Fazer parte do Big Brother pode ser bem mais difícil do que parece, revelam mineiros

"É um processo massacrante", desabafa Analice Souza, participante da edição de 2012

por Mariana Peixoto 21/01/2017 09:43
O representante comercial João Carvalho estava na fila de um posto de saúde para tomar vacina contra febre amarela quando uma senhora idosa o reconheceu. Com um grito. A fila inteira não mais tirou os olhos dele. Isso ocorreu em BH na última quarta-feira. Algo parecido pode ter se repetido na quinta, assim como na sexta. “Já faz cinco anos. E todos os dias alguém me reconhece na rua”, comenta João, um tanto resignado. Ele foi o 11º eliminado da edição número 12 do Big brother Brasil. É ainda um dos 24 mineiros que participaram do reality show, que dá a partida em sua 17ª versão depois de amanhã (com duas mineiras na disputa, Mayara, de Lagoa Santa, e Roberta, de Caxambu). De Eduardo Coelho, o Dudu, o primeiro desta lista, a Ana Paula Renault, que mesmo expulsa virou a rainha da edição mais recente, os participantes do reality concordam com um ponto: a vida nunca mais é a mesma depois de passar pelo programa. Mas isso nem sempre é positivo, como se nota pelos depoimentos abaixo.

'NÃO TINHA NADA A PERDER'. Eduardo Coelho
Ficou duas semanas na edição de 2004


São 13 anos depois de uma passagem relâmpago pelo programa. “É um assunto que ainda incomoda, pois você é lembrado por algo que fez um mês de sua vida”, afirma Eduardo. Ele não gosta de falar do assunto, por achar que a questão não lhe diz mais nada. “Foi a experiência de um menino de 23 anos que não tinha nada a perder”, afirma ele, hoje com 37 e trabalhando no mercado financeiro. Tampouco participaria novamente, ainda que não tenha se arrependido da experiência. “Naquele momento foi bom, mas hoje sou um homem com outras ideias. Além de tudo, não havia essa exposição de rede social. O programa se perdeu. Na época ele era considerado legal, era uma novidade.” E foi também naquele período que Eduardo viveu seus 15 minutos de fama. “Foi divertido. Mas graças a Deus passou.”

'É UM PROCESSO MASSACRANTE. Analice Souza
Ficou uma semana na edição de 2012

Ela não tem um aparelho de TV em casa, nem tinha na época que foi selecionada para o BBB. Analice cursava Ciências Sociais na UFMG e comandava um bar/espaço cultural (Oliver, no Santo Antônio, na ativa até hoje). Virar celebridade não estava definitivamente em seus planos.“Minha intenção era escrever sobre o público e o privado, a celebrização instantânea. Eu tinha uma ideia do que era, mas ninguém fala para a gente antes. É um processo massacrante e se você não tem preparo, fica realmente perdido. Quando saí, tive um choque”, comenta ela, hoje com 31 anos. É autora da monografia É menos falso do que parece, sobre o BBB. Passados cinco anos desde a curta temporada, Analice afirma que não teve ganhos reais com a participação. “A Globo não te paga nada e o que se ganha depois é com evento. Fiz alguns, mas não faço parte do perfil do público que consome Big brother, estou um pouco à margem. E nem tenho paciência para isto”, acrescenta ela, que volta e meia topa com alguém observando-a. “Sabe aquele que sabe que te conhece mas não sabe de onde?”

'FOI UMA LOUCURA O TEMPO TODO'. João Carvalho
Ficou 11 semanas na edição de 2012


O representante comercial de 51 anos não titubeia em responder: participaria novamente do BBB. Se depositassem, só pela participação, R$ 1,5 milhão em sua conta bancária antes de entrar na casa.  “Eu nunca quis ser famoso, entrei por causa da grana. Mas foi uma loucura o tempo (76 dos 84 dias do programa) lá dentro.” Uma vez fora, admite, teve que aprender a conviver com as consequências. “Para ser sincero, no princípio gostaria que a vida voltasse ao normal. Mas a notoriedade é muito grande e você não pode ser mal educado com as pessoas, pois invadiu a casa delas no horário nobre. Mas tem hora que enche o saco.” Como representante de marcas de roupas, ele, logo ao sair do programa, aumentou o número delas em seu showroom. Ainda participou de vários eventos, o que “automaticamente aumentou a minha renda”. Mas o que ele deve realmente ao BBB foi a aproximação com a família – “Não tinha contato com sobrinhos e primos, era só minha mãe e meus irmãos” – e um aprendizado para o resto da vida. “Estar aqui fora é muito mais bacana do que qualquer dinheiro do mundo.”

