Estudo: eficácia da mastectomia X cirurgia conservadora da mama

Pacientes que receberam cirurgia conservadora de mama seguida de radioterapia mostraram resultados superiores em relação a pacientes que receberam mastectomia

Basker Dhandapani/Pixabay
(foto: Basker Dhandapani/Pixabay)

No tratamento oncológico de mulheres com câncer de mama, em determinados perfis, existe o conceito de que a remoção completa da mama é mais segura do que a remoção parcial associada à radioterapia. Um trabalho inédito e muito interessante publicado no JAMA Surgery, no entanto, coloca uma exclamação nessa ideia.

O estudo sueco Sobrevivência após a conservação da mama versus mastectomia ajustada para comorbidade e status socioeconômico avaliou a possível associação do tratamento loco-regional (mama e os linfonodos regionais) com a sobrevivência das pacientes.

Foram avaliadas três intervenções: mastectomia com radioterapia, mastectomia sem radioterapia e cirurgia conservadora da mama com radioterapia. O objetivo era identificar a eficácia da cirurgia conservadora da mama associada à radioterapia, a associação de fatores socioeconômicos e comorbidades com sobrevida global e também a sobrevida específica ao câncer de mama.

Como principal resultado, os pesquisadores descobriram que as pacientes que se submeteram a cirurgia conservadora seguida de radioterapia demonstraram melhora na sobrevida em relação àquelas que receberam mastectomia, independentemente do tratamento com radioterapia.

De acordo com os pesquisadores, "a conservação da mama parece oferecer um benefício de sobrevivência independente de fatores de confusão medidos e deve ter prioridade se a conservação da mama e a mastectomia forem opções válidas."

Como o estudo foi realizado

Aproximadamente 48.986 mulheres com câncer de mama foram avaliadas. Foram coletados dados clínicos sobre os pacientes do Registro Nacional de Qualidade do Câncer de Mama, renda individual e dados educacionais da Statistics Sweden e dados sobre comorbidades de pacientes usando registros de pacientes no National Board of Health and Welfare.

Em um acompanhamento médio de 6,28 anos, 6.573 mulheres morreram - 35,2% das quais (2.313) morreram de câncer de mama. Quando as pacientes foram estratificadas com base na coorte prognóstica, aquelas que receberam mastectomia mais radioterapia tiveram uma associação com sobrevida específica ao câncer de mama inferior, com uma indicação clara de radioterapia. Além disso, o grupo também teve a sobrevida mais baixa em todas as bases de comparação.

As mulheres que se submeteram à mastectomia sem radioterapia eram mais velhas, menos educadas e tinham uma renda mais baixa em comparação com aquelas que receberam outros tratamentos, relataram os pesquisadores. Todas as mulheres que receberam mastectomia tiveram uma carga maior de comorbidades do que aquelas que se submeteram a cirurgia conservadora.

Os autores relacionaram as interações complexas entre a sobrevivência ao câncer de mama, o status socioeconômico e a comorbidade, uma vez que indivíduos com um nível socioeconômico mais baixo apresentam doença mais avançada, têm menor adesão ao rastreamento mamográfico, são menos propensos a receber quimioterapia e têm taxas de sobrevida inferiores.

No Brasil, por exemplo, basta lembrar que as mulheres que dependem unicamente do Sistema Único de Saúde (SUS) iniciam o rastreamento do câncer de mama somente aos 50 anos, enquanto as principais entidades de saúde da área seguem os preceitos internacionais, indicando o início do rastreamento aos 40 anos.

Voltando ao estudo em questão, apesar da falta de informações a respeito da massa corporal, se os pacientes fumavam e a possibilidade de comorbidades eram subestimadas, os pesquisadores concluíram que uma cirurgia de mama mais extensa não representa maior chance de salvar vidas. A cirurgia conservadora da mama com radioterapia apresenta sobrevida global e sobrevida específica ao câncer de mama relativos de 56% a 70% em pacientes com nódulo negativo.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.


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