Carnaval de BH: ambulantes e artesãos buscam cifrões em meio à folia

Com o sonho de encher os bolsos, ambulantes e artesãos trocam a folia pelo trabalho sem descanso na festa de BH

Pedro Lovisi* Roger Dias 24/02/2020 06:00

Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
Os artesãos Rodrigo e Alexandra, proprietários de loja na Savassi, levaram à rua brincos de paetê para complementar (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
 

Para eles, a festa é trabalhar, garantir a alegria de todos, e, é claro, faturar. Quanto mais melhor. Mas pra isso, têm que suar e lá se vai a própria folia. Nada de participar de desfiles ou ao menos assistir aos cortejos. A hora é de garantir o sustento e complementar a renda. Bebidas, fantasias de última hora, viseiras, tudo para agradar o folião. Muito suor, cerveja para todos e bom humor para não desafinar.

No meio dos milhões de foliões que curtem os blocos, cerca de 15 mil ambulantes se credenciaram via Belotur para trabalhar no carnaval. Há ainda cerca de 1 mil artesãos, que não precisaram de licença para trabalho, já que lei municipal de 2012 libera sua atuação nos eventos públicos e privados e nas ruas da capital.

O casal Rodrigo Queiroga, de 41 anos, e Alexandra Carvalho, de 39, já trabalha com artesanato há 20 anos. Proprietários de uma loja na feira da Savassi, os dois aproveitam o carnaval para incrementar os ganhos. Eles mesmos produzem brincos de paetê vendidos ao público por R$ 15 o par, e viseiras femininas, a R$ 25 cada uma, ambos tendências do carnaval belo-horizontino, com multiplicação em grande escala dos artesãos que os produzem.

 

“Já trabalhamos com fantasias de carnaval há algum tempo e, como sobraram essas mercadorias, apostamos em vendê-las no carnaval. Vimos pelo Instagram que os brincos estão muito na moda. Imaginamos que, na terça-feira (amanhã), arrecadaremos um bom dinheiro”, confia Alexandra, que prometia andar de bloco em bloco na região central para ampliar as vendas.

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Priscila dos Santos esbarrou em lojas abertas na concorrência com seus arquinhos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

A também artesã Priscila dos Santos, de 28, investiu na venda dos tradicionais arquinhos femininos, mas não estava satisfeita com o movimento. Ela começou a trabalhar no bloco Chama o Síndico,  mas depois ia investir no Alô Abacaxi, também com trajeto na área central. “Achei que o fluxo de venda seria melhor. Mas há muitos ambulantes e lojas abertas. No domingo, normalmente as lojas não abrem, mas hoje estão cheias.”


Sidney Lopes/EM/D.A Press
Caroline Oliveira sua para vender bebidas: dinheiro para a educação dos filhos (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)

Proprietária de uma loja de eletrônicos em BH, a comerciante Caroline Oliveira, de 32, espera arrecadar mais no carnaval para investir na educação dos filhos. Pela primeira vez, ela optou por investir na compra de bebidas e refrigerantes para vender nos blocos. Segundo ela, o objetivo é embolsar pelo menos R$ 1 mil por dia líquidos. “Concorrência tem em todo lugar. Já trabalho no comércio há algum tempo e conheço bem as dificuldades. E o maior problema é aquele vendedor que joga os preços muito para baixo para acabar rápido com a mercadoria. Isso atrapalha os demais”.


Este ano, mais um empecilho para driblar: a bebida carregada em coolers pelos próprios foliões para abastecer a galera. “Eles compram cervejas e refrigerantes por atacado com preço bem abaixo do que vendemos. Então, nosso lucro fica menor”. Já a artesã Dani Moreira apostou no bloco Pena de Pavão para faturar com a venda de tiaras. No sábado, ela esteve no bloco Divina Banda e passou todo o dia em Santa Tereza, para onde voltou ontem à tarde, durante a apresentação do Românticos são Loucos.

FOLIÕES ECONÔMICOS

Se tem gente querendo trabalhar, não falta folião no outro lado da corda tentando gastar menos. Na companhia de cinco amigos, a comerciante Letícia Reis, de 21 anos, veio de Contagem com um cooler com refrigerantes, vodka e cervejas para não ter economizar. “Se fôssemos comprar tudo diretamente da mão de vendedores, gastaríamos uns R$ 250. Mas tudo o que compramos ficou um pouco mais de R$ 100. Essa economia é importante. A gente se diverte e protege o bolso”.

Igor Duarte, de 22, fez o mesmo. Morador de Divinópolis, ele está hospedado na Rua São Paulo, no Bairro Lourdes, Região Centro-Sul da capital mineira. "Para onde eu for, levo esse cooler", contou o folião, calculando um economia de R$ 100.


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Disposto a economizar quanto puder, Lucas Pimenta (E) carregou cooler improvisado de Ribeirão das Neves ao Centro-Sul de BH (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)

Nem a distância impediu Lucas Pimenta, de 18,  de tentar economizar. Morador de Ribeirão das Neves, ele chegou de ônibus a Belo Horizonte segurando um cooler e um carrinho de compras típico de feiras e sacolões. Junto com o amigo Cleiton, de 38,  também de Betim, ele acredita ter economizado mais de R$ 200. "Pegamos um objeto de cada amigo e montamos esse cooler. Aqui,a cerveja é quase R$ 8 e nós compramos por R$ 2,70."

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