

Clássico na expressão, tudo em Machado parece ser atravessado pela ambiguidade. Talvez por isso, mais de um século depois de sua morte, ele não apenas pareça moderno como desafie a compreensão da crítica e alimente a admiração de leitores em todo o mundo. Um grande autor reflete seu tempo. Os gênios criam sua posteridade.
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O retratista do Segundo Reinado foi também seu maior crítico e mais acurado intérprete de nossas mazelas. No que seria mais uma ambiguidade do escritor, o que pareceu a muitos certo distanciamento e alienação das questões sociais e políticas foi, na verdade, a invenção de um modo de expressão próprio, marcado pela ironia, originalidade e acurada leitura política, capaz de perceber o descompasso entre a realidade e as ideias que a sustentavam. Vivíamos com a carne escravista e patriarcal uma sociedade em que a liberdade só habitava a mente das elites.
O estilo do escritor é mais um exemplo da riqueza ambígua de sua presença em nossa cultura. Mesmo tendo se tornado um modelo de expressão, pela elegância e humor, o estilo machadiano parece negar o tempo todo sua própria origem. Mesmo se exprimindo prioritariamente pela ficção, tanto no romance como no conto, Machado nunca o fez por mero entretenimento.

Se o leitor do século 19 conheceu o estilista, o século 20 o filósofo e o psicólogo, ficou para o nosso tempo a grande tarefa de um olhar amplo sobre a obra do escritor. Seguindo a inspiração de Antonio Candido, as grandes provocações que emanam da obra machadiana talvez sejam a questão da identidade (e da loucura), acerca da relação entre o fato real e imaginado, sobre o sentido da ação no mundo, e em relação aos limites postos à realidade para a construção de uma sociedade mais justa e de homens mais livres. Machado de Assis tocou em todos esses temas, que parecem tão presentes no mundo de hoje, por meio de personagens como Brás Cubas, Capitu, Pestana e Bacamarte.
Machado é moderno por antecipação: pôs a linguagem acima do enredo, equilibrou imaginação e entendimento, criou uma narrativa em fractais, fez do diálogo irônico e do contato com o leitor um modo de expressão que antecipou seus pares europeus em matéria de técnica. O que é revolução na forma é ainda mais surpreendente na essência, sobretudo em seu caráter crítico das nossas usanças em política e organização social. O monarquista Machado de Assis foi nosso mais revolucionário adversário da alienação. E fez tudo isso sem sair do Rio de Janeiro. Num recanto, o mundo inteiro.
Maiores escritores brasileiros de todos os tempos
(por ordem de votação)
1) Machado de Assis, Rio de Janeiro (1839-1908)
2) Guimarães Rosa, Minas Gerais (1908-1967)
3) Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais (1902-1987)
4) Graciliano Ramos, Alagoas (1892-1953)
5) Clarice Lispector, nascida na Ucrânia, viveu em Pernambuco e no Rio de Janeiro (1920-1977)
6) João Cabral de Melo Neto, Pernambuco (1920-1999)
7) Castro Alves, Bahia (1847-1891)
8) Gregório de Matos, Bahia (1636-1696)
9) Euclides da Cunha, Rio de Janeiro (1866-1909)
10) Cecília Meireles, Rio de Janeiro (1901-1964)
11) Caio Fernando Abreu, Rio Grande do Sul (1948-1996)
12) Erico Verissimo, Rio Grande do Sul (1905-1975)
13) Gonçalves Dias, Maranhão (1823-1864)
14) Lima Barreto, Rio de Janeiro (1881-1922)
15) Nelson Rodrigues, Pernambuco (1912-1980)
16) Oswald de Andrade, São Paulo (1890-1954)
17) Cruz e Sousa, Santa Catarina (1861-1898)
18) José de Alencar, Ceará (1829-1877)
19) Manuel Bandeira, Pernambuco (1886-1968)
20) Dalton Trevisan, Paraná (1925)
21) Autran Dourado, Minas Gerais (1926-2012)
22) Hilda Hilst, São Paulo (1930-2004)
23) Lúcio Cardoso, Minas Gerais (1913-1968)
24) João Ubaldo Ribeiro, Bahia (1941)
25) Jorge de Lima, Alagoas (1895-1953)
26) José Lins do Rego, Paraíba (1901-1957)
27) Lygia Fagundes Telles, São Paulo (1923)
28) Rubem Braga, Espírito Santo (1913-1990)
