Jovens comentam reação ao terem seus vídeos compartilhados por Paul McCartney

Apaixonados pelos Beatles e, em especial pelo astro que esteve em BH, os mineiros Daniela Godoy e Gabriel Maia comentam como reagiram ao ter seus vídeos vencedores de concurso do EM compartilhados pelo ídolo

por Pedro Galvão 22/10/2017 12:00
EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A.PRESS
Daniela Godoy exibe itens de sua coleção de Paul McCartney e diz que o fato de ele ter aprovado seu vídeo reacendeu sua vontade de se dedicar à música (foto: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A.PRESS)

“Estou na transição entre o surrealismo e uma rotina normal – de reuniões, teses jurídicas. É complicado sair de uma dimensão de sonho e voltar para a rotina”, diz a advogada da área de direitos humanos Daniela Godoy, de 26 anos, que mergulhou no “surrealismo” na última terça-feria. Como uma das 10 vencedoras da promoção “Desperte seu lado Paul do rock”, realizada pelo Estado de Minas e o portal UAI, ela teve o privilégio de se encontrar com o ídolo Paul McCartney, depois de assistir à passagem de som que ele fez no Mineirão, antes do show da turnê One on one na capital mineira.


Mas não parou por aí. O vídeo que a tornou vencedora do concurso, em que ela canta Oh! Darling num ônibus em movimento, foi compartilhado no perfil oficial do astro no Instagram na própria terça. No dia seguinte, a conta oficial de Paul McCartney compartilhou o vídeo de outro vencedor do concurso, o estudante de direito juiz-forano Gabriel Maia, de 22, cujo vídeo traz uma versão funkeira de A hard day’s night.

Gabriel afirma estar se acostumando a lidar com a nova vida de “sub-celebridade”, como ele mesmo define seu novo status depois de ter chamado a atenção de Paul McCartney. Daniela cresceu ao som de Beatles e Clube na Esquina. Na família Godoy, qualquer encontro, aniversário, casamento ou batizado é motivo de cantoria. O pai, Daniel, inclusive tem uma banda junto com irmãos e sobrinhos, Os Godoys, na qual Dani sempre cantava suas versões preferidas desde a infância. O quarteto de Liverpool nunca faltava no repertório. A veia musical é forte na casa. Maria Lúcia Godoy, hoje com 92 anos, reverenciada como uma das mais importantes cantoras líricas do Brasil, é a Godoy mais famosa. Ou era, antes da projeção que Paul McCartney deu à sobrinha-neta em sua conta seguida por 1,5 milhão de pessoas de todo o mundo.

JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A.PRESS e BÁRBARA MARIA/ DIVULGAÇÃO
Gabriel Maia (esq) cobre seu rosto com capa de álbum de Paul McCartney no Museu do Disco, em Juiz de Fora, onde ele vive (foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A.PRESS e BÁRBARA MARIA/ DIVULGAÇÃO )


O talento vocal e a intimidade com as melodias de McCartney foram o caminho para Daniela realizar o sonho de conhecer seu maior ídolo. “Sou fã de Beatles desde que me entendo por gente, e o Paul sempre teve um apelo diferente, desde a primeira vez que vi a foto dele em um dos vários discos que meu pai tinha. Quando vi o filme A hard day’s night, criei um amor platônico por ele, pelo charme, o humor inglês, a simpatia. Fui ouvindo a carreira solo e foi somando a tudo que eu já admirava. Sou apaixonada por música, mas Beatles e Paul têm um lugar muito especial na minha vida”, diz a advogada, cuja menor distância que havia chegado do ídolo era aquela entre o palco e a pista, nos quatro shows dele que ela havia visto antes da última terça-feira.

A oportunidade oferecida pelo Estado de Minas para quem soltasse a voz e a criatividade para encontrar o Beatle fez Dani superar algumas inseguranças. “Foi a primeira vez que compartilhei um vídeo meu cantando, sendo que eu canto desde criança. Já me apresentei em bar, teatro, festival da escola, mas nunca na internet. A vontade de encontrar o Paul me fez passar por cima disso”, diz ela, que embarcou na linha 5102, sentido Santo Antônio, acompanhada da mãe, que filmava, do pai, que tocava, e de uma réplica de brinquedo do baixo de Paul McCartney.



“PODERIA ESTAR ROUBANDO”
“Pedi permissão ao motorista. Ele gostou da ideia. Entrei e anunciei, brincando: ‘poderia estar matando, poderia estar roubando’, mas estou aqui tentando me encontrar com Paul McCartney e vou cantar para vocês. Foi ótimo! Consegui me equilibrar bem e cantar.” O resultado conquistou também a equipe de jornalistas do EM, que avaliou os mais de 400 vídeos inscritos no concurso e escolheu o vídeo de Daniela como um dos 10 melhores.

