Com a correria diária, mulher precisa conciliar o cotidiano com um estilo de vida sadio

A rotina está cada dia mais pesada e desgastante, decorrente de múltiplas funções. É preciso cuidado pra manter a saúde

por Joana Gontijo 13/05/2019 12:18
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
"Entendemos a mulher como um todo. As enfermidades não são algo separado. Tudo se relaciona. Trabalhamos as queixas e os sintomas não apenas por si próprios, mas procurando as causas" - Luciana Regis, ginecologista da Clínica Regis (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

A busca pela qualidade de vida é um desejo universal na sociedade contemporânea. A rotina acelerada e a necessidade de desempenhar vários papéis ao mesmo tempo transforma esse objetivo em um grande desafio, que só será alcançado com a mudança de hábitos. Dentro das abordagens da medicina voltada para a saúde da mulher, perceber o indivíduo como um todo que, além do corpo físico, carrega expressões emocionais e psíquicas, é o foco. Na mesma medida em que a nova forma de ser feminino exige esforços extremos, entre a vida profissional e dentro de casa, com cada vez mais tarefas, surgem problemas associados às pressões que invariavelmente caem ao colo delas. Na maior parte das situações, episódios de estresse grave são o gatilho para o aparecimento de diversas doenças, seja qual for o momento da vida. Especialistas ensinam que o cuidado com a saúde deve se dar desde cedo.

A rotina da mulher está a cada dia mais pesada e desgastante. Com a vida atribulada e a mulher ocupando mais espaços, tanto pelo lado pessoal quanto profissional, elas desempenham tarefas múltiplas (devem ser esposa, mãe, dona de casa, além do trabalho e das pressões sociais) e, nesse contexto, podem acabar deixando de lado os cuidados básico com a saúde. Para melhor manejo do estresse, é importante que aprendam a lidar com essa correria, sabendo conciliá-la com um estilo de vida sadio e reservando um tempo para si mesma.

Luciana Regis, ginecologista da Clínica Regis, é uma das profissionais mineiras que trabalham dentro dessa abordagem. “Hoje nós criamos na clínica uma área dedicada à saúde integral da mulher, com foco na construção de um estilo de vida mais saudável e equilibrado, respeitando as transformações de cada fase da vida. Meu papel como ginecologista é tratar além das queixas ginecológicas, objetivando a promoção da saúde das minhas pacientes. Para isso, precisamos estar atentos às necessidades de cada uma, avaliando fatores como alimentação, estilo de vida, nível de estresse, atividade física, qualidade do sono, possíveis desequilíbrios hormonais e nutricionais, experiências anteriores e histórico da família”, informa.

Portanto, para ter qualidade de vida, equilíbrio e um envelhecimento sadio é preciso observar com mais atenção, ainda a partir da infância e adolescência, quatro pilares básicos: alimentação adequada, atividade física regular, padrões desejáveis de sono e manejo do estresse. "Entendemos a mulher como um todo. As enfermidades não são algo separado. Tudo se relaciona. Trabalhamos as queixas e os sintomas não apenas por si próprios, mas procurando as causas", continua Luciana.

Em seu consultório, Luciana se depara frequentemente com queixas ligadas a estresse, cansaço e fadiga crônicos, alterações hormonais, alterações na imunidade, infecções recorrentes, irritabilidade, sono ruim, entre outros. "O estresse é um fator de risco para desencadear diversas doenças, desde problemas imunológicos a casos mais graves, como patologias cardiovasculares e infarto. Em verdade, é um mal que afeta a todos. Não é à toa que um dos nortes para garantir a saúde da mulher é o manejo do estresse", completa.

RITMO INTENSO

A publicitária M.V., de 40, que prefere não se identificar, trabalhou por quatro anos em uma grande empresa no setor de educação. Conta que sua carga diária chegava a 21 horas em alerta. Vivia ocasiões em que trabalhava até 3h da madrugada, e acordava às 6h. Ela lembra que sempre foi esportista (já fez capoeira, handebol, balé) e atenta quanto à alimentação. Não fuma e não bebe. Em um certo ponto, a cobrança do emprego era tão intensa, inclusive com diversas situações de viagens, que passou a não ter mais tempo certo para comer e muito menos conseguiu continuar se dedicando aos treinos. "Almoçava fora de hora, e muitas vezes não almoçava. Acontecia de levar a refeição de casa, e deixar esquecida na geladeira. Ou então corria para almoçar em dez minutos e voltar para o escritório. Isso tudo começou a piorar minha saúde", rememora.