'CUMPRI MEUS OBJETIVOS COM O PROGRAMA'. Fernanda Keulla
Vencedora da edição de 2013


Única mineira a vencer o BBB, a advogada de 30 anos hoje se denomina apresentadora de TV (comandou programas de gastronomia e estilo na Globo Minas), influenciadora digital (tem 1 milhão de seguidores no Instagram) e youtuber (prepara-se para lançar um canal próprio neste semestre). Depois de vencer o programa, Fernanda deixou BH. Passou uma temporada no Rio de Janeiro e depois foi para São Paulo, onde vive atualmente. Com o R$ 1,5 milhão que levou pelo programa, ajudou a família e fez sua carreira decolar (como todo ex-BBB que conseguiu estender a fama conquistada no programa, marca presença em eventos comerciais). Não mudaria em nada sua participação no programa. Mas acha que o tempo no reality ficou para trás. “Eu já cumpri meus objetivos com o programa, por isto não voltaria a ele.”

'FUI ELIMINADO POR  EXCESSO DE CARÁTER'. Adrilles Jorge
Ficou 10 semanas na edição de 2015


O poeta do Big brother toma cuidado com as palavras ao falar de sua rotina pós-programa.  A vida profissional se abriu “um pouco”; as possibilidades “afetivas e sexuais” tiveram uma “pequena melhora”. Aos 42 anos, Adrilles afirma que as coisas têm dado “quase certo”. “Sou uma espécie de curto-circuito no padrão estereotipado de ‘ex-BBB garotão e descolado’.” Sem se encaixar no modelo dominante, ele afirma que tem se colocado “atropeladamente” onde pode. Mas já conseguiu alguma coisa. Lançou um livro de poesia, trabalhou num portal e fez palestras. Pretende lançar outro livro e busca captar recursos  para um projeto de popularização da poesia (uma espécie de sarau-palestra) aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Se mudaria alguma coisa? “Fui o único eliminado por excesso de caráter, por ser fiel a um princípio de amizade e confiança. Não mudaria meus princípios por estratégias escorregadias . Em suma: não mudaria minha essência.”

'AINDA NÃO FIZ NADA PARA SER FAMOSA'. Ana Paula Renault
Desclassificada após seis semanas na edição de 2016


A jornalista de 35 anos voltou a BH nesta semana, depois de rodar por 32 dias com a mesma mala. Foi de Jericoacoara (Ceará) a Florianópolis (Santa Catarina), passando por Camboriú, Navegantes e SP. Ela ainda vive em BH, mesmo que passe menos tempo aqui. “Só saio quando tiver que trabalhar mais do que quatro dias na mesma cidade. Se não, os contratantes pagam tudo, passagem, hotel 5 estrelas...” Ana Paula só ganhou ao se expor ao extremo, tornando-se a barraqueira da edição 2016 do reality. “Era um programa falido, sem audiência significativa e há anos nenhum ex-BBB  virava a carreira”, diz. No ano passado, ela foi repórter do Video show, fez uma participação em Haja coração e em programas do Multishow. Depois da Globo, assinou com o SBT e acaba de estrear uma coluna no portal UOL como ...comentarista do BBB 17. Lida bem com o assédio (“Hoje saí de cabelo molhado, sem maquiagem e com a cara cansada, igual gente normal, e tirei muita foto”), mas não com o rótulo de celebridade – ou sub. “Fui participante de um programa de visibilidade nacional. O que fiz para ser famosa? Nada, ainda.”

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