Com show do Racionais em BH, Edi Rock comemora nova fase do rap brasileiro

Compositor e vocalista do grupo paulistano diz que música de qualidade, ideias abertas e profissionalismo marcam produção nacional

por Ângela Faria 16/10/2015 07:00

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"O rap brasileiro tá forte", avisa Edi Rock. Ao lado de Mano Brown, Ice Blue e KL Jay, ele chega a BH nesta sexta-feira, 16, com o Racionais MCs, grupo mais importante do hip-hop nacional, para fazer show no Bailão Venda Nova. Aos 45 anos, o veterano letrista e MC saúda a geração que vem conquistando espaço na cena musical – os rappers Emicida, Criolo, o mineiro Flávio Renegado, Flora Mattos, Karol Conka, Tássia Reis, Lurdez da Luz, Projota e Rashid, entre outros.

Marcelo Pretto/Divulgação
Racionais MCs divulga seu último disco, 'Cores e valores', em turnê pelo Brasil (foto: Marcelo Pretto/Divulgação)
"Família unida esmaga boicote. Nova era/ Os pretos têm que chegar", diz o verso de Você me deve, uma das faixas de Cores e valores, último disco do Racionais. Com apenas 35 minutos, batidas pesadas e faixas curtíssimas, contraponto às quilométricas letras que fizeram a fama do grupo, o álbum trouxe novidades, ganhou elogios da crítica, mas deu um "susto" em parte dos fãs, que chiaram na internet na época do lançamento.

 

Confira cenas da turnê Cores e valores:

 

Desde janeiro, o grupo sai pelo país para defender o álbum, surgido 12 anos depois de seu último CD de inéditas, Nada como um dia após o outro dia. O repertório mescla sucessos e as novidades, que, segundo Edi, ainda estão sendo "degustadas" pelo público.

"O disco ainda está fresco", diz, lembrando que levou um bom tempo para que versos de Vida loka e Diário de um detento caíssem na boca do povo. "A gente é atual, acompanha a evolução. A raiz é a base, mas não queremos ficar presos aos anos 90 nem ficar ultrapassados", explica. Em 2016, devem sair novos clipes, além do DVD da turnê comemorativa dos 25 anos do grupo, realizada em 2014.

PACIÊNCIA

A crise econômica atrapalha, o público dos shows se reduz, mas isso não assusta o Racionais. "Toda crise passa, são parênteses na história. O momento é de ter paciência", recomenda Edi. Para ele, a presidente Dilma Rousseff deve ir até o fim de seu mandato.

 

O Racionais subiu diversas vezes no palanque do PT, mas essa participação foi menos intensa em 2014. O rapper acredita que a corrupção é fruto do jogo de interesses inerente ao poder, independentemente do partido no comando, seja PT, PMDB, PSDB ou outra legenda. "Ninguém é santo", resume o eleitor de Eduardo Jorge (PV) no primeiro turno em 2014.

Marcelo Pretto/Divulgação
O rapper Edi Rock diz que Racionais evoluiu e não quer ficar preso nos anos 60 (foto: Marcelo Pretto/Divulgação)
Mesmo que sejam afetados os programas sociais e a renda de famílias que vinham ascendendo socialmente, Edi diz que a dificuldade fortalece as pessoas. Letras de Cores e valores ressaltaram o novo momento do país, denunciando, por exemplo, o preconceito em shopping centers no Brasil do rolezinho. "Não acredito em retrocesso. As pessoas vão se conscientizar mais ainda. O importante é trabalhar por aquilo que se quer", garante.

RACISMO

Trilha sonora do povo, como diz Edi, o rap é trincheira de resistência. Graças a letras do Racionais, muitos brasileiros deixaram de ter vergonha de sua negritude, romperam o estigma de "favelado". "Não é que o país tenha deixado de ser racista, mas há um avanço real, estamos mais conscientes. É avanço de um século. Não me lembro de ter visto algo igual, só nos Estados Unidos", afirma. Ele compara as mudanças que o rap protagonizou nos anos 1990 àquelas provocadas pelo rock nos anos 1960 e 1970 e pela MPB no período da ditadura militar.

