Alvo de polêmica racista, membro da banda Fly afirma que sofre preconceito por ser ''branquelo''

Em conversa com a revista Atrevida, publicada em janeiro, Caíque Gama afirmou que tranças são ''uma salvação'' para quem tem ''cabelo ruim''

05/10/2015 17:42

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Banda Fly/Reprodução
''Racista é quem vem nas minhas fotos me chamando de branquelo, azedo'', diz Caíque Gama (foto: Banda Fly/Reprodução)
"É bonito. Para quem tem cabelo ruim é uma salvação". O comentário é de Caíque Gama, um dos membros da boyband Fly, e se refere ao uso de tranças por mulheres. A declaração dada à revista Atrevida em janeiro voltou à tona na internet neste fim de semana e colocou o trio brasileiro no centro de uma discussão sobre racismo.
 
 
Mas as palavras de Caíque Gama levantaram questionamentos de internautas que lotaram de comentários as páginas oficiais do grupo. "Sempre gostei muito da Fly... Mas vi umas coisas aí que não sei se compensa", escreveu uma fã.
 
Em uma postagem no Instagram -- que foi trancado após centenas de respostas às declarações --, o cantor escreveu mais uma vez sobre o assunto. "Racista é quem vem nas minhas fotos me chamando de branquelo, azedo. Você não conhece minha raiz, você não conhece minha família, você não sabe nada sobre minha vida. Tudo o que sabe é uma declaração mal colocada e mal interpretada”, afirmou ele nesta segunda-feira, 5.
 
Reprodução/Facebook
''Jamais imaginei que uma frase pudesse causar tanta discussão e caos'', afirmou o músico (foto: Reprodução/Facebook)
“Isso é bem mais sério do que podem imaginar. Fica aqui meu pedido de desculpas aos que se sentiram ofendidos. COM CERTEZA não era essa a intenção. Jamais imaginei que uma frase pudesse causar tanta discussão e caos", completou o músico.
 
Anteriormente, Caíque já havia desabafado sobre a polêmica no Twitter. "Que porra é essa que tá todo mundo xingando porque eu falei mal de cabelo ruim, oi? Cadê a revista que soltou isso. Tô puto. Já vem gente que não sabe nada sobre minha vida, sobre meus amigos, me chamando de racista. Lava sua boca pra falar de mim".
 
E continuou: "Nego interpreta as coisas e leva pra maldade pra ter motivo pra me xingar, ahh que preguiça, se ofendeu alguém, falei em tom de brincadeira. Eu acho lindo quem usa transa, quem assume o blackpower, se eu tivesse usaria, então cala boca e vai ser feliz. Ao invés de ficar procurar motivo pra arrumar confusão e discórdia e se sentindo "mal" por isso, vc tá sendo racista com vc mesmo". Mais tarde nesta segunda, a conta do músico no Twitter foi deletada.
Reprodução/Twitter
Entrevista saiu na edição de janeiro, mas só repercutiu neste fim de semana (foto: Reprodução/Twitter)
Elas rebatem
Com a repercussão do caso, personalidades de destaque no movimento negro entraram na discussão. Karol Conka foi uma das que opinaram via Facebook. "O que dizer dessa banda que nem conheço e já me enoja pacas? Além de racista é machista! Banda teen Fly, muleques chamando o meu, o seu, o nosso cabelo crespo lindo de RUIM. Dizendo como nós Mulheres devemos nos comportar. Menina se comporta como ela quiser e vcs calem essas bocas antes que eu use as minhas tranças pra fazer isso!", escreveu a cantora paranaense. "Enquanto houver esse tipo de coisa, não nos calaremos! Aceita nossa luta. Respeita nossa dor, completou a intérprete de Tombei, que ainda publicou vídeo mandando o rapaz se calar (veja abaixo).
 
A pesquisadora Djamila Ribeiro, que costuma denunciar machismo e racismo em sua coluna na revista Carta Capital, dedicou um texto completo às falas de Caíque. "Como negras sabemos que nossa estética é estigmatizada numa sociedade racista. Levando em consideração que mulheres negras são as que mais usam tranças, e trata-se de uma estética negra, fica evidente a piada racista", escreveu.
 
"Imaginem uma menina negra de 12 anos lendo isso? Já não bastasse a invisibilidade de meninas negras nesse tipo de revista (façam o teste e folheem uma), elas ainda reforçam estereótipos racistas e sexistas. Muitas de nós cresceram ou crescem ouvindo esse tipo de afirmação, além de raramente ver mulheres de cabelos crespos na mídia. São absurdos tanto a resposta do cantor teen como o fato de a revista publicá-la. Num mundo como o de hoje que oferece uma gama de informações sobre as questões raciais, racismo, é indesculpável a revista permitir esse tipo de abuso", acrescenta Djamila.
 
A cantora Xênia França também se pronunciou: "Muita gente ficou escandalizada com o que esse rapazinho que eu nem sei de que buraco saiu disse na revista Atrevida. Mas o que me deixa mais passada é quem edita o conteúdo dessas revistas achar normal esse tipo de pensamento/comentário racista/machista e pu-bli-car! Imaginem as adolescentes negras que já são invisibilizadas por esses veículos teens lendo essa matéria e se vendo ridicularizadas?! ...Enfim Revista de Branco agindo como Revista de Branco, registrou ela em rede social.
 
A revista Atrevida publicou nota em que garante que "não houve intenção da publicação ou dos entrevistados da banda Fly de ser preconceituosos ou machistas em suas colocações". "Entendemos que a expressão 'cabelo ruim', dita pelo cantor Caíque Gama, não é uma referência a cabelo afro, mas, sim, ao bad hair day, ou seja, aquele dia em que o cabelo acorda rebelde."
 
 


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