'Ator desde criancinha', Paulo Gustavo realizou sonho e divertiu o mundo

Paulo Gustavo construiu carreira brilhante como ator de teatro, cinema e TV

Ângela Faria Frederico Gandra* 04/05/2021 22:15
João Miguel Júnior/Globo
"O humor é o melhor gênero para quebrar tabus" - Paulo Gustavo (foto: João Miguel Júnior/Globo)
Nascido em família de classe média de Niterói, em 30 de outubro de 1978, Paulo Gustavo trabalhou como vendedor de loja de sapatos, morou por algum tempo com a tia em Nova York e cursou turismo, mas desistiu dessa faculdade. Sonhava ser ator de teatro. Desde cedo, aliás.
 
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Artista protagonizou filmes, peças e programas de humor e encantou o Brasil ao interpretar Dona Hermínia, em "Minha Mãe é uma Peça" (foto: Reprodução/redes sociais )

Criança, ele divertia a família ao imitar todo mundo. O garotinho ficou maravilhado ao assistir à versão de “O gato de botas”, no Tablado, de Maria Clara Machado, espaço que revolucionou o teatro infantojuvenil no país, celeiro de bons atores. “Queria estar com aquela roupa, com aquela luz. Eu queria ser aplaudido no final, queria estar atrás da cortina”, revelou Paulo.

Em 2005, aos 27 anos, Paulo se formou em teatro na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro. Durante o curso, o obstinado futuro ator cruzava de barca a Baía de Guanabara, tarde da noite, dividindo-se entre o trabalho, de dia, e as aulas. Era colega de Marcus Majella e Fábio Porchat.

Um ano antes da formatura, a primeira versão de Dona Hermínia já havia estreado numa pequena esquete de “Surto”, peça dirigida por Fernando Caruso, com participação de Samantha Schmutz, que se tornaria grande amiga de Paulo e parceira em diversos trabalhos.

Reprodução/Instagram
Desde criança, Paulo Gustavo divertia a família com imitações; a mãe, Déa Lúcia, foi uma de suas maiores inspirações (foto: Reprodução/Instagram)

FAMÍLIA - Em 2006, o ator integrou o elenco da peça “Infraturas”, ao lado de Porchat, e estreou o espetáculo “Minha mãe é uma peça”. O monólogo se baseava em sua própria família, comandada por dona Déa Lúcia.

Aos poucos, o rapaz de Niterói conquistou espaço na televisão, embora se considerasse essencialmente ator de teatro. Em 2007, ele interpretou o delegado Lupicínio no “Sítio do Picapau Amarelo” (Globo). Também participou do longa “Xuxa em O mistério de Feiurinha” (2009). Também foi o Renée no filme “Divã” (2009), estrelado por Lília Cabral, e na série televisiva homônima.

O ator e humorista buscou construir o próprio caminho na TV. Participou de episódios das séries de comédia “A diarista” e “Minha nada mole vida”, na Globo, adequados a seu perfil. Temia “se queimar” em papéis equivocados, consciente de que na ânsia de aparecer na telinha, iniciantes como ele submergiram após alguns poucos minutinhos de fama...

Paulo já chegou ao Multishow batalhando por seu espaço, assim como fez no teatro. Levou ao canal a cabo seu projeto autoral de um programa de esquetes. O sucesso de “Minha mãe é uma peça” nos palcos o credenciava.

Em 2011, estreou “220 volts”, retratando situações inusitadas e cômicas do cotidiano dos personagens Senhora dos Absurdos, Sem Noção, Maria Enfisema, Playboy e, claro, de Dona Hermínia, a mãezona. Valeu o esforço: foi um sucesso, com cinco temporadas no Multishow.

O ano de 2013 foi um marco na carreira de Paulo Gustavo, destaque do elenco da sitcom “Vai que cola”, no Multishow, enquanto estreava “Minha mãe é uma peça” nos cinemas.

