Culinária árabe vai de receitas tradicionais à descoberta de novos sabores

Ir a um restaurante escondido no meio da mata, em Brumadinho, é viver uma experiência que vai muito além da gastronomia sírio-libanesa

por Celina Aquino 29/05/2016 08:00
Beto Novaes/EM/D.A Press
As entradas são servidas à moda turca: o cliente escolhe na mesa o que vai acompanhar o pão árabe (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
O bistrô é árabe, mas não pense que só tem cordeiro e arroz com lentilhas. O cozinheiro Antônio Abrahão Neto, de origem síria, apresenta uma gastronomia que não está nos livros de receitas. A base dele é a experimentação, resultado da mistura entre lembranças da comida da avó, viagens aos países árabes e muito estudo. “Quero que o cliente experimente um mundo de sutilezas e surpresas, sabores e texturas, em vez de ficar limitado ao tradicional mundo árabe, que é riquíssimo, mas também está inserido na modernidade”, pontua. Localizado em Brumadinho, a cerca de 40 quilômetros de distância de Belo Horizonte, o Casa de Abrahão, que abre apenas de sexta a domingo, está sempre cheio de curiosos.

Antes de se casar, o neto de sírios não sabia cozinhar. Pela tradição, os homens apenas sentavam à mesa e comiam o que as mulheres preparavam-se. Abrahão começou servindo os filhos e os amigos, até que pediu para a mãe lhe ensinar receitas de família. “Guardei muito dos sabores da cozinha da minha avó, mas o restaurante é muito mais que isso. Descobri que o mundo árabe é muito mais que a comida sírio-libanesa, a que conhecemos como árabe no Brasil”, esclarece. “No Egito, você não vai encontrar quibe, os temperos do Marrocos são diferentes, assim como os da Tunísia. Cada lugar tem sua influência.”

Todas as cozinhas que se relacionam com o mundo árabe interessam a Abrahão. “Não temos preconceitos”, brinca. A comida judaica, por exemplo, está presente no cardápio do bistrô com o quibe vegetariano, que originalmente era preparado pelos judeus que moravam no Iraque. A receita é à base de lentilha, triguilho e legumes, os temperos e que se diferenciam da tradição árabe. Da Turquia, vem a pasta de azeitona verde ou preta, que leva estragão e endro, ervas muito usadas na culinária do país localizado entre a Europa e a Ásia. Os ingredientes são macerados em um pilão.


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Neto de sírios, Antônio Abrahão resgata tradições da família no interior de Minas (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

EXCLUSIVIDADE

O cozinheiro não deixa de oferecer os pratos árabes tradicionais, como arroz com lentilha, cafta de bandeja e quibe (cru ou frito), mas incorpora elementos da gastronomia contemporânea, e também faz a própria cozinha. Aliás, boa parte do cardápio é composta por pratos que só podem ser saboreados no restaurante de Abrahão, pois não são encontrados em livros de receitas.

Prato originalmente libanês, o makloube, que significa carne que está por cima, aparece em uma versão diferente. A receita que ele criou leva uma camada de arroz com cúrcuma, berinjela frita e no topo carne bovina com cominho e refogado de cogumelos, alcaparras e pimentões, os ingredientes “intrusos”. “É para quebrar um pouco a noção de que comida árabe é museu. A minha personalidade é de sempre renovar, não tenho medo de ousar nem de quebrar paradigmas”, defende. Outro exemplo é o cordeiro aos sete temperos com cuscuz marroquino. O prato inclui a receita tradicional do Marrocos, com damasco, pimentão e tâmara, mas o tempero do pernil de cordeiro é invenção do cozinheiro.

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