O acervo do crítico literário, escritor e professor Alceu Amoroso Lima (1893-1983) conta com 32.454 cartas, entre correspondências ativas e passivas. É um dos maiores conjuntos de correspondência privados do Brasil. Professor de teoria literária de UFMG e diretor do Acervo de Escritores Mineiros da universidade, Leandro Garcia Rodrigues tem dedicado sua carreira à obra do autor.
Leia Mais
Cláudia Abreu volta ao teatro com peça sobre o caos contemporâneoComédia francesa 'Um banho de vida' mostra homens como o sexo frágil'Nós' é novo filme de terror inteligente do diretor de 'Corra!'Berenice Menegale e Eládio Pérez González são homenageados em BHTrinta anos depois de sua morte, Leminski segue como referência para o Brasil contemporâneoFilósofa Sônia Viegas, que morreu aos 45, ganha biografia escrita por ex-alunaPriyanka Chopra diz se sentir uma 'esposa terrível' por não saber cozinharPara o livro, resultado de sua pesquisa de pós-doutorado na PUC-Rio, Garcia trabalhou com um universo de 56 cartas trocadas entre os dois autores entre 1925 e 1944. O acervo do autor fluminense está no Centro Alceu Amoroso Lima pela Liberdade em sua cidade natal, Petrópolis, e o do paulista está no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da USP.
“A correspondência, para esta geração, era parte da obra. É nela que estes autores formulavam seu pensamento, funcionavam como um laboratório de criação. Quando ligavam para o Alceu, nos anos 1950, 1960, ele pedia para a pessoa desligar e escrever uma carta. Tem inclusive uma carta dele para o Murilo Mendes dizendo que, quando fosse tratar de um assunto sério, não telefonar, mas escrever”, afirma o pesquisador.
Para Garcia, as cartas entre Alceu e Mário serviram para alimentar não só a amizade, “como também a obra”.
Para o livro, o organizador trabalhou com dois blocos temáticos. “Nas décadas de 1920 e 1930, prevalece a crítica literária. Como o Alceu morava no Rio, ele, o principal crítico literário da época, mapeou as novidades. Nesta primeira fase, não há tensão entre eles. A única coisa que o Mário fala na cara do Alceu era que não entendia de poesia.”
Já a segunda fase da troca de cartas, entre o final dos anos 1930 e o início dos 1940, é mais ríspido. Em 1935, Mário de Andrade organiza o Departamento de Cultura, em São Paulo, e se torna seu diretor. “Quando Getúlio dá o golpe do Estado Novo (1937-1946), ele acusa o Mário de improbidade administrativa e coloca um interventor federal.
AGNÓSTICO
Desta maneira, Tristão de Ataíde, como principal intelectual leigo católico do país, vira alvo de Mário de Andrade. “Em 1943, 1944, Mário estava no auge da depressão e passava por uma crise existencial e religiosa. Ele falava muito mal do Alceu. Mas, por outro lado, é apenas com o Alceu que ele discute religião.”
De acordo com Garcia, havia um buraco na biografia do Mário. “Só se dizia que ele era ateu.” A correspondência com Alceu acaba lançando luzes nesta questão. “Mário teve formação católica, chegou a ser carola demais.
Trabalhando há 20 anos no acervo de Amoroso Lima, Garcia já publicou a correspondência dele com Carlos Drummond de Andrade, Frei Betto, Paulo Francis e Leonardo Boff. Até o fim deste ano deve lançar as cartas trocadas com Murilo Mendes.
UNIVERSIDADE LIVRE
Palestra e lançamento do livro Correspondência – Mário de Andrade & Alceu Amoroso Lima, organizado por Leandro Garcia. Nesta quinta (21), às 19h30, na Academia Mineira de Letras, Rua da Bahia, 1.466, Lourdes. Entrada franca.
Correspondência – Mário de Andrade & Alceu Amoroso Lima
Edusp/IEB/PUC-Rio
326 páginas
R$ 54