Comédia sensível, 'Antes que eu me esqueça' reflete sobre o Alzheimer

Longa de Tiago Arakilian chega aos cinemas nesta quinta-feira (24) e traz José de Abreu no papel de m ex-juiz de direito, viúvo, aposentado e com sintomas da doença

por Pedro Galvão 24/05/2018 09:31

James Patrick O'Malley/Imagem/Divulgação
José de Abreu interpreta Polidoro, juiz aposentado que compra uma casa de strip tease. (foto: James Patrick O'Malley/Imagem/Divulgação)

“O grande mote do filme é fazer as pessoas saírem do seu mundo pragmático e dar atenção e amor às pessoas da nossa família que estão precisando.” Assim o próprio diretor Tiago Arakilian define Antes que eu me esqueça, que entra em cartaz nesta quinta-feira (24) nas salas brasileiras. Com José de Abreu no papel de um ex-juiz de direito, viúvo, aposentado e com sintomas de Alzheimer, o longa explora o envelhecimento de forma sensível, em uma história que mistura humor com emoção.

O olhar diferenciado de Tiago sobre a terceira idade começou na infância, quando sua mãe administrava uma casa de repouso, onde ele passava algumas tardes. “Jogava baralho e dominó com eles e me habituei, por exemplo, a ouvir a mesma história várias vezes, e observava outros detalhes deles”, relata. Anos depois, na Barra da Tijuca, ele viu um senhor que aparentava mais de 80 anos e apresentava dificuldades para caminhar, mas, ainda assim, curvava seu pescoço quando alguma mulher atravessava seu caminho.

“Óbvio que não há mais a realização do impulso pessoal e da libido, é algo que a pessoa mistura com o fato de estar vivo, de querer realizar coisas novas. Então, pensei em como é importante para a sociedade criar um espaço em que o idoso possa realizar coisas instigantes, e não apenas ficar jogando baralho.” Com essa motivação, o diretor criou o personagem central, chamado Polidoro (José de Abreu), e sua trama de reencontro com a família no fim da vida.

Preocupada com as confusões mentais do pai, Bia (Leticia Isnard) vai à Justiça pedir a interdição de seus bens e impedir judicialmente que ele viva só. O processo exige a presença de seu irmão Paulo (Danton Mello), músico que não falava com Polidoro há anos. Embora não se dessem bem, o filho discorda e argumenta que “o velho deveria viver em paz”, ainda desconhecedor da perda da lucidez do endinheirado progenitor. Por conta disso, ele é obrigado pelos oficiais de Justiça a se encontrar semanalmente com o pai, para que uma nova audiência fosse marcada futuramente.

Em meio a esse conflito familiar, Polidoro, sempre reservado e discreto, compra uma casa de strip-tease. O local se torna o cenário principal da narrativa. Ali ocorrem os encontros de Paulo com Polidoro e importantes coadjuvantes, que ajudam a construir o entendimento sobre o processo de envelhecimento, solidão e compreensão do outro. Uma turma de aposentados que passa os dias jogando dama na praça, amigos de Polidoro, se tornam clientes da casa, antes voltada para os jovens. Um deles é interpretado por Dedé Santana. Guta Stresser é Joelma, uma funcionária do bordel, responsável pelos momentos mais cômicos do filme, pelas ironias que faz sobre a relação de cada um dos outros personagens com a sexualidade. Apesar dessa ambientação, não há cenas de sexo ou nudez na comédia dramática.

Outra figura que ganha importância na tela é a promotora Maria Pia (Mariana Lima), designada para testemunhar os encontros entre Paulo e Polidoro. Solitária, extremamente formal e focada no trabalho, ela também tem sua trajetória de reconstrução emocional ao longo da história. Enquanto começa a se reconectar ao pai, que está cada vez menos lúcido, Paulo também tenta se reencontrar como pianista, pleiteando uma vaga em uma grande orquestra – o que garante uma bela trilha sonora ao filme.

Com exibições anteriores nos festivais internacionais de Santa Bárbara e Cinequest VR & Film Festival, na Califórnia, e Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, em Lisboa, Antes que eu me esqueça mostrou publicamente sua capacidade de emocionar o público na última edição do Big brother Brasil. Exibido para os integrantes do reality show, ele levou os espectadores da casa às lágrimas. “Um dos temas mais fortes é a memória. Não só a que o Polidoro está perdendo, mas também a memória afetiva familiar que os outros personagens já perderam ao longo da vida, antes de envelhecer. A filha já havia assumido uma questão pragmática na vida do pai. Paulo não consegue mais tocar uma partitura sem ler. Todos os personagens têm uma nova oportunidade de encontro, mesmo os que não são da família”, argumenta o diretor Tiago Arakilian.

 

Abaixo, confira o trailer de Antes que eu me esqueça:

 

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