Cânceres femininos representam parcela considerável do número de casos previstos para 2019

Diagnóstico precoce e hábitos saudáveis são aliados na prevenção e cura

por Elian Guimarães 31/05/2019 14:00
Doutíssima/Reprpdução
(foto: Doutíssima/Reprpdução)

Entidades internacionais que registram dados sobre incidência de câncer no mundo estimam que, em 2018, foram 18 milhões de casos da doença levando 9,6 milhões a óbitos. No Brasil, são esperados 600 mil novos casos para 2019, e os cânceres que acometem as mulheres representaram uma parcela importante, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Os cânceres femininos englobam mama e os ginecológicos: de ovário, colo de útero, endométrio, trompas, vulva e vagina.

Segundo Renata Maria Sousa Lima, médica oncologista clínica do Biocor Instituto e do Grupo Oncoclínicas, a cada dia os diagnósticos de câncer podem ser feitos com mais precocidade devido ao acesso a exames tanto de imagens como laboratoriais mais sensíveis e específicos. Entretanto, a entrevista médica e o exame clínico detalhado são os procedimentos iniciais mais importantes, evitando-se encaminhamentos desnecessários às tecnologias de análise de alta complexidade.

Em 2011, o médico norte-americano Gilbert Welch, em entrevista à revista Época, já alertava para os perigos dos exames em excesso. “Ao menor sinal de anormalidade, nos acostumamos a tratar todo mundo, sem discutir se aquele tratamento trará benefícios ou se provocará efeitos colaterais que podem ser piores do que os desencadeados pela irregularidade detectada, desde sofrimento psicológico até males físicos mesmo”, disse o então professor da Escola de Medicina de Dartmouth e uma das vozes do movimento contra os exames de imagem em excesso.

Os tratamentos, por sua vez, estão avançando e a cada dia são mais individualizados, levando-se em conta características específicas das pacientes e de sua doença, explica Renata Sousa Lima. Cirurgias menos invasivas, quimioterapias menos tóxicas, terapias-alvo, novas imunoterapias, hormonioterapias e as radioterapias mais precisas são modalidades possivelmente empregadas. “No entanto, é importante ressaltar que muitos casos de cânceres, que afligem todo o mundo, poderiam ser evitados. A busca pela prevenção é a melhor estratégia a ser empregada”, afirma.

Renata Sousa Lima explica que o câncer de mama relacionado à herança genética representa em torno de 20% dos casos, e as pesquisas das mutações são realizadas em casos específicos: pacientes jovens, pacientes com histórico familiar positivo para a doença, principalmente com parentes de primeiro grau (mãe, filha e irmã) também acometidas, pacientes do sexo masculino e dependendo de algumas características do tumor.

Os cânceres de mama esporádicos (não hereditários) estão relacionados a vários fatores como a idade da primeira menstruação (antes dos 12 anos), da menopausa (após 55 anos), mulheres que não engravidaram, a primeira gestação após os 30 anos, uso de alguns anticoncepcionais orais e terapia de reposição hormonal por tempo prolongado e aos hábitos de vida (consumo de álcool, tabaco, sedentarismo, dietas desequilibradas e obesidade).

INCIDÊNCIA ELEVADA

No caso dos cânceres ginecológicos, o mais incidente no Brasil é o de colo de útero, apesar do programa de rastreamento disponível, que é a realização do exame de Papanicolau. Em seguida, vem o câncer de corpo do útero (endométrio) e de ovário.

Existem vários fatores envolvidos na etiologia de câncer de colo de útero, mas o principal é a infecção pelo HPV, sendo os tipos HPV16 e 18 os mais relacionados ao desenvolvimento da doença. Outros fatores associados são o início de atividade sexual precoce, que pode aumentar o risco de exposição ao HPV, assim como imunossupressão (ato de reduzir a atividade ou eficiência do sistema imunológico), multiparidade, tabagismo e o uso prolongado de anticoncepcionais orais.

“O câncer do colo de útero tem alta taxa de cura quando diagnosticado em estágios iniciais e consiste em uma doença potencialmente prevenível.” O Ministério da Saúde, desde 2014, oferece a vacina tetravalente (HPV 6, 11, 16, 18) na rede pública para meninas de 9 a 13 anos e, em 2016, o calendário vacinal foi ampliado para meninos de 12 e 13 anos.

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Sobre o câncer de endométrio, alguns fatores de risco são identificáveis, como obesidade, idade avançada, dieta desequilibrada, falta de atividade física, história familiar positiva para a doença, pacientes com diabetes, entre outros. Já para o câncer de ovário, além da idade avançada, o sobrepeso/obesidade, primeira gestação após os 35 anos, terapia de reposição hormonal pós-menopausa, tabagismo, etilismo, história familiar de câncer – ovário, mama e/ou colorretal, também são fatores de risco para a doença.

A recomendação para prevenção está na adoção de hábitos saudáveis como uma dieta equilibrada, atividade física regular, controle de peso, não tabagismo e etilismo e a participação nas políticas de saúde, como a vacinação contra o HPV e a realização de mamografia e Papanicolau com a frequência recomendada, além de visitas regulares ao médico assistente, “o que pode mudar o curso dessas doenças, já que muitos casos estão relacionados aos hábitos de vida em tempos contemporâneos”, recomenda a especialista.