'Cara gente branca' expõe tensão racial e faz lembrar polêmica com Fabiana Cozza

Cantora e atriz renunciou ao papel de Dona Ivone Lara em peça após ser acusada de ser 'branca demais' por setores do movimento negro

por Ângela Faria 15/06/2018 09:30

Netflix/Divulgação
Sam (Logan Browning) e Coco (Antoinette Robertson): bate-boca em Winchester. (foto: Netflix/Divulgação)

– Usar seu programa de rádio para difamar mulheres negras faz parte da revolução? – pergunta Coco.
– Se trouxer verdade às massas, sim. Difamo quem precisa – reage Sam.
– Imagine a reação se sua revolução idiota viesse da boca de uma mulher negra de verdade – provoca Coco.
– Negra de verdade? – ironiza Sam.
– Você se safa por ser mais parecida com eles do que eu. É o privilégio da pele clara. Até reconhecer isso, não fale de quem está “acordado” (consciente) ou não – dispara Coco.

Produção da Netflix, Dear white people (Cara gente branca) expõe a tensão racial na universidade americana de Winchester, onde jovens negros e brancos dividem salas de aula, refeitórios, festas e camas. O “arranca-rabo” acima, entre Colandrea (Antoinette Robertson) e Samantha (Logan Browning), faz lembrar o recente episódio ocorrido no Brasil, em que a cantora Fabiana Cozza renunciou ao convite para interpretar Dona Ivone Lara numa peça, acusada de ser “branca demais” por setores do movimento negro.

Coco é a chamada “preta retinta”. Samantha é mestiça de olhos claros. Afrodescendentes, as ex-amigas agora vivem às turras. Sam decidiu bater de frente com o sistema, sobretudo em seu programa de rádio. Coco negocia, quer subir na vida. Conhece de perto a realidade do gueto. Não vê futuro no radicalismo da outra, garota de classe média.

Com humor, sarcasmo e alguma dose de drama, Cara gente branca discute questões pertinentes ao Brasil de Fabiana Cozza e Dona Ivone. Estão lá o colorismo (quanto mais pigmentada a pele, maior a discriminação), a solidão da mulher negra, o machismo e o ódio racial.

O “bicho pega” tanto entre brancos e negros quanto entre os próprios negros. Uma dica: não perca o quinto episódio da primeira temporada, em que o rebelde Reggie (Marque Richardson) é obrigado a se humilhar sob a mira do revólver de um policial branco.

Perturbadoramente familiar a nós, brasileiros, esse capítulo é dirigido por Barry Jenkins, vencedor do Oscar 2017 com Moonlight – o filmaço que subverteu clichês hollywoodianos a respeito do ódio racial.

 

Abaixo, confira o trailer da 2ª temporada de Cara gente branca

 

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