Substância combate efeitos de doença autoimune que provoca perda de cabelo

O mal afeta de forma igual homens e mulheres, podendo se manifestar em qualquer idade, inclusive na infância

por Correio Braziliense 07/10/2015 13:00

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Angela Christiano / Columbia University Medical Center
O couro cabeludo de um dos participantes no início do estudo e após três e seis meses de terapia: resposta positiva de nove dos 12 pacientes tratados (foto: Angela Christiano / Columbia University Medical Center)
A alopecia areata é uma doença autoimune na qual o próprio organismo ataca os folículos pilosos (estruturas na pele de onde nascem os pelos), resultando em uma perda acentuada e em curto prazo de cabelo. O mal afeta de forma igual homens e mulheres, podendo se manifestar em qualquer idade, inclusive na infância, o que a torna a segunda causa mais comum da calvície.

Pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Columbia (CUMC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, trazem agora resultados de um experimento que aumentam a esperança de que, em breve, a doença deixe de afetar a autoestima das pessoas que a desenvolvem. No estudo, 75% dos pacientes testados, que apresentavam a forma moderada ou severa da enfermidade, tiveram uma recuperação capilar significativa, depois de um tratamento com a substância ruxolitiniba — o remédio, contudo, não beneficia pessoas calvas por outros motivos.

Os primeiros estudos que apontaram o possível uso da ruxolitiniba para tratar a alopecia surgiram em 2014, com resultados positivos observados em ratos. No mesmo ano, a mesma Universidade de Columbia conduziu um teste com três homens adultos que tinham ficado calvos devido à doença, apresentando resultados animadores. Agora, o bom desempenho da droga foi repetido em um teste um pouco maior, com 12 pessoas.

“Essa é uma notícia encorajadora para pacientes que estão lidando com os efeitos físicos e emocionais dessa doença autoimune. Apesar de nosso estudo ainda ser pequeno, ele fornece evidências cruciais de que inibidores de JAK podem se tornar o primeiro tratamento para pessoas com alopecia areata”, afirma, por meio de um comunicado, Julian Mackay-Wiggan, diretora da Unidade de Pesquisa Clínica em Dermatologia da CUMC.

Em sua declaração, a médica se refere à forma como a substância testada atua no organismo. Ela é uma inibidora das enzimas da família Janus kinase (JAK), ligadas a uma série de processos inflamatórios. Segundo análises anteriores, na alopecia, essas enzimas agem sobre os folículos pilosos, fazendo com que eles fiquem adormecidos. Quando uma droga que inibe essa enzima (há outras em teste, além da ruxolitiniba) entra em ação, os folículos podem voltar a agir de forma normal. Um fator que pode acelerar a adoção da terapia é o fato de que a substância testada já ter seu uso autorizado nos Estados Unidos, por se mostrar eficaz contra a artrite reumatoide.

Doses diárias
Na nova pesquisa, publicada ontem no Journal of Clinical Investigation/Insight, os 12 pacientes selecionados apresentavam mais de 30% de perda capilar. Todos receberam, por via oral, 20mg da substância duas vezes por dia, durante três a seis meses. Depois, eles foram acompanhados por mais três meses para se verificar a duração dos resultados.

Nove dos pacientes tiveram uma recuperação de pelo menos 50% da cobertura capilar, sendo que, em sete deles, esse índice ultrapassou 95%. Quando o tratamento foi interrompido, três desses nove voluntários voltaram a apresentar perda significativa de cabelo, embora nenhum tenha voltado aos níveis de antes da terapia.

Biópsias de pele realizadas em todos os estágios da pesquisa revelaram que a resposta inflamatória dos pacientes que reagiram bem ao tratamento foi reduzida com a ação do remédio. Como os voluntários que não foram beneficiados não tinham a pele muito inflamada no começo do estudo, os pesquisadores acreditam que esse dado pode ajudar a identificar as pessoas para quem a ruxolitiniba será recomendada.

“Nós ficamos muito entusiasmados com esse uso de biomarcadores (que sinalizam a inflamação) para acompanhar a resposta de pacientes ao tratamento. Isso nos permitirá monitorar melhoras antes mesmo de o cabelo voltar a crescer”, acrescenta Angela M. Christiano, professora de genética e desenvolvimento no CUMC.

A droga foi bem tolerada por todos os participantes, sem a presença de efeitos colaterais graves, de acordo com os cientistas. As reações incluíram infecções de pele bacterianas, sintomas de alergia e níveis reduzidos de hemoglobina, mas puderam ser amenizadas com a redução das doses. “Nossa descoberta sugere que o tratamento inicial leva a uma alta taxa de remissão da doença. Mas a manutenção do tratamento pode ser necessária”, diz a doutora Mackay-Wiggan. “Mesmo que testes maiores e aleatórios sejam necessários para confirmar a segurança e a eficácia da ruxolitiniba em pessoas com alopecia areata, nossos resultados são muito encorajadores.”