O slam poetry – a batalha de poesia – lembra duelo de rap, só que sem a música. Parece até um sarau. Lembra também algumas performances cênicas. Depois de invadir as ruas do Brasil, o movimento vem ganhando os teatros. Nesta sexta-feira (27) à noite, por exemplo, o Sesc Palladium recebe a finalíssima do Campeonato Estadual de Slams de Minas Gerais.
Roberta Estrela D’Alva, fundadora do coletivo ZAP! Slam de São Paulo, compara a atividade à ágora – espaço público onde os gregos se reuniam para compartilhar ideias, filosofar, fazer assembleias e decidir questões relativas ao seu dia a dia.
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Festival Fartura dedica o fim de semana à criançada em BHBoate promove festa de halloween no metrô em BH Festas de halloween ocupam BH neste fim de semanaObras de autor de 'Em busca do tempo perdido' serão digitalizadasColetivo ZAP 18 apresenta 'Homem vazio na selva das grandes cidades'A proposta é a troca de informações de forma não acadêmica, incentivando a cidadania e a atuação coletiva. “É um erro dizer que ele dá voz. A pessoa já a tem, o slam a ajuda a ser ouvida. É um espaço onde todos podem falar, sem exclusão, de sentimentos. Ali, todos podem denunciar o racismo, o machismo e a homofobia”, enfatiza.
Do campeonato mineiro sairão três slammers para representar o estado na etapa nacional da disputa, que será realizada em São Paulo. Clubes de slam de BH, Sarzedo, Timóteo, Itabira, Uberaba, Vespasiano e Juiz de Fora se encontrarão no Sesc Palladium. O evento contará também com a participação dos paulistas Luz Ribeiro e Thiago Peixoto.
“Minas Gerais ilustra uma das cenas mais fortes do Brasil, atrás apenas do Rio e de São Paulo”, lembra Estrela D’Alva.
PALCO Na década de 1990, o slam foi criado nos Estados Unidos. Era praticado em clubes. “No Brasil, ele tomou conta das ruas e praças. Sem precisar de qualquer tipo de estrutura, permitiu que mais pessoas participassem. É uma opção grátis – e sem pré-requisitos – de lazer, reflexão e confraternização”, resume a artista, que também é apresentadora da TV Cultura de São Paulo.
Diferentemente dos duelos de rap – baseados no improviso –, os poetas levam os versos já escritos para o campeonato de slam. Geralmente, um júri seleciona os melhores e o vencedor é escolhido pela plateia.
“Temos algumas regras básicas para garantir que todos participem, mas as competições são moldadas de acordo com cada comunidade”, lembra Roberta. O Brasil conta com 100 slams. A atividade estimula a comunicação direta entre as pessoas. Dispensa celulares e computadores, tão caros à era digital.
“O ser humano precisa se comunicar. Precisa falar, ouvir e ser ouvido. Precisa do corpo a corpo, o que não é possível nas redes sociais. A poesia sai das páginas daquele livro empoeirado e ganha as ruas com o slam”, comenta Roberta.
A popularização da atividade no Brasil comprova que há forte demanda por poesia, participação e atividades coletivas. “Cada brecha é a nossa oportunidade. O movimento está crescendo, as pessoas querem que sua voz seja ouvida. Recentemente, o Rio de Janeiro assistiu ao boom das competições. O slam é uma peça fundamental para a democracia, principalmente por ser independente, sem qualquer tipo de mediação do governo”, conclui Roberta Estrela D’Alva.
CAMPEONATO DE SLAMS DE MINAS GERAIS
Etapa final. Sexta-feira (27), às 19h30. Grande Teatro Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Entrada franca.