Mostra em BH reúne fotos raras de Frida Kahlo e Diego Rivera

Exposição na CâmeraSete, na região Central, reúne imagens feitas por amigos do casal, que teve um relacionamento conturbado

Márcia Maria Cruz
- Foto: Juan Guzmán/Divulgação
Autorretratos pintados por Frida Kahlo estampam bolsas, canecas, camisetas e fantasias de carnaval. As inconfundíveis sobrancelhas são copiadas. Flores ornando os cabelos ajudam a compor a imagem que se tornou mundialmente popular. Um dos principais nomes do surrealismo na década de 1950 (apesar de tê-lo negado em certa época de sua carreira), Frida expressou de maneira visceral o universo feminino. Ícone, dialoga com homens e mulheres de várias gerações.

O relacionamento de Frida Kahlo (1907-1954) com o muralista Diego Rivera (1996-1957) é tema da mostra de fotografia Diego e Frida: um sorriso no meio da estrada, que será aberta nesta quarta-feira (29), na CâmaraSete. “O objetivo da exposição é apresentar uma abordagem intimista da história e da vida do casal”, informa Adolfo Zepeda, cônsul do México no Rio de Janeiro.

O acervo é inédito. A maior parte das fotos não foi publicada. Foram feitas por amigos do casal – entre eles, Juan Guzmán, Manuel Alvarez Bravo, Nicolás Murray e Edward Weston.
As imagens registram as diferentes fases do relacionamento – vida, dor e morte de Frida e Diego. “São testemunhos de aspectos da história do casal, que talvez já fossem conhecidos, mas raramente têm sido revelados por meio de uma fotografia”, completa o cônsul, um dos organizadores da mostra.

Frida conheceu Diego em 1922, quando iniciou os estudos na Escola Nacional Preparatória e ele pintava o mural Criação. Casaram-se em 1929 e tiveram relacionamento bastante conturbado.

A exposição reúne 40 imagens. A seleção segue a cronologia – da infância de Diego e Frida até a morte de ambos. “A maioria das fotos veio de arquivos pessoais de amigos que faziam parte da vida do casal no México ou nos Estados Unidos”, informa Zepeda. A curadoria optou por privilegiar a importância histórica de cada momento, além de aspectos do processo artístico da dupla. O cônsul destaca que a mostra permite mergulhar na história do México.

Com 6 anos, Frida foi diagnosticada com poliomielite. No entanto, há controvérsias sobre a sequela que a menina apresentava no pé direito. Isso seria decorrência de esmagamento causado por um tronco de árvore – e não da pólio. Aos 18 anos, ela sofreu o acidente automobilístico que a afetou profundamente. No choque entre um ônibus, onde a pintora estava, com um bonde a coluna dela se quebrou em três regiões. A fratura da pélvis a impediu de ter filhos. Por toda a vida, Frida teve que lidar com complicações decorrentes desse desastre. Durante o período de convalescença, pintou os primeiros quadros.

Hayden Herrera, no livro Frida, traçou o perfil da mexicana, que morreu aos 47 anos.
Lista as características da artista: “a bravura e indomável alegria em face do sofrimento físico; a insistência na surpresa e na especificidade; seu amor peculiar pelo espetáculo como máscara para preservar a privacidade e a dignidade pessoal.”

A pintora viveu e morreu na Casa Azul, entre as ruas Londres e Allende, na Cidade do México. Dividiu boa parte de sua curta existência com Diego Rivera. Ambos tiveram diversos casos extraconjugais. A exposição mostra viagens do casal e “o caminho espinhoso” de seu relacionamento, lembra o cônsul mexicano.

“Frida e Diego, Diego e Frida foram um casal marcado pelo contínuo vai e vem”, diz Zepeda. hÁ imagens dela clicadas por Nickolas Muray, com quem manteve um romance secreto. “É o amante fotografando o casal”, adianta. Em 2012, uma das fotografias assinadas por Muray foi publicada na capa da Vogue mexicana.

VIOLÊNCIA A violência contra a mulher se revela nas pinturas de Frida, como é o caso de Umas facadinhas de nada. O quadro se baseia numa notícia de jornal que relata a agressão de uma jovem, à faca, pelo namorado bêbado. Frida se transformou em ícone feminista.

“Para compreender o significado de Frida Kahlo, é necessário colocá-la na história. Trata-se de uma mulher do início do século 20 que ocupou espaços na arte e na política do México”, diz o cônsul.

Frida e Diego eram comunistas. Ela manteve relacionamento com Leon Trotsky, que se exilou no México, onde foi assassinado.
“Voz feminina e feminista, ela estava perto do poder político e, ao mesmo tempo, abraçou as bandeiras das minorias e, principalmente, a luta de classes”, pontua Zepeda. “Foi personagem fora de seu tempo: rebelde, talentosa e influente, longe dos padrões estéticos para uma mulher daquela época. E com caráter necessário para transcender na história por sua arte e sua personalidade”, completa.

A mostra já passou por Estados Unidos, Polônia, Peru, Israel e Suécia. “Aqui, a exposição percorrerá apenas museus de Pernambuco e de Minas Gerais”, destaca o cônsul. Zepeda observa que o culto a Frida pelas jovens feministas mexicanas não é tão forte como no Brasil. “A iconografia de Frida Kahlo tem repercussão maior no exterior”, conclui.

DIEGO E FRIDA: UM SORRISO NO MEIO DA ESTRADA
Fotografia. CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais. Av. Afonso Pena, 737, Centro. Funciona de terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h. Em cartaz até 18 de fevereiro..