Aos 21 anos, Karen Kyllesø tornou-se a pessoa mais jovem a esquiar sozinha até o Polo Sul, percorrendo 1.130 quilômetros em 54 dias através do continente mais inóspito do planeta. Com pouco menos de 1,50m de altura, a norueguesa desafia estereótipos sobre exploração polar e prova que sonhos grandiosos não conhecem idade ou estatura. Sua jornada começou aos 14 anos, quando decidiu se tornar a mulher mais jovem a esquiar pela Groenlândia.
Na Noruega, crescendo entre fogueiras, acampamentos e esquis nas montanhas, Karen ouvia histórias sobre o explorador Roald Amundsen, primeiro homem a chegar ao Polo Sul em 1911. Aos 14 anos, sete anos antes de sua expedição antártica, ela estabeleceu sua primeira meta ambiciosa: esquiar pela Groenlândia. Várias empresas de guias se recusaram a levá-la por considerá-la muito jovem, até que conheceu Lars Ebbesen, um guia polar experiente que respeitou suas ambições. Foi ele quem a apelidou de “ovo polar”, prevendo que um dia ela “chocaria” para fazer uma expedição maior sozinha.
Do sonho adolescente à preparação real
A travessia da Groenlândia aos 14 anos serviu como teste de capacidade e paixão. Durante 28 dias, enfrentou temperaturas de até -35°C e ventos tão fortes que o grupo precisou usar cordas para segurar o guia quando ele saía para remover neve das paredes da barraca. Enquanto os outros expedicionários confessavam medo extremo, Karen mantinha uma calma que ela própria considera ingênua.
Eu não estava com medo, o que acho que foi um pouco ingênuo.
Foi em seu aniversário de 15 anos que decidiu partir para a Antártida. Inicialmente, revelou os planos apenas ao pai, descrito por ela como um “grande sonhador” como ela mesma. A mãe, mais pragmática, só soube quando os preparativos já estavam avançados e percebeu que a filha já havia se decidido.
Preparação para o impossível
A expedição exigiu preparação física e mental intensa. Karen precisou aumentar seu peso corporal em 10% para conseguir puxar os suprimentos no trenó, fazendo treinamento de força intensivo, além de muito sorvete e pudim de chocolate. Por causa de sua estatura, teve dificuldades para encontrar roupas de expedição adequadas, até que uma empresa londrina confeccionou um traje sob medida.
A preparação mental envolveu conversas com ex-exploradores polares, documentários e leitura extensiva sobre o tema. Para se manter ocupada durante a viagem, seu irmão preparou uma playlist que incluía desde músicas norueguesas para festas até os Beatles.
Quanto mais eu avançava, mais eu gostava de simplesmente vivenciar o silêncio.
Cinquenta e quatro dias de resistência
A jornada de 1.130 quilômetros da Enseada de Hércules até o Polo Sul geográfico testou todos os limites de Karen. Nos dias mais difíceis, enfrentou neve fresca até os joelhos, conseguindo percorrer apenas 9,5 quilômetros em 10 horas de caminhada. Ao atingir o planalto a 2.800 metros acima do nível do mar, o ar rarefeito e frio afetou severamente seus pulmões.
Isso testou minha resistência.
Perto do fim da expedição, suas dores pulmonares e dificuldades respiratórias intensificaram-se. Durante todo o percurso, ela se manteve mentalmente focada, não se permitindo sentir muito até cruzar a linha de chegada. Quando finalmente chegou ao Polo Sul, em janeiro, experimentou uma mistura de celebração e vazio, já que sua vida havia se resumido ao planejamento deste projeto por tanto tempo.
Karen quebrou o recorde de Pierre Hedan, que tinha 26 anos quando completou a jornada em janeiro de 2024. Ao chegar ao destino, enviou a Lars Ebbesen um emoji de pintinho saindo do ovo, simbolizando que o “ovo polar” havia finalmente “chocado”. Sua conquista representa mais que um recorde pessoal: demonstra como a determinação pode superar limitações físicas e etárias, inspirando jovens a perseguirem sonhos aparentemente impossíveis antes que outros compromissos da vida adulta os impeçam de arriscar.






