Produtor de artistas famosos, Ruben di Souza faz sucesso com música gospel

Tecladista pop na juventude, produtor também toca duas vezes por semana na Igreja

Mariana Peixoto 06/12/2014 00:13

Euler Jr./EM/D.A Press
Antes de entrar no universo da música religiosa, Rubinho tocou com Tony Rey, Samuel Rosa e Brancões (foto: Euler Jr./EM/D.A Press)
Aos 9 anos, Ruben di Souza era um garoto que sabia três notas: ré, sol e lá maior. Filho de pastor da Assembleia de Deus, com mãe regente do coral da igreja, convivia naturalmente com a música. Pois num dia de culto em Araxá, onde vivia com a família, um violonista faltou. Sem pensar duas vezes, seu pai o colocou para tocar com a banda para uma plateia de 5 mil pessoas. As mesmas notas que o menino tocava sozinho em seu quarto ecoaram numa igreja lotada, o que o fez perceber, pela primeira vez, o poder da música. Hoje, aos 40 anos, ele continua fazendo o mesmo. Duas vezes por semana, sempre às quintas e aos domingos, pega seu contrabaixo e toca em sua igreja, a Bola de Neve. São esses os momentos em que ele deixa o lado produtor de lado para que o músico possa tocar.

O meio evangélico o conhece muito bem. Ele é atualmente um dos produtores mais procurados da música gospel brasileira. Assina, por exemplo, a produção musical de Graça, álbum mais recente de Aline Barros, a principal voz feminina do meio gospel nacional. Na semana passada, o disco recebeu o Grammy Latino de melhor álbum cristão em língua portuguesa. Ruben di Souza também é o produtor por trás de trabalhos de André Valadão, Mariana Valadão, Discopraise, Guilherme Rebustini e Livres. São nomes que não dizem muito para o chamado meio da música secular – a música destituída de temática religiosa –, mas que estão entre os mais conhecidos do universo gospel.

 

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"Tenho feito muitos discos com forte influência na produção americana. No culto da minha igreja tem rock e reggae, além de momentos profundos de adoração" (foto: Euler Jr./EM/D.A Press)
Para os músicos de Belo Horizonte, Ruben é Rubinho, tecladista que já tocou com boa parte dos artistas de pop rock da cidade. Um músico que foi emancipado pelo pai dos 15 para os 16 anos para poder trabalhar na noite. Já apaixonado pelo piano, havia na adolescência deixado o violão de lado para se dedicar aos teclados. “Um dia, estava caminhando quando vi uma placa dizendo que precisavam de tecladista. Fiz o teste e tive que conversar com meu pai, pois ia tocar num cassino! Ele achou que eu estava louco. Aí tivemos uma conversa e ele me disse que eu tinha duas opções: ou levava a vida (de músico) como profissão, ou como ministério. Disse que esperava que fizesse disso não só um trabalho, mas a minha vida.”

Pois assim foi. Com Tony Rey, Rubinho tocou dois anos, primeiramente na banda do extinto Cassino Dancing Show e depois como integrante da banda do crooner. “Naquele momento, entendi que Deus me deixou ir para a música secular.” E assim foi. Rubinho tocou na banda de muita gente da cidade. Acompanhou Samuel Rosa e Lô Borges na série de shows que iniciaram nos anos 1990, fez parte do grupo de Wilson Sideral, tocou com os Brancões. Nessa época, foi também convidado por Guilherme Arantes para acompanhá-lo em sua turnê de 25 anos de carreira, que acabou resultando num DVD comemorativo.

Foi Henrique Portugal, tecladista do Skank e sócio de Rubinho no estúdio Nosso Som, quem o estimulou a produzir artistas gospel. Acabou a fase secular, por assim dizer, com César Menotti e Fabiano. Rubinho foi diretor musical e arranjador da dupla, rodando o Brasil com 200 shows em um ano, que resultaram no DVD Retrato. Produziu o hit Ciumenta também. Na mesma época, final da década passada, começou a trabalhar com André Valadão. O divisor de águas foi o álbum e DVD Fé, de André Valadão, gravado em show que reuniu 80 mil pessoas em Vitória. Desde então, só se dedica ao gospel.

A igreja é o principal canal para o gospel. “Se você pensar que uma pessoa vai a três cultos por semana e que em cada um deles são tocadas cinco músicas, são 15 só numa semana. A gente tem muita intimidade com a música, já que não cantamos só por cantar, mas para adorar Deus. E não se canta só na igreja, mas em casa, nos pequenos grupos. A letra que se canta é uma confissão de fé, de amor, das experiências com Deus e com a família. É por isso que há essa fidelidade ao gospel.”

Galã Gui Rebustini, cantor de 26 anos com pinta de galã, é hoje um dos principais nomes do gospel brasileiro. Rubinho produziu seus dois álbuns. O primeiro foi gravado no estúdio Blackbird, em Nashville, mesmo cenário que já registrou álbuns do Pearl Jam, Rush, Kings of Leon, R.E.M., Red Hot Chilli Peppers, Bruce Springsteen, entre vários outros do primeiro time da música pop.

“A música produzida hoje é moderna, tenho feito muitos discos com forte influência na produção americana, que é fonte geradora de várias canções. No culto da minha igreja, por exemplo, tem rock e reggae, além de momentos profundos de adoração.” E quando esses têm a mão do próprio Rubinho, o culto fica ainda melhor. “Estava outro dia no Rio de Janeiro e resolvi sair do hotel e ir para uma igreja. No louvor, cantaram sete músicas. Delas, quatro eu tinha produzido. Naquele momento, senti-me um espectador privilegiado”, conclui.

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