Clichês embalam a comédia 'Tudo acaba em festa'

Estrelado por Marcos Veras, novo filme de André Pellenz brinca com estereótipos de funcionários de empresa de cosméticos, mas não decola

por Walter Felix 17/11/2018 08:00
Páprica Fotografia/Downtown Filmes/Divulgação
Rosanne Mulholland, Marcos Veras e Giovanna Lancelotti estrelam 'Tudo acaba em festa' (foto: Páprica Fotografia/Downtown Filmes/Divulgação)

Vlad (Marcos Veras) é funcionário do setor de recursos humanos da Embelex, marca de cosméticos. Destrambelhado, ele se envolve com Aline (Rosanne Mulholland), a nova secretária do chefe. A imaturidade do rapaz, que tem poucas perspectivas e mora com os pais, é empecilho à vida do casal. Quando Vlad propõe uma confraternização de fim de ano como forma de driblar a crise da empresa, o êxito da festa se torna a oportunidade de mostrar à amada que pode ser bem-sucedido e responsável.

O humor, baseado principalmente na interação entre trabalhadores de diferentes universos de uma instituição, poderia ser eficaz, não fosse o mau desenvolvimento de Tudo acaba em festa, filme de André Pellenz, em cartaz nos cinemas de BH. O diretor é responsável por Gosto se discute (2017), com Cássio Gabus Mendes e Kéfera Buchmann, e pelo sucesso Minha mãe é uma peça (2013), com Paulo Gustavo.

Logo de cara, mesmo os espectadores menos rigorosos terão dificuldade em comprar a história, dado o inconsistente ponto de partida. Até os mais ingênuos poderão intuir que a simples “festa da firma” não será capaz de mediar conflitos entre a diretoria e seus empregados, em meio à iminente demissão em massa.

Ignorando a coerência, o enredo passa a acompanhar o esforço de Vlad para convencer funcionários de todos os setores a comparecer ao evento – do marketing aos motoristas, passando pelo suporte técnico. No ambiente familiar, o protagonista se contrapõe ao gêmeo (também vivido por Veras), pedante executivo do ramo tecnológico.

Por abordar todas as repartições de uma grande empresa, a história requer elenco numeroso. O grande problema, aqui, é que vários personagens têm pouco a dizer. O longa traz ótimos atores, com talento comprovado em outros trabalhos. Porém, eles entram e saem de cena totalmente apáticos ou fora do tom. O caso mais evidente é o de Diogo Vilela, que vive o pai do protagonista, com importância ínfima na história.

Páprica Fotografia/Downtown Filmes/Divulgação
Clichês e estereótipos marcam filme de André Pellenz (foto: Páprica Fotografia/Downtown Filmes/Divulgação)
ESTAGIÁRIA Giovanna Lancelotti interpreta a caricata estagiária Priscilla, ingênua e com sotaque carregado do interior. Em uma das piores sequências, a personagem lembra que sua vida mudou depois de usar o óleo de amêndoas Embelex, que tornou liso seu cabelo rebelde. Mais tarde, a jovem ajuda os nerds do suporte técnico a se vestirem “bem” – ou seja, ignorar o próprio estilo e aderir a trajes de gala.

Clichês são recorrentes: atendentes de telemarketing só falam no gerúndio, evangélicos veem símbolos satânicos em todos os cantos e seguranças sempre são agressivos e maquiavélicos. Texto e direção não acompanham os personagens com potencial, a exemplo da gélida diretora de RH defendida por Maria Clara Gueiros, que não funciona em cena. As pouquíssimas boas piadas são mal-executadas num contexto absolutamente sem graça.

Tudo acaba em festa traz premissas razoáveis, outras terríveis, mas todas executadas sem esmero. O longa escapa de ser protótipo das piores comédias brasileiras por não descambar para o humor chulo ou para a escatologia. Porém, assim como nos enredos a que estamos habituados, um herói às avessas se vale de mentiras e armações para atingir seus objetivos. E se redime das mancadas com um discurso piegas ao final da história. Nada de novo no front.

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