazia uma reforma para atender às determinações do Corpo de Bombeiros, concluída na semana anterior à edição dos decretos de fechamento de comércio e casas noturnas por causa da COVID-19, A Obra vem contando com a ajuda do público para seguir em frente.

“Só abriremos quando for 100% seguro. Nossa premissa sempre foi diversão com segurança. Enquanto isso, fazemos nossas lives e contamos com a colaboração das pessoas na vaquinha virtual e nas outras ações que estamos fazendo”, afirma Crocco. Nas redes sociais d'A Obra (www.facebook.com/pg/aobrabardancante e www.instagram.com/aobrabh) é possível acompanhar a programação e saber como colaborar com as iniciativas de apoio à casa no período de ausência de receitas.

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