29) Sousândrade, Maranhão (1832-1902)
30) Carlos Pena Filho, Pernambuco (1929-1960)
31) Mário de Andrade, São Paulo (1893-1945)
32) Moacyr Scliar, Rio Grande do Sul (1937-2011)
33) Osman Lins, Pernambuco (1924-1978)
34) Rachel de Queirós, Ceará (1910-2003)
35) Rubem Fonseca, Minas Gerais (1925)
36) Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro (1913-1980)
37) Dalcídio Jurandir, Pará (1909- 1979)
38) Hugo de Carvalho Ramos, Goiás (1895-1921)
QUEM VOTOU
Armando Antenore, redator-chefe da revista 'Bravo', SP; Audemaro Taranto, professor de literatura da PUC/MG; Afonso Borges, projeto Sempre um papo, MG; Aleilton Fonseca, professor de literatura da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA; Angelo Oswaldo, jornalista, membro da Academia Mineira de Letras, MG; Benjamin Abdala Jr., professor titular de literatura brasileira da USP, SP; Carlos Marcelo, editor-chefe do jornal Estado de Minas, MG; Cláudio Willer, jornalista e ensaísta, SP; Carlos Ribeiro, professor de jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, BA; Claudiney Ferreira, jornalista e gerente de audiovisual do Itaú Cultural, SP; Ésio Macedo Ribeiro, ensaísta e crítico literário, DF; Eneida Maria de Souza, professora emérita de literatura brasileira da UFMG; Edgard Murano, jornalista, editor da revista Metáfora, SP; Francisco Bosco, ensaísta e colunista de O Globo, RJ; Flávio Loureiro Chaves, professor de literatura brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS; Fernanda Coutinho, professora de literatura da Universidade Federal da Paraíba, PB; Ivety Walty, professora de literatura brasileira da PUC/MG; José Eduardo Gonçalves, Ofício da Palavra, MG; Jorge Pieiro, ensaísta e crítico literário, CE; João Paulo, editor de Cultura do Estado de Minas, MG; Jaime Prado Gouvêa, editor do Suplemento Literário de Minas Gerais, MG; Josélia Aguiar, jornalista e crítica literária, SP; Ligia Cademartori, doutora em teoria da literatura e ex-professora da Universidade de Brasília, DF; Lucília de Almeida Neves, professora dos cursos de pós-graduação em história e direitos humanos da Universidade de Brasília, DF; Luciana Vilas-Boas, jornalista e agente literária, RJ; Letícia Malard, professora emérita de literatura da UFMG; Leyla Perrone-Moisés, professora de literatura da Universidade de São Paulo, SP; Luci Collin, professora de literatura da Universidade Federal do Paraná, PR; Luis Augusto Fischer, professor de literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS; Lúcia Riff, agente literária, RJ; Márcia Marques de Morais, professora de literatura na PUC/MG; Maria Adélia Menegazzo, professora de teoria da literatura da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, MS; Nahima Maciel, do Correio Braziliense, DF; Ninfa Parreiras, professora de literatura da Estação das Letras/FNLIJ, RJ; Noemi Jaffe, crítica literária e professora de literatura da PUC/SP; Paulo Paniago, jornalista e professor de literatura da Universidade de Brasília, DF; Piero Eyben, professor de literatura da Universidade Federal de Brasília, DF; Paulo Goethe, do Diário de Pernambuco, PE; Raquel Naveira, professora de literatura na Universidade Anhembi-Murumbi, SP; Ronaldo Cagiano, jornalista e crítico literário, SP; Rinaldo de Fernandes, professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba, PB; Ruth Silviano Brandão, professora emérita da UFMG; Regina Zilberman, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS; Selma Caetano, curadora do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, SP; Sonia Torres, professora de literatura e língua portuguesa da Universidade Federal Fluminense, RJ; Suzana Vargas, produtora cultural da Estação das Letras, RJ; Suênio Campos de Lucena, ensaísta e crítico literário, BA; Sérgio de Sá, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, DF; Severino Francisco, do Correio Braziliense, DF; Wander Melo Miranda, professor de literatura da UFMG.
