Com pandemia, Filarmônica marca retorno para julho

Orquestra de Minas Gerais adiou 25 apresentações e projeta cumprir a temporada até fevereiro do ano que vem. Diretoria apela para evitar fuga de assinantes

Mariana Peixoto 11/04/2020 04:00
Bruna Brandão/Divulgação
Dependendo da evolução da pandemia, data da volta pode ser antecipada ou protelada: 25 apresentações adiadas (foto: Bruna Brandão/Divulgação)

Quase um mês depois de seu último concerto na Sala Minas Gerais, em 14 de março, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, por meio de comunicado, anunciou que manterá a paralisação de suas atividades até o fim de junho. “Dependendo da evolução da pandemia (da COVID-19), a data pode ser antecipada ou, até mesmo, novamente estendida”, diz a nota, assinada por Diomar Silveira, presidente do Instituto Cultural Filarmônica, e Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular.

Em números, são 25 apresentações na Sala Minas Gerais adiadas. Dezenove integram os programas das séries Presto, Allegro, Vivace, Veloce e Fora de Série. Os outros pertencem a Concertos para Juventude e Laboratório de Regência (gratuitos) e Concertos de Câmara (com formações menores de músicos, sem a presença de um regente).
 
Caso tudo ocorra dentro desse novo planejamento, o próximo concerto na Sala Minas Gerais será em 2 de julho, quando, sob a regência de Mechetti, a orquestra vai executar a Sinfonia nº 7 em lá maior, de Beethoven, que integra festival celebrando o compositor alemão nos 250 anos de seu nascimento.

A programação adiada será executada ao longo do segundo semestre. Neste rearranjo, a Filarmônica, que terminaria 2020 em 18 de dezembro, vai estender suas apresentações até 7 de fevereiro de 2021. “Até fiquei surpreso, mas a troca (de datas) foi mais ou menos tranquila. Praticamente todos os concertos das assinaturas já foram remarcados”, comenta Mechetti de sua casa em Jacksonville, na Florida. O maestro, que se divide entre Belo Horizonte e os Estados Unidos, onde vive sua família, regeu o último concerto da Filarmônica antes da paralisação.
 
Boa parte da programação conta com solistas convidados, incluindo vários estrangeiros. Mechetti já entrou em contato com os respectivos agentes e, mesmo que alguns já estivessem com a agenda comprometida, a ideia é manter o roteiro como previsto. “Estamos também na dependência dos voos internacionais. Eu mesmo não sei quando voltarei ao Brasil”, revela.
 
De acordo com ele, por ora somente o maestro finlandês Leif Segerstam, que regeria a Filarmônica em 28 e 29 de maio, não poderá vir. “Também não será possível gravar o CD do projeto Brasil em concerto (parceria com o Itamaraty e o selo Naxos, que previa, para este ano, o registro de obras do compositor carioca Lorenzo Fernandes).”
 
“As turnês estaduais estão sendo negociadas. Faremos algumas apresentações (no interior de Minas), mas não sei se será possível fazer a turnê em toda a sua extensão”, acrescenta Mechetti. Quanto a 2021, ele garante que nada será modificado. A intenção é que a Filarmônica estreie no próximo ano logo após o carnaval, em fevereiro. “Se conseguirmos voltar em julho mesmo, não haverá motivo para adiar o programa de 2021”.
 
PARADA GERAL O posicionamento da Filarmônica é semelhante ao de outras importantes orquestras do país. A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), por exemplo, anunciou em 3 de abril que deve retornar às atividades em “horizontes que variam entre 90 e 120 dias”.
Diomar Silveira afirma que a decisão de parar até o fim de junho foi feita em interlocução com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo. Desde a exoneração de Marcelo Matte, em março, a pasta está sob a responsabilidade do secretário-adjunto Bernardo Brandão Vianna. “Ele nos deu liberdade para definir a data”, diz Silveira.

Desafio é não perder fontes de arrecadação


O Instituto Filarmônica tem 150 funcionários – 90 são músicos da orquestra. Como tudo e todos, também enfrenta prejuízos diante das consequências da pandemia de coronavírus. São três as fontes de financiamento da instituição, com orçamento anual de R$ 17 milhões. O primeiro é um contrato de gestão com a Secult, que prevê, até junho, repasse de R$ 8,75 milhões. Até agora foram R$ 2,7 milhões.
 
“Com a crise, o estado não está conseguindo cumprir o cronograma. Para continuarmos pagando o salário dos funcionários, precisamos que o governo nos repasse alguma parcela”, diz Silveira. Por ora, segundo ele, os salários estão em dia. Outra fonte de recursos são os patrocínios. Cerca de 30 empresas garantem cotas que variam de R$ 2 milhões a R$ 40 mil. “Estamos negociando com cada patrocinador, mostrando que os concertos estão sendo reprogramados. Então, que não há razão para cortar patrocínio”.
 
Por fim, há a venda de ingressos, via assinatura e de forma avulsa. “Fizemos uma carta de apelo aos assinantes para não pedirem ressarcimento dos ingressos, que há um esforço de nossa parte para reprogramar as séries. Já a perda da bilheteria avulsa é grande. Em quase quatro meses de paralisação, estamos estimando prejuízo de R$ 300 mil”, acrescenta Silveira.
 
Nesse esforço de levar ao público um trabalho cuja essência está na apresentação ao vivo, a Filarmônica tem intensificado suas ações nas redes sociais. Ontem, entrou no ar em seu canal no YouTube (youtube.com/filarmonicamg) sua terceira apresentação inédita, gravada na Sala Minas Gerais: a Sinfonia nº 9, de Dvorák, a Sinfonia do Novo Mundo. Lançado há pouco, o podcast Filarmônica no ar (disponível em várias plataformas de streaming) destaca as diferentes formas musicais, também tema dos concertos do programa Fora de Série de 2020.

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