Entretanto, o rapper adverte que lutar contra o preconceito não pode ser "apenas uma moda". Ultimamente, negros brasileiros têm participado de ações exibindo o orgulho do cabelo crespo, o orgulho de seu biotipo. Edi diz que o símbolo é válido, mas pondera que a atitude não pode se limitar ao visual. "Cabelo não é o foco principal, é preciso falar de dignidade, respeito no trabalho, de justiça social. Não basta mudar só o cabelo", diz.

FUNK

Se por algum tempo o rap brasileiro parecia ter sucumbido ao funk carioca, agora ele ressurge oferecendo música de qualidade, afirma o MC. "Essa nova fase traz mente aberta, ideias evoluídas", comemora, destacando a competência das mulheres ao microfone. "O rap brasileiro está mais livre", diz, contando que tem ouvido muita coisa boa no Nordeste e no Sul do país. Ele está se abrasileirando, mais musical do que anos atrás, constata, referindo-se à incorporação de instrumentistas e bandas de apoio. Mas avisa: "O rap só não pode perder a sua característica: a batida".

Em seu disco solo, Contra nós ninguém será (2013), ele dialoga com rock, reggae e ritmos latinos. Ao lado de Seu Jorge, soltou um "rap-balada", That's my way, que faz sucesso nos shows do Racionais. São 23 faixas. Duas ficaram de fora: um blues e um samba, que Edi pensa em remixar e mandar para a internet.


NO SPOTIFY

Considerado "old school", Racionais MCs tem 6,7 milhões de fãs no Facebook – Kéfera, a vlogueira-sensação soma 4,3 milhões –, acaba de mandar sua discografia (menos Cores e valores) para o serviço de música digital Spotify, aderiu ao Instagram e ao Periscope.

 

Edi diz que a internet não apenas aproximou o grupo dos jovens do século 21, mas ajudou a romper estigmas. Primeiro, certa aura de "messias" do Racionais; depois, a imagem ligada ao crime, tema de suas letras sobre o dia a dia dos excluídos. "A comunicação está mais ampla, as pessoas nos conhecem melhor e nos veem como artistas, poetas do povo que falam para o povo", garante.

O rapper revela que sempre foi ligado em tecnologia. "Sempre gostei de novidade, de aparelho eletrônico. Com 5 anos, já estava cantando no radiogravador do meu pai", conta. Fissurado pelo Orkut, adora computador, não desgruda da máquina fotográfica e bate ponto no Instagram, mas não se considera nerd, dizendo que não estudou para tanto.

Os fãs não acreditam quando constatam que é ele próprio quem posta suas opiniões na rede, muitas vezes para corrigir distorções e mal-entendidos. "É para isso que serve a rede social: informar", defende, admitindo que "perde a linha", de vez em quando, diante de provocações mais pesadas.

O mundo virtual, a rapidez da informação e o contato físico com as pessoas na rua influenciam suas letras, aproximando o Racionais dos jovens e ajudando a esclarecer o que ele chama de missão do rap.

A "revolução tecnológica" passou também pela comunicação. Antes resistente a entrevistas e à mídia tradicional, o grupo mudou. Edi, aliás, "apanhou" muito ao divulgar seu disco solo em programas de Regina Casé e Luciano Huck, na TV Globo. Ele explica que aceita convites assim em prol da divulgação do rap, depois de muita reflexão e sabendo exatamente o que vai dizer. "Sabemos como a máquina funciona e como fazer essa máquina girar a nosso favor", resume.

RACIONAIS MCS
Bailão Venda Nova. Av. Elias Antônio Issa, 115, Venda Nova, (31) 3485-2000. Sexta-feira, 16 de outubro, às 22h. Rap. Inteira: R$ 80 (pista/1º lote) a R$ 140 (VIP/2º lote). Open bar: R$ 120 (3º lote). Ingressos: www.centraldoseventos.com.br.

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