A suburbana Gilda sai da periferia do Brasil para brilhar em Berlim

Karine Teles protagoniza a primeira minissérie nacional selecionada para o festival alemão. Atração pode ser conferida no Globoplay e no Canal Brasil

Mariana Peixoto 29/01/2021 04:00
CANAL BRASIL/DIVULGAÇÃO
Karine Teles interpreta a mulher libertária que enfrenta evangélicos e milícias (foto: CANAL BRASIL/DIVULGAÇÃO)
Uma das coisas positivas de seleções e premiações é a visibilidade. Não fosse pela indicação ao Berlinale Series, grade dedicada à produção de séries do Festival de Cinema de Berlim, Os últimos dias de Gilda, produção do Canal Brasil lançada em novembro, poderia continuar como estava, como mais uma oferta no extenso catálogo da Globoplay.

Pois o anúncio, nesta semana, de que a minissérie de Gustavo Pizzi está entre as seis produções mundiais que participam do evento, de 1º a 5 de março – pela primeira vez a seleção contempla conteúdo produzido na América Latina –, deu novo fôlego a ela. O Canal Brasil reapresenta a minissérie nesta sexta (29/1) e a Globoplay a disponibiliza para não assinantes até a próxima terça-feira (2/2).

PALCO

A gênese de Os últimos dias de Gilda é o teatro. Nasceu a partir do texto homônimo do carioca Rodrigo de Roure, já encenado nos palcos e publicado em livro. Pizzi e Karine Teles (que interpreta o papel-título) também fizeram o roteiro da minissérie – o ex-casal dividiu as mesmas funções no longa Benzinho (2018).

Gilda é uma mulher livre. Vive sozinha em uma casa numa comunidade carioca. Cria galinhas e porcos, que abate para vender. É esse seu ganha-pão. Boa de copo e de garfo, também é exímia cozinheira. Delicia seus namorados, que frequentam sua casa para tardes e noites tórridas. Não é monogâmica e nem exige que sejam com ela. Mulheres, de vez em quando. Mantém sua força no trabalho, na crença nos amigos e no terreiro que frequenta. É fiel  às suas ideias de família e àqueles que lhe são caros.

Só que o mundo ao redor está começando a mudar, e não é para melhor. Um vizinho, Ismael (Igor Campagnaro), está se candidatando a um cargo público por meio de um partido ligado a um grupo religioso. Insiste para que Gilda o apoie, o que ela se nega, incomodando ainda mais a mulher de Ismael, Cacilda (Júlia Stockler). A chegada da milícia à comunidade vai atingir em cheio Gilda e o grupo que a cerca.

O enredo da minissérie é simples, forte e muito crítico da atualidade. Trata do papel da mulher nos dias de hoje, do avanço das igrejas neopentecostais e do perigo que representa a aproximação do poder público da religião. O que faz de Os últimos dias de Gilda uma produção fora da curva é o seu tratamento.

Pizzi e Teles não negam a veia teatral do texto. Pelo contrário. Em meio a sequências realistas, frases são destacadas na tela, a protagonista surge em fundo negro recitando receitas culinárias (uma simples receita de bobó de camarão acaba ganhando outra conotação).

ORIGINAL

Ainda que consigamos imaginar o destino da personagem, somos sempre surpreendidos pela maneira como a narrativa é contada. É um ganho e tanto. Karine Teles preenche a tela o tempo inteiro, fazendo de Gilda, mulher enganosamente comum, uma figura totalmente original.

Os últimos dias de Gilda não está sozinha na Berlinale Series. A produção argentina Entre homens, minissérie em quatro episódios, é a segunda produção latina a participar do evento. Baseada no romance de Germán Maggiori, a produção da HBO é ambientada no submundo do crime da Buenos Aires da década de 1990. Foi exibida no Brasil no início de 2020.

OS ÚLTIMOS DIAS DE GILDA
•A minissérie em quatro episódios está disponível na Globoplay até terça (2/2), aberta para não assinantes. Nesta sexta (29/1), será exibida, integralmente, a partir das 23h15, no Canal Brasil

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