Tuberculose não é doença do passado. Saiba por que você não pode ignorá-la

É verdade que atualmente a tuberculose tem um alto potencial de cura, mas o abandono do tratamento é hoje um do principais desafios enfrentados

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Teste de tuberculose (foto: WikiImages/pixabay)

“Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse…”

Manuel Bandeira conseguiu traduzir na poesia Pneumotórax o que é sofrer com a tuberculose (TB). Nesses primeiros versos, o poeta fala de sintomas importantes da doença. Em 1904, aos 18 anos, Manuel Bandeira foi diagnosticado com tuberculose. Na época, não se falava em cura. Convencido de que não conseguiria viver por mais de 15 anos, Bandeira largou o sonho de ser arquiteto e começou a escrever –para ele e outras pessoas com o mesmo diagnóstico, a vida se resumia à própria doença.



No início do século 20, os tratamentos para TB eram realizados em sanatórios localizados em lugares elevados, em função dos supostos benefícios da atmosfera rarefeita das alturas. No passado, Belo Horizonte foi considerada a capital da cura da tuberculose justamente por ter características de clima, altitude e vegetação adequadas para oferecer um melhor tratamento e conforto aos pacientes.

A história da cidade foi influenciada por ícones que no passado migraram para BH com a esperança de dias melhores e, em busca da “cura pelo clima”, uniram atividade profissional e tratamento. A Faculdade de Medicina da UFMG é um grande exemplo – a maioria dos seus fundadores eram tuberculosos, saíram do Rio de Janeiro para tratar e continuaram suas atividades como médicos na capital mineira. 

Hoje, a realidade é muito diferente. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece um tratamento eficaz em que as chances de cura são enormes. Então, a tuberculose deixou de ser um problema? Não! É verdade que não há mais as dificuldades enfrentadas pelo poeta Manoel Bandeira, mas ainda não podemos dizer que o problema acabou. A tuberculose ainda é considerada uma das 10 principais causas de morte no mundo. De acordo como Ministério da Saúde, no Brasil são registradas por ano cerca de 4,5 mil mortes – é a doença infectocontagiosa que mais mata no nosso país.

Em 2015, o jogador da seleção de futebol Thiago SIlva dividiu sua história de diagnóstico e tratamento contra tuberculose, uma história de sucesso contra o cansaço causado pela doença. Cantores como Thiaguinho e Simaria, da dupla Simone e Simaria, se afastaram dos palcos para tratar TB. Casos recentes da doença alertam para o problema atual. Tosse por mais de três semanas associada ou não aos outros sintomas exigem avaliação médica e exames como análise de escarro e raio x dos pulmões para descartar o diagnóstico de TB.

Mas, o grande desafio enfrentado atualmente é o abandono do tratamento – 10% dos pacientes não o concluem. A não continuação é algo trágico para a pessoa doente e também para a população, porque tratamentos incompletos aumentam as chances de fortalecer a bactéria causadora da doença – o velho ditado “o que não mata, fortalece” é certeiro nesse caso. Com o tratamento não concluído, ocorre a famosa seleção natural, eliminando as bactérias mais fracas. Com isso, o que encontramos são grupos de bactérias que não morrem com os tratamentos disponíveis, são as bactérias multi resistentes – algo que realmente tira o sono de qualquer médico. Além do abandono, segundo a OPAS (Organização Panamericana de Saúde), somente nas Américas, 50 mil pessoas vivem com a doença sem tratamento ou conhecimento.

E como é feito o tratamento? Como disse anteriormente, ele é integralmente fornecido pelo SUS e tem duração de pelo menos seis meses. Com o tratamento, o paciente melhora rapidamente e em duas semanas é observado conforto e melhora significativa do mal causado pela doença, porém é neste momento que é registrado o maior abandono do tratamento devido à falsa impressão de cura.
Com o objetivo de aumentar o compromisso com o tratamento, são desenvolvidas diversas técnicas de adesão como apadrinhamento, supervisão diária de ingestão de medicamentos, acolhimento com alimentos e incentivo para o transporte. 

Neste mês, o Brasil se tornou líder mundial no combate à tuberculose, com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, assumindo a presidência do Conselho da Stop TB Partnership, instituição internacional vinculada ao Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS/ONU), que busca eliminar a tuberculose no mundo. Atualmente, a Stop TB conta  cerca de 1.700 representantes em mais de 100 países. Essa é mais uma prova dos esforços mundiais para combater a doença, mas reforço um dos primeiros assuntos que compartilhei com vocês: a importância da vacinação.

Aquela marquinha que todos temos no braço (ou deveriam ter) é a cicatriz da BCG, a vacina contra a tuberculose. Mais uma vez, a população tem em mãos o poder de reduzir e, até mesmo, erradicar uma doença. Vacine-se!

Tem alguma dúvida sobre tuberculose ou outra doença infectocontagiosa? Escreve para mim ericksongontijo@gmail.com