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Estado de Minas

Cláudia Abreu volta ao teatro com peça sobre o caos contemporâneo

Ao lado de Leandra Leal, atriz está em Pi - Panorama insana, que questiona o papel do indivíduo e a condição atual da sociedade. Peça chega a BH neste fim de semana


21/03/2019 08:30 - atualizado 21/03/2019 10:47

(foto: JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO)
(foto: JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO)


Em que estado se encontra a humanidade? Que mundo é este em que vivemos? A partir de perguntas como essas, tanto mais comuns quanto mais o cenário à nossa volta parece caótico, foi construído o espetáculo Pi – Panorama insana. A montagem, eleita o melhor espetáculo de 2018 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), chega a Belo Horizonte neste fim de semana. Serão duas sessões, sábado e domingo, no Sesc Palladium, dentro da programação do projeto Teatro em Movimento.

“Pi é quase um vômito. Ele nasce de uma necessidade imensa de ação, que, para mim, é muito forte. Não estamos no momento da reflexão, de ficar trancados num quarto lendo. Temos que discutir vivamente uns com os outros, pois este momento pede o coletivo, e não o individual”, afirma Bia Lessa, que assina a concepção e a direção do espetáculo.

Em cena, durante 80 minutos e sem deixar o palco em momento algum, estão quatro atores: Cláudia Abreu, Leandra Leal, Luiz Henrique Nogueira e Rodrigo Pandolfo. O elenco interpreta 150 personagens de diferentes nacionalidades. Às vezes há cenas conjuntas; às vezes, monólogos; às vezes ainda, momentos sem nenhuma palavra. Tudo se dá entre milhares de roupas usadas, que são utilizadas como cenário. Não há uma narrativa tradicional, com começo, meio e fim.

“O que a gente quer é fazer com que as pessoas reflitam sobre a nossa decadência, ver o que fizemos com o mundo. Fazemos isso em várias fases do ser humano, com suas alegrias e tristezas”, explica Cláudia Abreu.

A vinda a BH é uma reestreia de Pi. A montagem cumpriu temporada de dois meses em São Paulo, entre junho e julho do ano passado. Teve que ser interrompida por causa da agenda de alguns atores e só retorna agora aos palcos. Pi nasceu de uma vontade de Cláudia Abreu voltar ao teatro adulto, coisa que não fazia havia quase duas décadas.

“A primeira ideia era falar sobre os excluídos, pois queríamos trabalhar com autores contemporâneos”, conta a atriz. Na fase inicial do projeto, os atores convidaram Jô Bilac e Júlia Spadaccini para colaborar com os textos. Bia Lessa entrou em um momento posterior. “A entrada dela foi muito importante, não só por ela ser uma grande diretora, mas por ter uma visão estética e de escritura cênica. Ela ampliou a ideia de falar dos excluídos para falar de uma multidão, da raça humana”, afirma a atriz.

NORTE Bia Lessa levou para o projeto textos de Franz Kafka, Paul Auster e também de André Sant’Anna. O livro de contos O Brasil é bom (2014), de Sant’Anna, serviu como norte para a montagem. “A escritura foi construída a partir dos próprios ensaios”, conta Bia.

Pi tem início com os atores vestindo e desvestindo as roupas e se apresentando. “Tem, por exemplo, a Maria Cristina, que diz seu nome e seu CPF. Isso já é um pouco para a gente entender a maluquice que criamos. O capitalismo desenfreado e a divisão de renda completamente absurda mostram que já somos de fato um monte de CPFs e RGs”, explica Bia. A intenção, de acordo com a diretora, foi tentar criar uma individualidade. “Há momentos em que os atores passam a ser eles próprios no espetáculo e dão seu depoimento pessoal.”

Para Cláudia Abreu, a troca constante de personagens é “a grande dificuldade, mas também o grande trunfo do espetáculo. Estamos ali completamente sem defesa, sem pudor, totalmente à disposição do jogo cênico, sem descanso.” Para a atriz, trabalhar com Bia Lessa foi um reencontro. “Comecei minha carreira no teatro e poder voltar a ele com a Bia, com quem comecei (ela integrou o grupo da diretora aos 18 anos, quando fez Orlando e Viagem ao centro da Terra), e em um outro momento de vida, foi muito bom.”

 

Bia Lessa leva 'Grande sertão: veredas' para o cinema 

 

Depois das duas apresentações em Belo Horizonte, Pi segue para o Festival de Teatro de Curitiba. Bia Lessa fará “de tudo” para assistir à reestreia deste fim de semana. “Além do mais, porque esse retorno está sendo em um outro momento do Brasil e do mundo, em que o reacionarismo está galopante. Cada vez mais é necessário assistir a Pi”, diz a encenadora.

Ela não sabe se vai conseguir vir à capital mineira porque está envolvida com dois outros projetos. Atualmente, Bia edita a versão em longa-metragem do espetáculo Grande sertão: veredas. Simultaneamente, ensaia uma montagem de Macunaíma com a companhia carioca Barca dos Corações Partidos. A estreia será em maio.

Grande sertão, espetáculo-instalação criado por Bia Lessa com Caio Blat como Riobaldo, foi apresentado em três sessões lotadas no Palácio das Artes, em junho de 2018. “Foi a primeira vez que apresentamos a montagem para um público maior, de quase 2 mil pessoas (por sessão). E foi também a primeira vez em que o público tinha fone de ouvidos. Foi inesquecível, ouvimos os silêncios de 2 mil pessoas num grau de emoção e suspensão completamente diverso. Depois da primeira sessão, Caio estava aos prantos no camarim. Então, voltar a BH com esse espetáculo é uma coisa muito potente”, comenta Bia.

A montagem de Grande sertão: veredas iniciará em breve nova turnê. Belo Horizonte está em negociação, diz a diretora.

“Da mesma forma que levei para o teatro a linguagem cinematográfica, com a questão do som, fiquei com o desejo de levar para o cinema aquilo que o teatro tem de específico. Em uma entrevista, o (cineasta franco-suíco Jean Luc) Godard disse que achava que o problema do cinema era que, quando queriam falar sobre uma maçã, compravam a fruta e a filmavam. Só que o cinema tem uma lente de aumento para mostrar algo que não se vê com os olhos”, comenta.

Assim, para o cinema, Bia exclui os elementos cênicos (uma grande gaiola marcou a cenografia da montagem) que havia levado para o palco. “Filmei tudo em um estúdio completamente negro, em que não se tem referência alguma de espaço. Os atores ficam soltos no espaço. É a solidão do nada, que é muito diferente da solidão confinada no teatro.” Ela espera que, até junho, tenha finalizado o longa-metragem. 

 

PI – PANORAMA INSANA
Direção: Bia Lessa. Com Cláudia Abreu, Leandra Leal, Luiz Henrique Nogueira e Rodrigo Pandolfo. Sábado (23), às 20h, e domingo (24), às 19h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Ingressos: Plateia 1 – R$ 80 e R$ 40 (meia); Plateia 2 – R$ 70 e R$ 35 (meia); Plateia 3 – R$ 50 e R$ 25 (meia). Vendas na bilheteria e pelo site www.ingressorapido.com.br.

 


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