Brincar ajuda a fortalecer vínculos entre pais e filhos

Resgatar formas de diversão envolvendo pais e filhos também pode contribuir para o desenvolvimento físico e mental dos pequenos

por Bruna Curi* 14/01/2019 12:00
Beto Novaes/EM/D.A Press
Mãe de Gabriel, de 2 anos e meio, e de Guilherme, de 6 meses, Mariana Navarro conta que decidiu trabalhar somente meio horário para dedicar mais tempo aos filhos (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Amarelinha, pique-esconde, polícia e ladrão, futebol, queimada, Lego e quebra-cabeça. Essas são algumas brincadeiras que há anos encantam e incentivam a meninada, uma vez que exploram o lúdico, além de permitir que a criança faça atividade física e se relacione com outras pessoas. Contudo, com a modernidade, essas brincadeiras estão sendo trocadas pelo computador, celular, tablets e pela televisão.

Se, antes, a criança podia brincar na rua, sem se preocupar com a violência ou outros fatores, agora este cenário mudou. Dessa forma, é essencial que os pais incentivem essas brincadeiras e que tirem uma parte de seu tempo para brincar com os filhos, construindo momentos que podem ficar na memória e no coração para sempre. Além de ser alternativa mais saudável que os jogos de videogame, televisão ou computador, isso permite que se estabeleça um vínculo entre pais e filhos.

A servidora pública Mariana Navarro Paolucci tem dois filhos - Gabriel, 2,5 anos, e Guilherme, de 6 meses. Ela conta que, com a chegada dos filhos, decidiu trabalhar só meio período, para ficar mais tempo com eles. Ela lembra que nem todos os pais são capazes de fazer isso, mas considera fundamental passar um tempo junto de Gabriel e de Guilherme. “O brincar é a nossa atividade diária na parte da tarde. Com isso, acredito que crio memórias importantes para meus filhos e, consequentemente, crio laços com eles que, assim espero, ficarão para a vida toda”, conta.

Entre as brincadeiras favoritas de Gabriel estão o quebra-cabeças, blocos de montar e esconde-esconde. Além disso, Mariana gosta de passear em praças e parques, pois, além de brincar com bicicleta e velotrol, eles podem interagir com outras crianças. “Sempre tento variar e criar brincadeiras para manter as crianças interessadas.” E a diferença de idade entre os dois não é um problema para Mariana, que sempre tenta envolver o caçula nas brincadeiras. “Quando estou só com o Guilherme, procuro brinquedos adequados para a idade e brinco junto com ele, conversando e ensinando sobre as formas e as cores.”

BENEFÍCIOS

Na visão de Mariana, a infância é uma fase da vida em que as brincadeiras são fundamentais para o desenvolvimento físico e mental dos pequenos. Por meio dessas atividades, a criança passa a desenvolver a criatividade e o senso cognitivo e social. A servidora pública também considera que a infância “é um lugar que visitamos durante a vida toda”, o que facilita e muito no momento de pensar em brincadeiras e atividades para fazer com seus filhos.

Mariana percebe que, atualmente, as redes sociais e outras tecnologias têm tomado conta de um tempo grande na vida das pessoas, o que pode atrapalhar as relações sociais e, até mesmo, a construção do vínculo entre pais e filhos. Brincar pode parecer uma atividade muito simples, mas não é. Demanda tempo, dedicação, atenção e é preciso resgatar a criança que existe dentro de cada um. “Por mais que seja uma atividade que exige tempo, é algo que vale a pena. A infância passa rápido e, num piscar de olhos, não temos mais essa oportunidade. É importante saber aproveitar esse tempo e se divertir.”

Asas à imaginação
Pais defendem passar mais tempo brincando com os filhos, visando o desenvolvimento interpessoal, cognitivo, motor e intelectual, além de estimular a criatividade

Gabriel Rodrigues é professor de educação física e pai de Maria Flor, de 2,9 anos. Ele conta que precisou se reinventar para poder brincar com a filha. “Quando criança, não tinha o costume de brincar com boneca ou maquiagem; então, precisei aprender e reinventar”, conta. Contudo, para ele, esse processo sempre foi bastante tranquilo, já que sempre esteve muito envolvido com o crescimento e os cuidados de Maria Flor. Além disso, o fato de sua agenda de trabalho ser flexível, permite que ele passe mais tempo ao lado da filha.

Rodrigues considera muito importante o papel do pai na criação do filho, ainda mais levando em conta o modelo do patriarcado que ainda prevalece em algumas casas – o pai trabalha, enquanto a mãe passa mais tempo em casa cuidando do lar e dos filhos. “É preciso inverter esse sistema”, enfatiza o professor. Na sua visão, esse contato entre pais e filhos durante a brincadeira é fundamental para a criança, já que acaba construindo um laço de confiança e respeito muito grande. “Quero construir um elo forte com a Maria Flor”, afirma.

