Reprise de Fina estampa gera polêmicas e debates nas redes sociais

Novela de Aguinaldo Silva é alvo de questionamentos sobre temas retratados no folhetim, como homossexualismo e violência doméstica

Fernanda Gomes* 16/08/2020 04:00
João Miguel Júnior/GLOBO
Aguinaldo Silva (D) na estreia de Fina estampa com Wolf Maya (Álvaro) e a protagonista Lilia Cabral (Griselda): autor alfinetou e rebateu Marco Pigossi nas redes sociais (foto: João Miguel Júnior/GLOBO)
Fina estampa, que está sendo reprisada pela Globo em horário nobre, às 21h, vem dando o que falar nas redes sociais. A confusão começou após Marco Pigossi, de 31 anos, afirmar, durante entrevista ao vivo para o canal GNT, que tem vergonha de ter participado da produção.
 
“Essa novela deveria ser proibida de reprisar, porque são tantas barbaridades. Você passar uma novela dessa hoje é uma loucura”, disse Pigossi durante a live. O ator também criticou sua atuação no folhetim de Aguinaldo Silva e sobrou até para as mechas loiras que usava em seu personagem Rafael.

Apesar das críticas de Pigossi, Fina estampa é sucesso de audiência, inclusive batendo recordes pontuais. Portanto, os comentários não foram bem recebidos pelos fãs da novela e por Aguinaldo Silva, de 77, autor da trama.
 
O dramaturgo não deixou por menos e usou o Twitter para alfinetar a postura de Pigossi. “Um ator diz que Fina estampa 'devia ser proibida de ser reprisada'. Acho que ele quis dizer que os 50 milhões de espectadores que a veem deviam ser proibidos de gostar tanto da reprise da novela. E eu, que vivi os tempos da censura, achando que finalmente era proibido proibir…”, disse em seu post.

Não satisfeito, Aguinaldo Silva continuou as postagens na rede social: “Aliás, deixem que lhes diga uma coisa: quando um artista que se considera libertário diz que o trabalho de mais de 150 pessoas que vivem das artes como ele devia ser proibido... Bem, alguma coisa está errada”. O dramaturgo ainda voltou ao assunto ao afirmar que as lives estão sendo outro tipo de pandemia que a população está enfrentando. “Para a primeira (COVID-19), infelizmente ainda não temos uma vacina. Já para a segunda (lives), o tratamento é bem mais simples: desliga!”.

Zeca Guimarães/Globo
Falta de punição a Baltazar (Alexandre Nero), que agride constantemente a mulher, Celeste (Dira Paes), é um dos questionamentos da trama (foto: Zeca Guimarães/Globo)

Em uma das postagens, Aguinaldo também ressaltou que aceita críticas, contando que não sejam relativas à sua vida pessoal. “O que não aceito é que alguém, ainda mais um artista que se considera 'libertário', se manifeste a favor da censura, ou seja, de tudo de autoritário e fascista que existe por trás dela”.

Pigossi, até o fechamento desta edição, não havia se manifestado sobre os comentários feitos por Aguinaldo Silva.  O ator, porém, fez postagem no Twitter de um vídeo intitulado “Palavras tiradas de contexto e jogadas ao vento durante uma pandemia”, no qual usou, entre outras, as hashtags #ApoieOJornalismoSerio e a  #AForcaDoQuererVoltaEmBreve". Vale ressaltar que ele atuou como Zeca na trama global A força do querer.

Aguinaldo teve seu contrato com a Globo rescindido em março e afirmou em postagens em suas redes sociais que não vai parar de escrever e que pretende lançar novas produções. Já Pigossi, além da reprise de Fina estampa,  está no elenco da série Alto mar, lançada pela Netflix em 2019.  A trama espanhola acompanha a rotina dos passageiros de um transatlântico que viaja da Espanha para o Brasil. Durante o trajeto, vários assassinatos começam a ocorrer, o que faz com que todos os tripulantes se tornem suspeitos.

Fina estampa foi exibida pela primeira vez na Globo em 2011. No folhetim, Pigossi, que dá vida a Rafael, é um homem de caráter duvidoso que trabalha para Juan Guilherme (Carlos Casagrande) como gerente da Fashion Moto. Depois de conhecer Amália (Sophie Charlotte), filha da protagonista Griselda (Lilia Cabral), ele decide conquistar o coração da moça. Apesar das tramas secundárias, como a de Rafael e Amália, a história da novela gira em torno dos desafios enfrentados pela batalhadora Griselda, que teve sua vida mudada depois de ganhar R$ 30 milhões na loteria.

João Miguel Júnior/globo
Mesmo com o sucesso do personagem, comportamento e submissão do mordomo Crô (Marcelo Serrado) à patroa Tereza Cristina (Christiane Torloni) são alvos de críticas (foto: João Miguel Júnior/globo)

QUESTIONAMENTOS Depois de os comentários de Aguinaldo e Pigossi repercutirem nas redes sociais, internautas começaram a publicar suas opiniões tanto positivas quanto negativas sobre a trama. Questionamentos sobre se temas retratados na novela – homossexualidade, preconceito, miséria e violência doméstica – foram abordados de forma correta geraram “debates” nas redes sociais. Mesmo com a edição durante a reprise, muitas das polêmicas ainda estão sendo mantidas.

O mordomo Crô (Marcelo Serrado) é um dos personagens mais queridos pelo público e também alvo de divergências. Um dos questionamentos é o fato de o personagem homossexual ter sido construído de forma caricata, como uma pessoa escandalosa, passiva e que está sempre feliz. Crô é constantemente maltratado e humilhado pela patroa, Tereza Cristina (Christiane Torloni). Mesmo assim, confere a ela apelidos como Rainha do Nilo, Filha de Osíris, Pitonisa de Tebas e Divina Ísis.

Já Baltazar, personagem de Alexandre Nero, motorista de Tereza Cristina, é retratado como um homem trabalhador e discreto, mas extremamente violento dentro de casa, especialmente com a esposa Celeste (Dira Paes), que constantemente é agredida. No decorrer da trama, Baltazar acaba não sendo condenado pelas agressões que cometia.  É por essas e outras polêmicas que Fina estampa faz tanto burburinho nas redes sociais.

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro


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