“Quase não dormi, quase não comi, fiquei num estado de choque desde a manhã do dia 15 (quando soube do resultado do concurso) até depois do show. Pensei em várias perguntas: qual era a música favorita dele, por que ele gostava de tocar no Brasil, mas, na hora, não dei conta de nada. Ele é o maior artista vivo do planeta e eu estava ali, cara a cara, tudo que consegui foi apertar a mão dele e perguntar se ele gostou do vídeo da menina cantando no ônibus. Então ele me reconheceu e cantarolou o primeiro verso de Oh! Darling. Não acreditei”, conta.

Depois que Sir Paul McCartney publicou o vídeo de Daniela em seu Instagram, mais um turbilhão de emoções tomou conta da fã. “Minha irmã, que é minha grande companheira de shows, me mostrou. Vi que meu telefone travou, por causa do excesso de notificações. Achei que era a bateria. Então ela recebeu a notícia e me mostrou. Ainda bem que eu estava sentada, à beira da grade do palco, porque senão eu ia desmaiar, acho. Fiquei um bom tempo em choque”, relata Daniela.

Mais que um momento especial para quem admira o Beatle por toda uma vida, o reconhecimento no canal do artista, onde ele compartilha imagens de bastidores das turnês, fotos antigas e até alguns momentos de lazer na companhia de amigos e da mulher, Nancy Shevell, também representam uma inspiração para a advogada-cantora. “Isso me deu o impulso que eu precisava. É simplesmente o reconhecimento do Paul McCartney. A música estava parada na minha vida, e isso me motivou a voltar a cantar. Gravei músicas que compus com meu namorado, Rodrigo, e uma demo para entregar ao Paul, junto com um CD dos Godoys. Eu vinha me dedicando muito à advocacia e deixando a música de lado. Mas o sonho de cantar vai voltar mais forte do que nunca agora”, diz Daniela.



JAPÃO Nas reações ao vídeo de Gabriel Maia, alguns fãs mais puristas dos Beatles torceram o nariz para a mistura de ritmos, mas o estudante de direito prefere se concentrar no fato de que o próprio Beatle aprovou sua versão de A hard day’s night. “Pode ter sido postado por uma equipe dele, tudo bem. Mas ele deve ter achado legal para autorizar. Fiquei muito feliz. Comentei com meus amigos que deve ter gente lá no Japão vendo meu vídeo e que agora o Paul me conhece, viu meu rosto, sabe quem sou”, celebra o jovem da Zona da Mata.

Apesar da escolha que lhe garantiu a vitória, Gabriel admite que não é fã de funk, embora não desgoste do ritmo. “Além do Paul, gosto muito do Caetano, do Jorge Benjor, do Gil e também de muitas bandas de indie rock, como Strokes e O Terno”, cita. O contato com os Beatles começou há mais de 10 anos, quando o então fã de Panic! at the Disco descobriu em uma pesquisa que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band era a principal influência do álbum Pretty. Odd., lançado pelo grupo norte-americano em 2008.

Gabriel se interessou em saber mais sobre os Bealtes e aí foi um caminho sem volta pela carreira de Paul McCartney com ou sem o quarteto de Liverpool. E passou a ter o sonho, até então distante, de um dia chegar perto do ídolo. “Sempre pensava no que eu ia fazer, no que eu ia falar. Em outros shows, já pensei em ir para a porta do hotel, mas era corrido. Tinha que escolher entre chegar cedo e garantir um bom lugar próximo do palco ou ir para o hotel sem a garantia de vê-lo. Por isso sempre optava pela fila”, explica Gabriel, que já havia visto dois shows de Paul McCartney.

Um pouco avesso às redes sociais, ele está estranhando o sucesso repentino. “Acho engraçado as pessoas começando a me seguir. Eu sou tímido, quase não posto no Instagram. Fiz esse vídeo porque queria muito ganhar o concurso. Não sou de postar nem em Facebook, nem de conversar no Whatsapp. Não sou muito conectado, mas valeu pelo meu maior sonho, que era falar com o Paul e dar uma abraço nele.”

O estudante diz se divertir também com os comentários negativos sobre seu vídeo, em geral feitos por quem não gosta de funk. “Quem tinha que gostar era o Paul e o pessoal do Estado de Minas. Então está tudo certo”, brinca.  Até a manhã de sexta-feria, as duas postagens feitas na página de Paul McCartney no Instagram somavam quase 300 mil visualizações.

Quase não dormi, quase não comi, fiquei num estado de choque desde a manhã do dia 15 (quando soube do resultado do concurso) até depois do show. Pensei em várias perguntas: qual era a música favorita dele, por que ele gostava de tocar no Brasil, mas, na hora, não dei conta de nada. Ele é o maior artista vivo do planeta e eu estava ali, cara a cara, tudo que consegui foi apertar a mão dele e perguntar se ele gostou do vídeo da menina cantando no ônibus. Então, ele me reconheceu e cantarolou o primeiro verso de Oh! Darling. Não acreditei”


DANIELA GODOY,
advogada

“Pode ter sido postado por uma equipe dele, tudo bem. Mas ele deve ter achado legal para autorizar. Fiquei muito feliz. Comentei com meus amigos que deve ter gente lá no Japão vendo meu vídeo e que agora o Paul me conhece, viu meu rosto, sabe quem sou”

 GABRIEL MAIA,
estudante de Direito

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