Como e quando falar sobre a cura do câncer?

A cura é dependente de muitos fatores, normalmente não é universal, mas costuma ser mais possível quanto mais cedo a doença é descoberta e tratada

Carolina Vieira 03/06/2022 06:00
kalhh/Pixabay
(foto: kalhh/Pixabay)

Em maio de 2021, Rita Lee foi diagnosticada com tumor de pulmão, um adenocarcinoma. Há alguns dias a mídia noticiou sobre sua cura. Mas quais são os termos e critérios realmente usados por profissionais da saúde para abordar a "cura" do câncer? São muitos os fatores envolvidos e, para te auxiliar no entendimento, a acadêmica Mariana Cortez, da faculdade FAMINAS-BH, esclarece sobre isso na coluna de hoje.

O adenocarcinoma, a neoplasia que foi diagnosticada em Rita Lee, é um tumor originado em epitélio glandular (células de revestimento secretoras de substâncias), que nesse caso surgiu no pulmão esquerdo. Esse tumor geralmente cresce na periferia do pulmão, nas partes mais distais e finas das vias aéreas, resultando em sintomas como falta de ar, dor nas costas e fadiga. Quando progride, o indivíduo pode apresentar chiado, rouquidão, tosse crônica, além de perda de apetite e peso.

É delicado se aprofundar sobre o caso, não só em respeito à nossa artista brasileira, mas também pelo acesso limitado a informações necessárias para profissionais, que não a acompanharam, afirmarem que houve uma cura: estágio da doença, perfil molecular das células tumorais, medicamentos, dosagens e duração do tratamento.

A cura é dependente de muitos fatores, normalmente não é universal, mas costuma ser mais possível quanto mais cedo é descoberto e tratado. Não existe consenso sobre a definição de cura, embora seja considerado após o período de cinco anos de remissão da doença. As chances de recidiva caem consideravelmente, porém depende sobretudo do tipo de neoplasia.

Considerando todos os pacientes de um modo geral, abordaremos alguns termos médicos que são considerados quando pensamos na melhora do câncer:

Sobrevida global:
Trata-se do tempo que o paciente permanece vivo desde o diagnóstico da doença ou início do tratamento.

Sobrevida livre da doença: É o período em que não são vistos mais sintomas desde o final do tratamento.

Sobrevida livre de progressão: Tempo em que o paciente está em tratamento, não foi eliminado todo o câncer, mas também não há evolução, diz-se que o tumor está estável.

Sobrevida livre de eventos: Período pós tratamento no qual o paciente se mantém sem complicações que a terapia tem o objetivo de impedir, como metástase ou recidiva.

Remissão: Não há evidências da neoplasia em atividade, com ausência ou redução dos sintomas, sendo parcial ou completa.

Seguimento: Acompanhamento médico regular após a finalização de um tratamento no período de remissão da doença.

Cura:
Não há sinais da doença, normalmente no período de cinco anos (a depender do tipo de tumor) após o tratamento.

Mesmo em período de remissão, o paciente não deve viver com o receio de ter uma recidiva. Nesse aspecto, o cuidado com a saúde mental e o apoio de profissionais (psiquiatras, terapeutas e psicólogos) são essenciais, além do foco em manter bons hábitos de saúde e valorizar "pequenas" vitórias.

Portanto, médicos oncologistas usam com cautela cada termo explicado acima, pois são muitos fatores a considerar. Devemos pensar que cada caso é único e particular, cada paciente é um paciente, cada situação deve ser entendida em suas especificidades. Assim, é importante que isso seja explicado pelo médico ao paciente, para que o mesmo entenda a singularidade de sua situação e tenha seus questionamentos respondidos.