Globo de Ouro foi efetivo, mas caminho é longo pela igualdade em Hollywood

Ausência de mulheres indicadas na categoria de direção chamou a atenção da edição mais feminina da história da premiação

por Pedro Antunes/Estadão Conteúdo Mariana Peixoto 09/01/2018 10:45
AFP
Atrizes que participaram do movimento 'Time's up' (foto: AFP)

Não era difícil imaginar que a noite do 75º Globo de Ouro seria delas. Mal havia entrado no palco, o apresentador Seth Meyers saiu-se com esta: “Boa-noite, senhoras e senhores que restaram.”


Meryl Streep, Emma Watson, Laura Dern e Michelle Williams, entre outras, dispensaram as companhias masculinas e surgiram de negro no tapete vermelho acompanhadas de outras mulheres, todas ativistas.

Os discursos de agradecimento, de maneira geral, falaram sobre abuso, bullying, novo tempo em Hollywood, empoderamento, etc. Mas o mais efetivo, vale dizer, foi um não discurso. Com firmeza (e sutileza), Natalie Portman deu seu recado ao apresentar, ao lado de Ron Howard, os candidatos a melhor diretor: “Todos homens”. Com poucas palavras, a atriz deixou claro que a manifestação de domingo era apenas o início de um caminho.

Guillermo del Toro (A forma da água) venceu Christopher Nolan (Dunkirk), Martin McDonagh (Três anúncios para um crime), Ridley Scott (Todo o dinheiro do mundo) e Steven Spielberg (The Post: A guerra secreta).

Diretora de Lady Bird: é hora de voar, Greta Gerwig não entrou nessa lista, embora seu longa tenha levado a estatueta de melhor filme comédia/musical. Foram ignoradas as cineastas Patty Jenkins (Mulher Maravilha), Dee Rees (Mudbound – Lágrimas sobre o Mississippi), Kathryn Bigelow (Detroit em rebelião) e Sofia Coppola (O estranho que nós amamos).

Outro momento rápido, mas bastante significativo, foi o que anunciou o ausente Geoffrey Rush. O australiano, indicado na categoria melhor ator em minissérie ou telefilme por Genius, está na lista dos acusados de assédio. Seu nome foi lido rapidamente pelos apresentadores e não se ouviu uma só palma no Teatro Dolby.

Também não era difícil imaginar que a Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood, responsável pelo Globo de Ouro, escolheria produções que dialogam com o momento atual.

Eleito melhor filme, Três anúncios para um crime, de Martin McDonagh, conta a história de uma mãe que, inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo assassinato da filha, decide chamar a atenção alugando três outdoors. Ganhou ainda outros dois troféus, incluindo o de melhor atriz para Frances McDormand.

Entre as séries, as duas principais vencedoras do Emmy também se deram bem no Globo de Ouro. Big little lies, que fala de violência doméstica, saiu com quatro prêmios. The handmaid’s tale, que recebeu dois troféus, é uma adaptação do romance homônimo de Margaret Atwood. A história mostra os EUA transformados na República de Gilead, que instaura um regime totalitário, retirando os direitos das mulheres e das minorias. O livro, dos anos 1980, voltou a ser muito lido desde a eleição de Donald Trump.

Trump, aliás, o vilão do Globo de Ouro do ano passado, foi citado em alguns discursos. O mais contundente deles o de Gary Oldman, eleito melhor ator pela impecável atuação como Winston Churchill em O destino de uma nação. “É um filme que ilustra como as palavras e ações podem mudar o destino de uma nação. E a gente precisa de mudança”, disse.


Esse midiático Globo de Ouro poderá gerar uma reação em cadeia nas próximas premiações até o Oscar, em 4 de março. Mas ele só será histórico se mudanças efetivas tomarem conta de Hollywood.

 

Vencedores do 75º Globo de Ouro 

 

Cinema

>> Melhor filme – Drama 
Três anúncios para um crime

>> Melhor atriz de filme dramático
Frances McDormand (Três anúncios para um crime)

>> Melhor ator de filme dramático
Gary Oldman (O destino 
de uma nação)

>> Melhor filme – Comédia e musical
Lady Bird: é hora de voar

>> Melhor atriz em filme de comédia ou musical
Saoirse Ronan (Lady Bird)

>> Melhor ator em filme de comédia ou musical
James Franco (Artista do desastre)

>> Melhor animação
Viva: A vida é uma festa 
(em cartaz em BH)

>> Melhor filme língua estrangeira
Em pedaços

>> Melhor atriz coadjuvante
Allison Janney (I, Tonya)

>> Melhor ator coadjuvante
Sam Rockwell (Três anúncios para um crime)

>> Melhor diretor
Guillermo del Toro (A forma da água)

>> Melhor roteiro
Três anúncios para um crime (Martin McDonagh)

>> Melhor trilha sonora
A forma da água (Alexandre Desplat)

>> Melhor canção original
This is me (O rei do show, 
em cartaz em BH)

TV

>> Melhor série dramática
The handmaid’s tale

>> Melhor atriz em série dramática
Elisabeth Moss (The handmaid’s tale)

>> Melhor ator em série dramática
Sterling K. Brown (This is us)

>> Melhor série – Musical ou comédia
The marvelous Mrs. Maisel (Amazon)

>> Melhor atriz em série de comédia ou musical
Rachel Brosnahan 
(The marvelous Mrs. Maisel)

>> Melhor ator em série de comédia ou musical
Aziz Ansari (Master of none)

>> Melhor filme para TV ou série limitada
Big little lies (HBO)

>> Melhor atriz de minissérie ou filme feito para TV
Nicole Kidman (Big little lies)

>> Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV
Laura Dern (Big little lies)

>> Melhor ator em série limitada ou filme feito para TV
Ewan McGregor (Fargo)

>> Melhor ator coadjuvante para série, minissérie ou filme feito para TV

Alexander Skarsgård (Big little lies) 

 

 

 

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