Câncer de ovário: tratamento cirúrgico e o papel da avaliação especializada

Sétima neoplasia mais incidente em mulheres no Brasil, a maioria dos casos é diagnosticada em fases avançadas

Carolina Vieira 21/05/2021 06:00
Ava Sol/Pixabay
(foto: Ava Sol/Pixabay)

O câncer de ovário representa a sétima neoplasia mais incidente em mulheres no Brasil, sendo a décima causadora de morte por câncer em mulheres. Infelizmente, apesar dos avanços em detecção e tratamento, a maioria dos casos é diagnosticada em fases avançadas. Para conversar a respeito, convido o doutor Jairo Cerqueira, cirurgião oncológico do grupo Oncoclínicas.

Existem vários tipos de tumores de ovário, mas o subtipo mais comum é o de origem epitelial, com mais de 90% dos casos. O fator genético é muito importante nesse tipo de câncer, assim pacientes com familiares diagnosticados com câncer de ovário, mama e pâncreas, principalmente, devem procurar uma avaliação oncológica para orientação.

O diagnóstico, na maioria das vezes, é feito através de exames de rotina ginecológica, identificado de forma acidental em ultrassom ou outros exames de imagem. Nesses exames, o que são identificados são as chamadas massa anexiais, que não são necessariamente tumores malignos, mas que devem ser sempre investigados.

O ultrassom transvaginal e abdominal são os exames iniciais para investigação dessas massas, e são muito bons para caracterizar essas estruturas e planejar o tratamento. Algumas características dessas lesões são mais sugestivas de malignidade, como massas de crescimento rápido, contornos mal definidos, massa com componentes sólidos e císticos, a presença de líquido na cavidade abdominal entre outras. Essas características requerem atenção e uma avaliação mais especializada.

Outra forma de avaliar a chance de malignidade de uma massa anexial são os marcadores tumorais, substâncias dosadas no sangue, sendo o CA-125 o de uso mais frequente. Ele encontra-se elevado em 80% dos casos de câncer de ovário, mas não é um marcador muito específico. Sendo assim, outras doenças benignas podem causar sua elevação, como endometriose, pancreatite, cirrose, entre outras.

Após essa avaliação, é definida a chance de malignidade. A primeira parte do tratamento normalmente envolve a cirurgia videolaparoscópica. Nela conseguimos definir a extensão da doença, avaliar a possibilidade de retirada total do tumor, e conseguir biópsia para definir o tipo de tumor. A cirurgia laparoscópica deve seguir diversas regras e por vezes envolver a retirada de múltiplos órgãos.

Por exemplo, deve-se sempre colher citologia oncótica peritoneal, também conhecido como lavado peritoneal, que faz parte do estadiamento da doença, avaliando a presença de células tumorais fora da massa principal. Também devemos evitar ao máximo a manipulação excessiva do tumor, tentando preservar sua integridade e impedir a sua fragmentação. A utilização de endobags, uma espécie de plástico protetor utilizado para evitar o contato do tumor com outras estruturas, também é recomendada.

Em tumores iniciais, por vezes a ressecção da massa somente é o suficiente para tratamento. Mas, em casos avançados, a cirurgia tem que ser mais agressiva e consequentemente maior. O objetivo da cirurgia é sempre fazer a retirada total dos focos do tumor, portanto, se houver acometimento de outros órgãos, todos esses pontos devem ser ressecados. Na maioria dos casos, essa abordagem é feita de forma convencional, com cirurgia aberta. Assim, o cirurgião que irá fazer a cirurgia deve estar apto e acostumado com cirurgias de grande porte e de múltiplos órgãos.

Os cuidados no pós operatório podem envolver necessidade de CTI, uso de drenos e sondas e, por vezes, a paciente pode demorar alguns dias para retornar para casa. É importante ressaltar que a cirurgia tem um impacto muito importante no sucesso do tratamento do câncer de ovário, portanto a participação do cirurgião oncológico ou ginecologista oncológico é essencial.

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