Produções nacionais ganham versões em diferentes linguagens

Sucesso de personagens e histórias provoca onda de adaptações alternando entre livros, espetáculos de teatro, longas no cinema e séries para a TV

por Ana Clara Brant 04/04/2018 08:00
Lívio Campos/Divulgação
Lívio Campos/Divulgação (foto: Lívio Campos/Divulgação)
Orgulho e preconceito, Emma e Razão e sensibilidade são clássicos da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817) que se transformaram em filmes de grande repercussão. Agora, essas obras servem de inspiração para o autor e cineasta Marcos Bernstein escrever a novela das 18h, Orgulho e paixão, que estreou em 20 de março na TV Globo e tem tido grande aceitação de público e crítica. Adaptar livros para o cinema ou para a televisão sempre foi uma prática comum. E o caminho inverso também pode acontecer, provando que uma mesma obra pode ter vários formatos e mesmo assim ter êxito.

Em 2005, uma amiga da atriz Mônica Martelli comentou com ela que havia acabado de ler o livro Os homens são de Marte, mulheres são de Vênus, do escritor norte-americano John Gray. “Na mesma hora, falei: se os homens são de Marte, é pra lá que eu vou”, recorda. Foi assim que nasceu sua empreitada de maior sucesso, Os homens são de Marte e é pra lá que eu vou. Criada como peça de teatro – ficou 11 anos em cartaz e foi vista por mais de 2 milhões de pessoas em várias cidades –, virou seriado no GNT, vai para a quarta temporada; e ganhou versão para o cinema. “Costumo dizer que minha carreira se resume a antes e depois desse projeto. Ele mudou a minha vida. Eu já estava batalhando há tanto tempo, e as coisas não aconteciam, e quando escrevi o monólogo veio a guinada”, relata Mônica.

Fernanda, a personagem criada pela atriz, continua fazendo sucesso e acaba de ganhar uma continuação, Minha vida em Marte, espetáculo que vai ser encenado em 14 e 15 de abril, no Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte. A mesma história vai ser contada no cinema no filme Os homens são de Marte e é pra lá que eu vou 2, que estreia em dezembro. A atriz atribui o sucesso à verdade contida no texto. “Tudo que eu passei ou passo, como minhas angústias, minhas expectativas, alegrias e tristezas, eu coloco no texto, seja no teatro, na TV ou no cinema. Escrevo o que estou vivendo e, com certeza, o público vai querer acompanhar a Fernanda por muito tempo ainda.”

Outro projeto que ganhou diferentes formatos é Divã. A trama de Mercedes, uma mulher com mais de 40, casada e com filhos que, um belo dia, resolve fazer análise, tem como embrião o romance da escritora Martha Medeiros. A história cativou a atriz Lília Cabral, que decidiu adaptá-la para o teatro, convidando o roteirista Marcelo Saback. “Quem trouxe a proposta foi a própria Lília. Li e achei superinteressante. O livro retratava o dia a dia de uma mulher em terapia, com conflitos muito identificáveis, principalmente dentro do universo feminino. Não tínhamos uma história, tínhamos muitas. O desafio foi justamente escolher entre tantas situações boas, adaptar e criar um fio condutor com início meio e fim e levar para o teatro. Foi um trabalho muito em conjunto com os atores e gerou um resultado muito feliz”, conta Saback.

A montagem ficou em cartaz por três anos e foi vista por 175 mil espectadores. O cineasta José Alvarenga Júnior assistiu ao espetáculo e viu a possibilidade de fazer um filme e procurou Saback para mais uma adaptação. O roteirista confessa que chegou a “tremer na base”, já que teatro e cinema são linguagens bem diferentes. Mas o temor não se justificou, pois a produção – o primeiro protagonizado por Lília Cabral – alcançou um público de 1,5 milhão de espectadores e teve uma continuação, Divã a 2, mas, desta vez, sem Lília.

Desafio Dois anos depois, Divã já estava na telinha da Globo. “Nessa fase do seriado entrou o Jayme Monjardim, que gostou da possibilidade de levar para a TV. O desafio agora era outro. Eu não podia ter nem o livro e nem a peça como referência. Era preciso criar outras histórias. E assim foi feito. A personagem Mercedes voltaria para a terapia, agora com novas questões do universo feminino. Foi um projeto muito feliz, sem dúvidas. E até hoje deixa saudades”, comemora.

Marcelo Saback acredita que o sucesso se deve à identificação com o público. “Mercedes ganhou a empatia com sua narrativa compatível com uma mulher de 50 anos, urbana, contemporânea, questionadora, divertida e, por vezes, até poética. O sucesso foi um conjunto da obra, eu acho. Pelo brilhante desempenho da atriz (Lília Cabral), pela delicadeza da direção e, claro – puxando a sardinha para o meu lado – pelas histórias também.”

O autor e diretor concorda que tantos formatos distintos de um mesmo produto podem, sim, desgastá-lo, mas que, no caso do Divã, especificamente, a protagonista permitiu várias possibilidades, o que facilitou as adaptações. “No teatro, trabalhamos com o símbolo. O ator bota uma pena na cabeça, diz que é um índio e a plateia embarca. Tem uma narrativa muito peculiar. Tanto que em Divã, três atores faziam todos os personagens. Cinema é diferente. Temos 90 minutos para contar uma história, atores não revezam personagens e toda a ambientação é absolutamente realista. A imagem conta tanto ou mais que a palavra. Já no seriado, pelo menos no caso da TV aberta, temos 30 minutos de arte para contar aquilo que no cinema temos 90 e ainda tem ganchos para comerciais e uma linguagem mais popular. São formas distintas de contar histórias. Foi muito interessante ver que um mesmo produto conseguiu emplacar em plataformas tão diferentes”, frisa.

Meu passado me condena também conseguiu se sobressair em vários formatos. A roteirista Tati Bernardi criou em 2012 a história do divertido casal Miá (Miá Mello) e Fábio (Fábio Porchat) para uma série no Multishow dirigida por Julia Rezende. Além de ganhar uma nova temporada, o seriado foi parar na telona e nos palcos.

“Quem percebeu que Meu passado ia render foi a Mariza Leão (produtora). Já nos primeiros episódios, ela sentiu que ele poderia virar um filme. E admito que foi bem surpreendente não só ter se transformado em um longa de sucesso, que chegou a mais de 3 milhões de espectadores, e ainda ter tido uma sequência”, comenta Julia, que fez sua estreia como diretora no cinema com essa produção.

Parcerias Atualmente, Julia se prepara para dirigir De pernas pro ar 3, com Ingrid Guimarães. Ela conta que como as experiências foram extremamente bem-sucedidas na telinha e na telona, Miá Mello e Fábio Porchat tiveram a ideia de levar a trama para o teatro. O roteiro também foi de Tati Bernardi, mas quem dirigiu foi Inez Viana, que, aliás, está no elenco da versão televisiva e cinematográfica como Suzana, grande conselheira do jovem casal junto a seu ex-marido Wilson (Marcelo Valle). “Foi um encontro maravilhoso de parcerias e não vejo desgaste em ter série, filme, peça e o que mais vier. Se a gente conseguisse conciliar as agendas, acho que faríamos até uma terceira sequência. A história é boa e relacionamento é um assunto que sempre interessa ao público. Quando as pessoas se identificam e gostam de um personagem, não importa em qual mídia ou plataforma ele vai aparecer”, opina Julia.

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