Impulsionado por Anitta e MC Fioti, consumo do funk no exterior cresceu mais de 3000%

Além da notoriedade na América Latina, o gênero tem se destacado em países da Europa e nos Estados Unidos

por Rebeca Borges* 26/06/2018 11:23
Facebook/Reprodução
No último domingo (24), Anitta estreou na Europa em show no Rock in Rio Lisboa, em Portugal. O setlist foi recheado de sucessos e a empolgação do público surpreendeu. (foto: Facebook/Reprodução)
O funk brasileiro nasceu nas favelas cariocas no fim da década de 1980, mas ganhou destaque nos anos 1990, com nomes como Claudinho & Buchecha e DJ Marlboro. Ao longo do tempo, o estilo cresceu e tomou conta de todo o país: misturou-se com outros gêneros musicais, recebeu cara nova e batida diferente. O Spotify, maior serviço de streaming musical do mundo, divulgou um levantamento sobre o crescimento do funk brasileiro no meio internacional. Entre 2016 e 2018, o consumo de playlists dessa categoria na plataforma cresceu 3.421% fora do Brasil.

Além da notoriedade na América Latina, o gênero tem se destacado em países da Europa — como Portugal e Inglaterra — e nos Estados Unidos. Em entrevista ao Correio, Roberta Pate, gerente de marketing com artistas e gravadoras do Spotify para a América Latina e Estados Unidos hispânico, explica que a internet e as plataformas de streaming são grandes auxiliadores para a disseminação do funk pelo mundo. “A partir do momento em que os serviços crescem, eles levam as músicas para mais lugares. A gente está levando a música mais longe do que ela era originalmente consumida”, explica.

BATIDA QUENTE Entretanto, Roberta Pate garante que o sucesso da batida está por trás dos próprios cantores. Ela conta que, atualmente, os funkeiros estão buscando maior profissionalização nas produções e estratégias para alcançar o público de outros continentes. “A gente vê hoje grandes escritórios de agenciamento de artistas e produtores que estão estabelecendo um outro nível para esse gênero. É o que eu tenho mais notado: a seriedade, o profissionalismo”, ressalta Roberta. Contudo, para a profissional, o segredo ainda está no ritmo inconfundível do gênero: “A batida do funk é uma coisa muito contagiante e vem sendo usada por alguns artistas internacionais. Ela vira a base da música e você pode adicionar qualquer coisa”.
 
Além disso, as parcerias entre personalidades brasileiras e músicos de outras nacionalidades estão levando o gênero para fora. Entre 2017 e 2018, parcerias como Olha a explosão remix (Kevinho part. 2 Chainz, French Montana e Nacho), Bum bum tam tam (Mc Fioti part. J Balvin, Stefflon Don, Future e Juan Magán), e Vai malandra (Anitta part. Tropkillaz, Yuri Martins, Maejor e Mc Zaac) internacionalizaram o ritmo que faz os brasileiros dançarem. “Anitta está sendo uma das pioneiras em levar o estilo musical lá para fora. É importante falar de como esses atores têm influenciado nisso”, afirma Roberta.

EXPORTAÇÃO A carioca Anitta é um dos maiores exemplos de como o funk conquistou o globo. Ela foi a primeira brasileira a conquistar o prêmio MTV EMA Worldwide Act Latin America, em 2017. Além disso, as parcerias internacionais são uma das marcas da funkeira, que já cantou com Maluma, Iggy Azalea, Diplo e Major Lazer.

No último domingo (24), Anitta se apresentou na edição portuguesa do festival Rock in Rio, em Lisboa. No Palco Mundo — em que sobem as atrações principais do evento — ela tocou e dançou sucessos como Bang, Movimento da sanfoninha e Show das poderosas para um público estimado em 85 mil pessoas.
 
 

Durante o show, a artista não escondeu a emoção ao falar sobre a carreira e sobre a dimensão que o funk brasileiro vem conquistando no mundo. “Quando comecei a cantar, ninguém acreditou que eu pudesse chegar longe. Hoje é histórico para mim e para todos os funkeiros do Brasil, que estão vendo nosso ritmo chegar tão longe”, afirmou.

