Chico Buarque vai contar com a 'força' do neto Chico Brown no primeiro show de 'Caravanas', em BH

Músico de 22 anos, filho de Carlinhos Brown e Helena Buarque, trocou a pré-estreia de 'Star wars' pelo 'vô Ico'

por Ana Clara Brant 13/12/2017 08:41
Leo Aversa/Divulgação
Os Chicos Buarque e Brown durante a gravação de 'Massarandupió', no Rio de Janeiro. (foto: Leo Aversa/Divulgação)

Nesta quarta-feira (13), quando Chico Buarque subir ao palco do Palácio das Artes para a estreia nacional da turnê Caravanas, um outro Chico Buarque – o de Freitas, de 22 anos – estará na plateia. Chico Brown, neto do compositor carioca e filho de Carlinhos Brown com Helena Buarque, virá prestigiar o avô. “É um fardo pesado, mas nada do que eu possa reclamar (risos). Quando era criança e faziam chamada, ficava meio com vergonha. Francisco Buarque, a associação é inevitável”, comenta o rapaz.


Chico – o Brown – explica: estava destinado a se chamar Francisco, mas não por causa do avô famoso. “Meu pai foi salvo de um afogamento por um padrinho dele que tinha esse nome. Além do meu avô, tem meu tio (o ator Chico Diaz, casado com a atriz Sílvia Buarque), e aí virei o Chiquinho”, avisa.

A primeira parceria de Chiquinho com o “vô Ico”, Massarandupió, estará no repertório de Caravanas. Ele conta que enviou a melodia por e-mail a Chico e ganhou de presente a letra quando completou 20 anos. “Quase que o arquivo não foi. Mas era pra ser. Massarandupió é uma praia baiana que eu frequentava quando pequeno, onde está enterrado o meu cordão umbilical”, explica. Carioca, o neto de Chico Buarque e Marieta Severo carrega um sotaque bem abaianado. “Morei um bom tempo em Salvador. Fico um pé lá e outro cá”, justifica.

 

A bela valsa dedicada à praia da infância está no repertório da turnê, mas Chiquinho descarta qualquer participação nos shows. “Por enquanto, vou só assistir mesmo. Quarta-feira é a final do Flamengo com o Independiente pela Sul-americana, mas o que está pesando mesmo é a pré-estreia do novo Star wars (risos). Estarei presente na estreia de Caravanas”, garante o rubro-negro, referindo-se ao filme Star wars: Os últimos jedi, que mobiliza fãs do blockbuster em todo o planeta.


Chiquinho nunca se esqueceu do primeiro show de Chico a que assistiu. Foi no Vivo Rio, em 2006, durante a turnê Carioca. “Tinha uns 11 anos. Pela primeira vez me dei conta de que aquele cara era o meu avô. Ouvir ao vivo todas as canções que já conhecia – mas ali, na voz dele. Foi uma epifania conhecê-lo como músico, como intérprete.”

 

O cinema é outra grande paixão de Chico Brown. Pequeno ele se encantava, sobretudo, com as trilhas sonoras. “Cresci ouvindo e tocando alguns clássicos. Gosto muito do John Williams, aliás o responsável pelas canções do Star wars. Tem muito filme que mais ouço do que vejo.”


Já pequenino, ele demonstrava que saíra aos seus. Com colheres de pau, batucava em tudo o que encontrava pela frente: panela, banco de madeira, bateria infantil e até nas bonecas de Marieta Severo. Aliás, essa foi uma das raríssimas ocasiões em que viu a avó sair do sério. “Acho que (as bonecas) eram de cerâmica ou porcelana. Gostava de batucar nelas, principalmente nos brincos pendurados com arames. Foi aquele esporro de vilã”, diverte-se.

Por falar em vilanias, o neto de Marieta não é muito de novela. Só de vez em quando confere as maldades de Sophia, personagem da atriz em O outro lado do paraíso, exibida pela TV Globo. “Acontece de estar num bar ou mesmo na rua e a novela passar. Mas não sou muito ligado”, diz.

Em entrevista recente sobre os temas espinhosos da trama de Walcyr Carrasco – violência contra a mulher, racismo e homofobia –, Marieta lamentou o fato de Chiquinho levar tapa de seguranças e passar por situações constrangedoras por ser negro. “A gente percebe um tratamento diferente, em algumas ocasiões, na hora de ser atendido. Esse episódio, infelizmente, realmente aconteceu. Já tomei uns tapas, não me lembro se era de um segurança mesmo ou de um policial”, revela.