Em 2014, o reality “Paulo Gustavo na estrada”, também no Multishow, acompanhou a turnê de “Minha mãe é uma peça” e da peça “Hiperativo” em teatros de todo o país. No episódio dedicado a Belo Horizonte, o ator se diverte no Instituto Inhotim, dança forró, assiste a uma peça de Renata Sorrah e até propõe casamento a Caetano Veloso em um show.

Em 2015, ele voltou à capital mineira para apresentar a adaptação teatral de “220 volts”, no Palácio das Artes, ao lado de Marcus Majella, Gil Coelho e Christian Monassa, além de seis bailarinos.

Ainda em 2015, lançou “Vai que cola – O filme”, que levou mais de 3 milhões de espectadores às salas de cinema. Em 2016, Paulo deixou a sitcom para se dedicar a outros projetos, como o programa “A vila”, no Multishow. A mineira Teuda Bara, do Grupo Galpão, fazia parte do elenco.

Na telona, Paulo participou de “Os homens são de Marte… e é pra lá que eu vou” (2014), comédia estrelada por Mônica Martelli, e da sequência “Minha vida em Marte” (2018).

Em 2019, no musical “Filho da mãe: O show”, com participação de Déa Lúcia, mãe dele, os dois cantavam e contavam casos divertidos de família. No mesmo ano, o ator participou de “Além da ilha”, série cômica sobre o sortudo Beto, que leva amigos para comemorar em alto-mar o milionário prêmio de loteria que ganhou. Porém, o grupo acaba à deriva e tem de se virar numa ilha deserta.

Divulgação/Paulo Gustavo
Paulo Gustavo rodou os teatros do país com roteiros de sucesso, como 'Minha mãe é uma peça', 'Hiperativo' e '220volts' (foto: Divulgação/Paulo Gustavo)

HUMOR - Apaixonado por seu ofício, o ator sempre defendeu o humor. “É o melhor gênero para falar, criticar ou quebrar tabus. Tenho o melhor gênero na mão para fazer isso, para falar de assuntos delicados”, comentou ele, durante uma entrevista.

Paulo explicou que o amadurecimento o fez abandonar piadas e temas que abordara no passado. Porém, não era militante do politicamente correto. “Coisas que poderia falar antes, eu não falaria mais hoje. (Em) Muita coisa (com) que brinquei há 10 anos, já não acho mais graça. Tem a consciência que a gente está ganhando cada vez mais, até por ter essas pautas que a gente vem discutindo”, contou. “Amadureci como ser humano. Vou fazendo meus trabalhos de acordo com meu jeito de ser. Não sou a mesma coisa que eu era”.

Workaholic, revelou que costumava trabalhar “exaustivamente” um texto. “Não chego ali e falo qualquer coisa. As pessoas, muitas vezes, falam: 'Ah, o Paulo Gustavo improvisa muito'. Tenho horror de improvisar. Horror”, esclareceu.

Divulgação/Paulo Gustavo
Conhecido pela sinceridade, Paulo Gustavo cobrou atenção do governo de Minas ao Palácio das Artes após apresentação em BH (foto: Divulgação/Paulo Gustavo)

BRONCA EM ZEMA - Conhecido pela sinceridade, o ator chamou a atenção, no início de 2019, ao criticar as condições do Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Depois de apresentar “Minha mãe é uma peça”, fez cobranças públicas ao recém-empossado governador mineiro Romeu Zema.

Em post no Instagram, Paulo comentou a falta de manutenção e a falha do ar-condicionado do Grande Teatro: “Espero que o novo governo dê a devida atenção para que os espaços culturais funcionem adequadamente e assim a arte continue viva.”

A oitava temporada de “Vai que cola” e a participação em “220 volts – Especial de fim de ano”, em 2020, foram os últimos trabalhos do ator.

CARREIRA

TEATRO

“Minha mãe é uma peça” (2006)
“Hiperativo” (2010)
“220 volts” (2014)
“On line” (2016)
“Filho da mãe: O show” (2019)

TV

“220 volts” (2011)
“Vai que cola” (2013)
“A vila” (2016)
“Além da ilha” (2019)

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria