Bar do Baiano mantém 'mandamentos' do falecido dono: comida boa e ambiente familiar

Um ano depois da morte de Baiano, tudo parece continuar de acordo com a "cartilha" do fundador, que nasceu em Sergipe e chegou a BH em 1967

por Eduardo Tristão Girão 20/11/2015 09:02

 Leandro Couri/EM/D.A Press
Anselmo Andrade conta que a carne serenada é preparada como Baiano ensinou (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
José Ferreira de Andrade, o Baiano, era um sujeito que se importava com as regras. Tanto que colocou algumas delas no pequeno quadro que fica na pilastra central do Bar do Baiano, aberto por ele décadas atrás no Bairro Saudade. Não “namorar” no local é uma delas. Chegou a expulsar um político famoso por acender um charuto no salão, que é pequeno, simples e tem clima familiar. Além disso, os anos em que foi açougueiro o capacitaram a limpar meticulosamente nacos bovinos para fazer, lá mesmo, a própria carne serenada.

 

Leia mais sobre gastronomia no Blog do Girão


Um ano depois da morte de Baiano, tudo parece continuar de acordo com a “cartilha” do fundador, que nasceu em Sergipe e chegou a BH em 1967, ano em que abriu o bar. O quadro de regras continua lá e a tarefa de preparar a carne serenada foi assumida por um de seus filhos, Anselmo. O ambiente é o mesmo: cadeiras de lata, banquinhos de madeira, mesas forradas com capa plástica verde, freezer horizontal e uma televisão sobre o armário de copos. Detalhe: o bar continua sem placa (dica: a fachada é de pedra).

Não há cardápio para ler à mesa; as pedidas são listadas num daqueles velhos quadros de boteco com letras de encaixar e em papéis colados na pequena estufa de petiscos. As mãos mágicas responsáveis por manter as receitas com o gosto de outrora são também as mesmas de sempre. É que Nair, de 80 anos, viúva de Baiano, continua firme na cozinha. Ela segue preparando pimentão recheado (R$ 10, unidade), bolinho de carne (R$ 3) e salada de bacalhau com feijão de corda (R$ 20).

Clássico da casa, a paçoca de carne serenada (R$ 20) tem lá os seus segredos, ensina ela: “Frito a carne, bato no liquidificador, pico o alho, torro mais a carne e misturo farinha temperada e comum. Não precisa bater em pilão, é só misturar até ficar uniforme”. Já a carne serenada com mandioca cozida e manteiga de garrafa, outro sucesso local, é vendida no peso (cerca de R$ 20, porção). “Igual à do meu pai, não fica, mas estou tentando. Estão falando que a minha parece com a dele, isso até me emociona”, revela Anselmo.

Sem dia fixo, dona Nair ainda prepara tira-gostos fora do comum, como pastel de couve- flor, farofa de fígado de galinha e almôndega de porco. Uma questão de sorte: sobre o balcão, a família mantém produtos que recebe da roça, como ovo caipira, queijo de minas e a curiosa rapadura de banana – tudo à venda. Para beber, há vários rótulos da cervejaria mineira Inconfidentes (a partir de R$ 18, garrafa de 600ml) e marcas industrializadas a R$ 7 ou R$ 8 (garrafa do mesmo tamanho). Cachaças a partir de R$ 3 (dose).

PITANGA Aos sábados e domingos, é possível reservar mesa no quintal da casa centenária que a família mantém em frente ao bar, debaixo de pés de pitanga, manga, goiaba, ameixa e carambola – bela pedida para dias quentes e ensolarados. Num dos cantos do terreno, há outra árvore curiosa, o biri-biri, cujos frutos pequenos, verdes, crocantes e azedos podem ser experimentados. O cardápio e o atendimento ficam a cargo do próprio bar, do jeito que o Baiano ensinou.

BAR DO BAIANO

Rua Iara, 912, Saudade. (31) 3467-2945 e (31) 99174-7257. Aberto de segunda a sexta-feira, das 17h15 às 23h; sábado e domingo, das 11h às 19h.

MAIS SOBRE GASTRONOMIA