Armando Antenore, redator-chefe da revista 'Bravo', SP; Audemaro Taranto, professor de literatura da PUC/MG; Afonso Borges, projeto Sempre um papo, MG; Aleilton Fonseca, professor de literatura da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA; Angelo Oswaldo, jornalista, membro da Academia Mineira de Letras, MG; Benjamin Abdala Jr., professor titular de literatura brasileira da USP, SP; Carlos Marcelo, editor-chefe do jornal Estado de Minas, MG; Cláudio Willer, jornalista e ensaísta, SP; Carlos Ribeiro, professor de jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, BA; Claudiney Ferreira, jornalista e gerente de audiovisual do Itaú Cultural, SP; Ésio Macedo Ribeiro, ensaísta e crítico literário, DF; Eneida Maria de Souza, professora emérita de literatura brasileira da UFMG; Edgard Murano, jornalista, editor da revista Metáfora, SP; Francisco Bosco, ensaísta e colunista de O Globo, RJ; Flávio Loureiro Chaves, professor de literatura brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS; Fernanda Coutinho, professora de literatura da Universidade Federal da Paraíba, PB; Ivety Walty, professora de literatura brasileira da PUC/MG; José Eduardo Gonçalves, Ofício da Palavra, MG; Jorge Pieiro, ensaísta e crítico literário, CE; João Paulo, editor de Cultura do Estado de Minas, MG; Jaime Prado Gouvêa, editor do Suplemento Literário de Minas Gerais, MG; Josélia Aguiar, jornalista e crítica literária, SP; Ligia Cademartori, doutora em teoria da literatura e ex-professora da Universidade de Brasília, DF; Lucília de Almeida Neves, professora dos cursos de pós-graduação em história e direitos humanos da Universidade de Brasília, DF; Luciana Vilas-Boas, jornalista e agente literária, RJ; Letícia Malard, professora emérita de literatura da UFMG; Leyla Perrone-Moisés, professora de literatura da Universidade de São Paulo, SP; Luci Collin, professora de literatura da Universidade Federal do Paraná, PR; Luis Augusto Fischer, professor de literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS; Lúcia Riff, agente literária, RJ; Márcia Marques de Morais, professora de literatura na PUC/MG; Maria Adélia Menegazzo, professora de teoria da literatura da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, MS; Nahima Maciel, do Correio Braziliense, DF; Ninfa Parreiras, professora de literatura da Estação das Letras/FNLIJ, RJ; Noemi Jaffe, crítica literária e professora de literatura da PUC/SP; Paulo Paniago, jornalista e professor de literatura da Universidade de Brasília, DF; Piero Eyben, professor de literatura da Universidade Federal de Brasília, DF; Paulo Goethe, do Diário de Pernambuco, PE; Raquel Naveira, professora de literatura na Universidade Anhembi-Murumbi, SP; Ronaldo Cagiano, jornalista e crítico literário, SP; Rinaldo de Fernandes, professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba, PB; Ruth Silviano Brandão, professora emérita da UFMG; Regina Zilberman, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS; Selma Caetano, curadora do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, SP; Sonia Torres, professora de literatura e língua portuguesa da Universidade Federal Fluminense, RJ; Suzana Vargas, produtora cultural da Estação das Letras, RJ; Suênio Campos de Lucena, ensaísta e crítico literário, BA; Sérgio de Sá, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, DF; Severino Francisco, do Correio Braziliense, DF; Wander Melo Miranda, professor de literatura da UFMG.