 

Chico Brown/Vídeo/Facebook
O avô e seu único neto homem no Rio de Janeiro. (foto: Chico Brown/Vídeo/Facebook)
 TIMBALADA De cara, o bebê batuqueiro chamou a atenção do pai percussionista. De vez em quando, Carlinhos Brown costumava pôr o menino para tocar na Timbalada, grupo do qual foi um dos criadores. O ouvido de Chiquinho sempre impressionou. Chico Buarque já decretou: o neto é o melhor músico da família. “Isso é meio conversa (risos)”, disfarça o rapaz.


Autoditada ao piano, Chiquinho sempre tirou música de ouvido. “A gente vai aprendendo a ouvir e a tocar. Tenho, sim, um ouvido muito bom. Tem gente que fala que tenho ouvido absoluto, mas ninguém depende disso para ser um bom músico”, pondera. Além de piano e percussão, ele toca guitarra e violão.

Há cerca de dois anos, Chico Brown formou a banda que leva seu nome em parceria com amigos da escola. O grupo mescla MPB, frevo, rock fusion, blues, samba e a sonoridade anos 1970, uma das principais referências do garoto. “Gosto muito de A matança do porco, do Milagres dos peixes (1974), disco do Milton Nascimento”, conta. Por enquanto, a banda se apresenta apenas no Rio de Janeiro. A ideia é lançar um disco autoral em breve. Paralelamente, Chiquinho participa dos grupos Nitú e 3030. Em março, tocou no Hangar 677, em Belo Horizonte. “Gostei bastante dessa experiência. A galera foi bem acolhedora. O público do 3030 é bem de rap e deu pra perceber que quem foi gostou bastante. Chegaram a filmar um solo meu de guitarra.  Adorei ver o interesse das pessoas que estavam lá”, recorda.

RAP A faceta de compositor se manifestou cedo. “Ouvia uma frase e virava letra, ou mesmo criava a música. No começo, era meio brincadeira. Quando entrei na faculdade de produção fonográfica, vi essa coisa da mixagem, a parte digital, computacional, e começou a aflorar. Porém, era mais melodia.”

O letrista surgiu depois, por volta de 2013. “A primeira letra foi sobre a aceitação de mim mesmo num suposto cenário underground do Rio ou do Brasil. Mas só fui focar mesmo na canção, a tomar vergonha na cara de escrever (risos) quando fiquei mais próximo do pessoal do 3030. O rap e a poesia me estimularam”, diz.

Com genética tão poderosa – é bisneto do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, de quem chegou a ler alguns livros, mas sem se aprofundar –, Chiquinho admite a pressão para seguir o caminho da música. “Sempre rolou aquela pergunta em tom de brincadeira, mas ao mesmo tempo sério: você vai cantar igual ao seu avô? Vai tocar igual ao seu pai?. É algo quase retórico e, ao mesmo tempo, reflexivo pra mim. Antigamente, diria que não ia querer de jeito nenhum. Mas as coisas surgiram naturalmente. Hoje, acho que meu trabalho atual, com a minha banda, vai ter que sair de alguma forma. Nem que seja um único disco”, observa.

Vez por outra, ele “tira um som” com as irmãs Leila, de 8, e Cecília Freitas, de 11. Como ele, a outra irmã, Clara, de 19, participou do disco Caravanas, cantando Dueto com o avô. “Na família da minha mãe, são três irmãs. Só tem netas, só eu de neto homem. Tenho um irmão por parte de pai. Já me acostumei a ver mulheres mandando na casa, seja a minha mãe ou a minha avó. Elas sempre assumiram mais as regras e tinham esse controle educacional, do lar. É interessante me ver no meio dessa mulherada”, conclui.

CARAVANAS

Turnê de Chico Buarque. Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. De quarta-feira (13) a sábado (16), às 21h; domingo (17), sessão extra às 18h. Só há entradas para domingo. Plateia 1: R$ 490 (inteira) e R$ 245 (meia-entrada). Plateia 2: R$ 450 (inteira) e R$ 225 (meia). Plateia superior A: R$ 380 (inteira) e R$ 190 (meia). Plateia superior B: R$ 320 (inteira) e R$ 160 (meia). À venda na bilheteria do Palácio das Artes e no site www.ingressorapido.com.br.

 

Abaixo, confira os bastidores de Massarandupió

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