Para abrir o show, Anitta subiu ao palco vestida de Carmen Miranda, ao som da música Disseram que eu voltei americanizada. A carioca fez questão de mostrar que, apesar do sucesso fora do Brasil, as raízes nacionais permanecem presentes em seu trabalho. “Eu prometi uma vez no Brasil que eu ia fazer o funk ser conhecido em outros lugares — eu sei que não fui só eu, tem muita gente incrível, mas eu estou aqui representando todos eles”, falou ao público.

O sucesso lá fora não para por aí: hoje, Anitta segue para Paris e se apresenta na arena Le Trianon. As performances internacionais continuam ao longo da semana. A carioca tem show, nesta quinta, no espaço Royal Albert Hall, em Londres, Inglaterra.
 
CRIATIVIDADE O dono do hit Bum bum tam tam é o funkeiro MC Fioti. O som animado nasceu em 2017, quando o cantor de São Paulo mesclou a clássica melodia da flauta de Bach (Partita em Lá menor, 1723), a uma batida genérica. “Utilizei a flauta de Bach, um bit clássico de funk, bem seco, e abusei do grave”, conta o MC.

A criatividade da mistura rendeu bons frutos: a faixa cresceu e tomou conta do país. Após o grande sucesso no Brasil, Fioti resolveu apostar em parcerias gringas. “Bum bum tam tam foi enviada para os maiores DJs do mundo. Toparam fazer, porém, com a batida original, da forma que eu criei”, explica o MC.
 
 
 
Assim, nasceu a parceria com os cantores J Balvin (Colômbia), Stefflon Don (Reino Unido), Future (EUA) e Juan Magán (Espanha). Juntos, os artistas transformaram Bum bum tam tam em um sucesso com trechos em inglês, espanhol e português. O áudio oficial da música, publicado no canal de Fioti no YouTube, no fim de 2017, já tem mais de 31 milhões de visualizações.

“É muito gratificante saber que a nossa música toca no Japão, China e em lugares que jamais imaginamos fora do Brasil. Nós, que viemos da periferia e que moramos na comunidade, nunca iríamos imaginar que uma música criada em casa e gravada no celular tomaria essa proporção”, ressalta Fioti. Ele conta que já tem turnê fechada em diversos países, com mais de 20 shows marcados, com início ainda em junho.
 
ESPANHOL O funkeiro carioca Nego do Borel é uma das figuras que apostaram em parcerias com personalidades de outros países recentemente. O hit Você partiu meu coração, lançado em 2017, alcançou sucesso nacional e internacional. Ainda no ano passado, a faixa ganhou uma versão em espanhol, Corazón, parceria com o cantor colombiano Maluma. O vídeo da colaboração conta com mais de um bilhão de visualizações no YouTube.
 
 

“Essa parceria foi muito importante para meu trabalho ficar conhecido lá fora. Conseguimos estar na lista da Billboard americana, ficar em primeiro lugar em várias partes da América Latina”, afirma Nego do Borel. O cantor explica que, hoje em dia, a visibilidade do gênero está maior, mas a qualidade entre os músicos do gênero sempre existiu. “Acho que sempre tivemos muita gente boa no funk brasileiro e agora não é diferente”, conta. Para o futuro, Nego do Borel pretende continuar fazendo trabalhos com artistas de outros países. “Estou fazendo aulas de inglês e em breve vocês podem ter notícias do Nego voando por aí”, garante.

Países que mais consomem funk fora do Brasil pelo Spotify

  1. Estados Unidos
  2. Portugal
  3. Argentina
  4. Paraguai
  5. Reino Unido
  6. França
  7. Chile
  8. Espanha
  9. Canadá
  10. Itália
  11. Alemanha
  12. México

Funks mais ouvidos fora do Brasil no Spotify em 2018

  1. MC Fioti – Bum bum tam tam
  2. MC Kevinho – Olha a explosão
  3. Anitta – Vai malandra (feat. Tropkillaz & DJ Yuri Martins)
  4. MC Fioti – Joga o bum bum tam tam (feat. J Balvin, Stefflon Don, Future & Juan Magán)
  5. MC Jhowzinho e MC Kadinho – Agora vai sentar
  6. Nego do Borel – Você partiu meu coração
  7. Anitta – Indecente
  8. Anitta – Paradinha
  9. MC G15 – Deu onda
  10. MC Kevinho – Rabiola

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