Novas evidências mostram quando utilizar rivaroxabana no pós COVID-19

Medicamento se mostrou seguro, mas ainda há muito o que aprender no tratamento e no acompanhamento dos pacientes com a doença

Padrinan/Pixabay
(foto: Padrinan/Pixabay)

Todas as evidências, durante o nosso aprendizado nessa grave e devastadora pandemia de COVID-19, nos mostram o elevado estado pró-trombótico (risco aumentado de trombose, tendo como consequência infarto, AVC, trombose venosa e embolia pulmonar) que os pacientes desenvolvem, durante ou após o tratamento dessa doença.

Existem várias teorias para explicar essas alterações da coagulação e consequente dano endotelial (vasos sanguíneos). Sabidamente, o fibrinogênio, a ferritina e o dímero-D são marcadores de estado pró-trombótico, e o manuseio desses marcadores vão nos ajudar em muito a conduzir o tratamento pós COVID-19.

Estudo de intervenção, denominado Michelle, realizado com 320 pacientes em vários centros no Brasil, com idade entre 18 e 90 anos, publicado essa semana no congresso virtual da Sociedade Europeia de Cardiologia 2021.

O estudo nos trouxe dados muito importantes e grande segurança na indicação do anticoagulante (rivaroxabana) no tratamento do pós COVID-19, e tem, com certeza, o potencial de ser um divisor de águas na tomada de decisão clínica.

Foi realizado em pacientes clinicamente enfermos, hospitalizados. Sabemos que existe uma indicação formal e clara para profilaxia da trombose intra-hospitalar, para cada paciente com COVID-19, após avaliação do risco de sangramento.

Esse estudo teve como objetivo avaliar a segurança e eficácia da rivaroxabana (xarelto) 10 mg, administrado uma vez ao dia por 35 dias, em média, com uma variação de quatro dias para mais ou menos, versus nenhuma medicação após a alta hospitalar em pacientes com COVID-19, que estavam em risco aumentado de tromboembolismo venoso e receberam profilaxia venosa padrão para tromboembolismo, durante a hospitalização, com um desfecho de eficácia (meta do resultado do estudo), composto de tromboembolismo venoso sintomático, ou morte relacionada a tromboembolismo venoso, e ou tromboembolismo venoso detectado por duplex scan de membros inferiores bilaterais e angiografia pulmonar para detecção de embolia pulmonar até no 35º dia após a alta hospitalar.

Antes da alta hospitalar, os pacientes eram avaliados quanto ao risco de trombose através do Improve Score. Caso fosse detectado alto risco de trombose com baixo risco de sangramento, no momento da alta, esses pacientes ou recebiam xarelto ou não faziam uso de nenhum anticoagulante.

O Improve Score avaliou: 1) se esses pacientes tinham episódios anteriores de trombose venosa; 2) se tinham trombofilia (doença genética que aumenta o risco de trombose); 3) se tinham paralisia dos membros inferiores durante a internação; 4) se tinham câncer; 5) se estavam imobilizados por mais de 7 dias; 6) se estavam em CTI e 7) se tinham mais de 60 anos. Com esses dados, cada paciente recebia um valor de escore e acima de 4 entravam no estudo.

O estudo mostrou que o uso da rivaroxabana (xarelto), reduziu em 67% o risco de tromboses e morte cardiovascular. Dessa maneira, podemos usar essa medicação com segurança e com a certeza de que estamos fazendo um tratamento para nosso paciente baseado em evidências, e não em suposições, e que ainda temos muito o que aprender no tratamento e no acompanhamento dos pacientes com COVID-19.