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Estado de Minas

Cine Splendid, peça baseada em crime ocorrido no Paraguai, estreia hoje em BH

Coprodução entre Brasil e país vizinho conta sobre um assassinato numa sala de cinema da capital paraguaia durante a ditadura Stroessner


16/11/2017 08:00 - atualizado 16/11/2017 10:25





PABLO LAMAR/DIVULGAÇÃO(foto: PABLO LAMAR/DIVULGAÇÃO)
PABLO LAMAR/DIVULGAÇÃO (foto: PABLO LAMAR/DIVULGAÇÃO)
Em 23 de setembro de 1961, o Cine Splendid, em Assunção, capital do Paraguai, estava cheio, como costumam ser as noites de sábado numa sala de exibição. Pois exatamente dentro da sala houve um crime. Polonês informante da polícia, Pedro Prokopchuk foi morto pelo croata Batrick Kontic. O assassino também atuava para a polícia paraguaia, só que sob as ordens de outro chefe.

Esse crime, que hoje está na memória somente dos paraguaios que viveram naquele período, foi mais um dos assassinatos ocorridos durante a ditadura Stroessner (1954/1989). É esse também o mote do espetáculo Cine Splendid, que estreia nesta quinta (16) no CCBB-BH. Exemplo raro de uma coprodução teatral Brasil/Paraguai, a peça foi viabilizada com recursos do prêmio Funarte Myriam Muniz e Fundo Iberescena de Coprodução.

Cine Splendid foi idealizado pela dramaturga Sara Pinheiro, que convidou dois diretores para o projeto, nomes do cinema que costumam atuar também no teatro: o mineiro Ricardo Alves Jr. e o paraguaio radicado em BH Pablo Lamar, sócios na produtora Entrefilmes. O elenco reúne quatro atores paraguaios, que atuam pela primeira vez numa produção brasileira: Diego Mongelós, Diro Romero, Guadalupe Lobo e Natalia Santos.

O projeto teve início em maio de 2015, quando Sara passou um mês em Assunção, numa residência dramatúrgica do programa Iberescena. Na época, conheceu o livro El crimen del Cine Splendid – Stroessner, los nazis y el Paraguay de la década de 60 (2011), de Juan Marcos González García. “Nesse período, juntei mais material sobre a história. Conversei com o autor do livro e também com pessoas que viveram a ditadura paraguaia”, conta Sara. O cenário do crime e da peça não existe mais – é hoje um estacionamento na Região Central de Assunção.

VÍDEOS De volta ao Brasil e com o material em mãos, Sara, em 2016, participou do núcleo de dramaturgia C.A.S.A., com Eid Ribeiro. Escreveu uma primeira versão do texto, que, na época, teve leitura do grupo Armatrux. Já num terceiro momento do processo, quando convidou Ricardo e Pablo para dirigir a encenação, o trio foi ao Paraguai para a seleção de atores, que foi realizada à moda do cinema, por meio de vídeos.

“Foi o Pablo quem propôs este modo de seleção, em que os atores contassem, em vídeo, alguma memória ligada à ditadura. Poderia ser tanto uma história real quanto uma inventada”, conta Ricardo. Foram analisados pelo menos 50 vídeos, até que o quarteto fosse selecionado. “Está sendo um projeto incrível, mas complicado. Pois não só a gente ficou um mês lá trabalhando, quanto os atores estão aqui há dois meses ensaiando”, conta Ricardo. Diretor do longa Elon não acredita na morte (2016), ele, no teatro, dirigiu espetáculos como Sarabanda (2015), inspirado no filme homônimo lançado em 2003 por Ingmar Bergman.

Ainda que o crime seja o mote do espetáculo, o texto de Sara não explora, literalmente, o ocorrido. “Não conto aquela história. O que fiz foi pegar alguns signos para transformar numa outra narrativa, sobre o abuso do poder, ditadura. A peça traz questões da vida cotidiana de pessoas comuns que poderiam ter ido ao cinema naquele dia. Todos os personagens vivem perto do cinema”, comenta Sara. A partir da noite do crime, o espetáculo faz um deslocamento temporal, “narrando vários golpes, como o de 1964 no Brasil, o da Argentina, o do Chile.”

Os atores, além de interpretar personagens de faixas etárias distintas, também atuam como os chamados Pyragué, informantes do governo. As ações das personagens revelam a complexa relação entre conflitos familiares, pessoais e o sistema repressor.

CINEMA O texto de Cine Splendid é interpretado em espanhol – haverá legendas em português. “Os quatro atores são jovens, de 35 a 43 anos, mas com bastante experiência no Paraguai. O conjunto faz com que a peça tenha um colorido, uma estética muito própria”, avalia Ricardo Alves Jr.

Ele diz que os espetáculos que dirige trazem sempre muitos elementos cinematográficos. Cine Splendid, por exemplo, conta com a exibição de um curta. Bomba na selva do terror reúne imagens de arquivo organizadas pelo realizador Luiz Pretti. “Esse filme vai ser exibido no meio da peça, como uma das cenas”, diz Ricardo. De acordo com ele, outros elementos do cinema levados para o teatro são a luz – “que é cheia de recortes cinematográficos” – e o som, que foi feito por Pablo Lamar.

A direção conjunta foi realizada de forma bem democrática. “No Paraguai, como a gente tinha uma disponibilidade menor de tempo, acabamos dividindo o espetáculo em cenas. Cada um dirigiu metade delas, num primeiro momento. Depois, mostrávamos o que estávamos fazendo, e cada cena era ‘contaminada’ pelas ideias do outro”, conta Lamar, que, com sete anos de Brasil, vive há pelo menos quatro em Belo Horizonte.

Cine Splendid fica em cartaz até o fim de novembro, no CCBB. A produção do espetáculo está em fase final de negociação para levar a montagem para Assunção em março.


PARAGUAI NA TELONA
A difícil relação entre a vida na fronteira é tema do filme Não devore meu coração! (foto), de Felipe Bragança, previsto para estrear na próxima quinta-feira (23). No Mato Grosso do Sul, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, a trama acompanha Joca (Eduardo Macedo), garoto de 13 anos apaixonado pela menina indígena Basano La Tatuada (Adeli Benitez). Os dois, separados pelas águas do Rio Apa, vivem em meio à memória sangrenta da guerra e às diferenças entre culturas e tradições. Cauã Reymond interpreta Fernando, irmão de Joca e membro de uma gangue de motoqueiros agroboys.



CINE SPLENDID

De: Sara Pinheiro. Direção: Ricardo Alves Jr. e Pablo Lamar. Com Diego Mongelós, Diro Romero, Guadalupe Lobo e Natalia Santos. Estreia nesta quinta (16), às 19h, no Teatro 2 do CCBB (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400). Temporada de quarta a segunda, às 19h, até 27 de novembro. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).


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