M.V. é mãe de três filhos crianças e ficou afastada da convivência com eles. Para completar, sua mãe sofre com Alzheimer - já que seus irmãos residem fora do Brasil, ela é a única pessoa disponível para ajudar o pai quanto ao problema. "Essa é uma preocupação extra. Exercia diversos papéis, como mãe, filha e executiva. Não pude mais conciliar tudo isso e cheguei ao auge do estresse. Para complicar, não ouvia os conselhos do meu marido, pensava que era apenas uma fase".

Diante dessas questões, a publicitária procurou o auxílio de uma médica, que logo diagnosticou estresse em alto grau, um problema que poderia desencadear a Síndrome de Burnout, por definição um estado físico, emocional e mental de exaustão extrema, resultado do acúmulo excessivo em situações de trabalho que são emocionalmente exigentes e/ou estressantes, que despendem muita competitividade ou responsabilidade. M.V. também apresentou baixa vitamínica e experimentou pequenas crises de pânico.

"Entrei em licença médica e demorou um ano para melhorar totalmente. Apesar da resiliência, a capacidade de sofrer algo abrupto e voltar, voltei diferente, nunca mais fui a mesma. Não queria passar por tudo aquilo novamente. Meu filho teve até piora no rendimento escolar por sentir minha ausência", conta, ela que chegou a retornar ao emprego, mas, após seis meses, acabou pedindo demissão, a fim de se preservar contra possíveis novos episódios como o que viveu em meados de 2017.

"Achava que a empresa precisava de mim. Vestia a camisa, com comprometimento ao extremo. Mas fui para além do meu limite. As pessoas próximas percebiam que eu estava diferente e eu não via isso. Estava dentro do olho do furacão. Como orienta a psicologia, há que sair da situação para conseguir vê-la de fora. Tratei as questões hormonais e também o aspecto nutricional. Consegui controlar o problema antes de se tornar algo muito sério", diz.

Hoje, a publicitária pratica ioga duas vezes por semana, faz meditação todos os dias e retomou a musculação. Agora trabalha como autônoma, no modelo homeoffice, com consultoria de marketing e comunicação para clientes dentro e fora de Belo Horizonte. "No trabalho eles exigiam cada vez mais de mim, e eu não estava mais me sentindo realizada. Tive que escolher, que priorizar. E escolhi minha saúde e minha família. Me escolhi".

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DEPOIMENTO

Lorena Faria*

Administradora de empresas, 47 anos

Tive menopausa precoce, aos 40 anos. Em um primeiro momento guardei a questão em segredo. Fiquei muito incomodada. É um assunto extremamente particular. Me achava diferente, achava que não era normal, nenhuma das minhas amigas tinham passado por isso. Aos 39 anos, como usava anticoncepcional, ainda menstruava, mas os sinais da menopausa já se apresentavam, e não eram percebidos por causa disso. Comecei a engordar demais, acumulei gordura abdominal, vivia em um estado de completo desânimo, muito diferente do modo como sempre fui. Procurei um endocrinologista, em busca de ajuda para emagrecer, e ele me solicitou vários exames, porém o uso do anticoncepcional poderia alterar alguns resultados no meu perfil hormonal. Parei com o contraceptivo e, nesse ponto, não menstruei mais. Foi um baque, fiquei muito chateada. A princípio, não cogitei fazer reposição hormonal, tinha muita resistência, não havia casos na família, mas a questão era mesmo falta de informação e esclarecimento. Comecei com dietas, mas não mantive, me descuidava. Dois anos depois, procurei outra médica, e aí as coisas finalmente começaram a melhorar. Estava realmente constatada a menopausa precoce. Após muito diálogo com ela, que me esclareceu os benefícios da reposição hormonal, entendendo também meu lado pessoal e sentimental, comecei com o tratamento. Foi certeiro, impressionante, minha vida mudou. Minha energia retornou, retomei as atividades físicas, perdi muito peso e voltei a ter vontade de cuidar de mim. Meu organismo voltou a funcionar como se a menopausa não existisse. Hoje estou totalmente adaptada com a reposição hormonal, levo uma vida normal, dinâmica. Ouvimos falar horrores sobre esse método, e por isso temos tanto receio, mas tudo é questão de estar bem orientado. Realizo todo o acompanhamento médico com exames periódicos - exame de sangue, mamografia, ultrassom da mama, ultrassom abdominal, ultrassom do útero, exame da tireoide. Agora me cerco de todos os cuidados. Ganhei uma nova vida no instante em que achei que já era uma mulher entregue. Foi a decisão certa, na hora certa.

*Nome fictício