E, por ser professor de educação física, por sua profissão estar ligada à cultura do movimento, Gabriel considera que a tecnologia em excesso pode ser prejudicial para as crianças. “Aqui em casa tem computador e televisão, mas tudo com muita moderação. Para mim, não existe nada melhor do que brincadeiras e uma boa conversa antes de dormir”.

VÍNCULO

Maria Emilia Dinat/Arquivo pessoal
Mãe de Joaquim, de 7 anos, de Iolanda, de 1 ano e 8 meses, de de Amélie, de 4, a fotógrafa Maria Emília Dinat lembra que, além das brincadeiras, não podem faltar 'muito amor e diálogo' (foto: Maria Emilia Dinat/Arquivo pessoal )
A fotógrafa Maria Emília Dinat se tornou conhecida na internet por compartilhar com seus seguidores as coisas boas e os desafios que envolvem a maternidade. Ela é mãe de Joaquim, de 7, de Amélie, de 4, e de Iolanda, de 1,8.

Apesar de trabalhar em casa, Maria conta que, muitas vezes, os seus filhos não entendem o motivo de ela ficar no computador, de forma que sempre é preciso encontrar um tempo para ficar com os pequenos. “Lemos bastante livros infantis, costumo brincar de filhinha com a Amélie, desenhamos bastante e saímos pra passear de motoca”, conta ele, sobre sua rotina de brincadeiras e atividades com Joaquim, Amélie e Iolanda. Para Maria, o importante durante as brincadeiras é tentar estimular a criatividade e a imaginação. Além disso, ela considera que não podem faltar “muito amor e diálogo”.

UNIÃO

O musicoterapeuta Frederico Pedrosa é pai de Maria, de 5, e, para ele, as brincadeiras são fundamentais para a relação com a filha. Como Maria mora com a mãe, no Sul de Minas, os momentos que Frederico tem junto dela são recheados de muita diversão e música. “Costumo cantar, tocar instrumentos, fazer música, cozinhar”, enumera as atividades que gosta de fazer juntinho com Maria.

Frederico Pedrosa/Arquivo pessoal
"A brincadeira auxilia na construção da identidade da criança, no processo de construção da autoimagem e na sensação de pertencimento" - Frederico Pedrosa, musicoterapeuta, pai de Maria, de 5 anos (foto: Frederico Pedrosa/Arquivo pessoal )

Para Pedrosa, as brincadeiras são muito mais do que uma forma de se manter próximo da filha. Ele acredita que, por meio de atividades lúdicas, é possível transmitir um pouco da carga natural de cada um. “A melhor forma de desenvolver essas relações com as crianças é brincando. Então, além da diversão que proporciona, de criar laços e do desenvolvimento interpessoal, cognitivo, motor e intelectual, a brincadeira auxilia na construção da identidade da criança, no processo de construção da autoimagem e na sensação de pertencimento”, finaliza.

DESENVOLVIMENTO

Segundo a pedagoga Ana Cristina Oliveira, as brincadeiras são fundamentais para o desenvolvimento infantil. Por meio das brincadeiras, a criança constrói a concepção de mundo. “Todos os tipos de brincadeiras, sejam os jogos simbólicos, como o faz de conta, os jogos de regra, sejam as brincadeiras corporais, favorecem no desenvolvimento da psicomotricidade, da coordenação motora”, explica.

A psicóloga Simone Fernandes Carvalho, concorda e reforça que é fundamental para estabelecer um laço entre pais e filhos. Ela explica que isso ocorre devido ao fato de a criança se construir socialmente por meio das brincadeiras e atividade, além de expressar as diferentes impressões vivenciadas em seu contexto familiar e social. “É por meio da atividade lúdica que a criança desenvolve a habilidade de subordinar-se a uma regra, a uma norma; e seguir as regras significa dominar o próprio comportamento, aprendendo, desde cedo, a lidar principalmente com figuras de autoridade.”

Lugares para a criança se divertir em BH

Pensar em brincadeiras e atividades para fazer com os filhos nem sempre é fácil, ainda mais neste período de férias. Para evitar que a criança fique muito tempo dentro de casa, somente no computador, celular ou televisão, a capital mineira conta com várias praças propícias para a diversão de toda a família:

>> Praça da Assembleia (R. Rodrigues Caldas, s/nº, Santo Agostinho): reformada em 2015, a praça ganhou dois parquinhos com brinquedos para bebês e crianças de no máximo 10 anos

>> Praça da Liberdade (Av. João Pinheiro, s/nº, Funcionários): o espaço faz parte do Circuito da Liberdade e oferece muitas opções de cultura, arte, educação e diversão para a meninada

>> Praça do Papa (Av. Agulhas Negras, s/nº, Mangabeiras): a praça conta com espaço para andar de bicicleta, patins e ainda tem um parquinho. Além disso, tem como fazer piquenique no local.

>> Praça JK (Av. dos Bandeirantes, 240, Sion): localizada na região Centro-Sul da cidade, a praça tem uma quadra de futebol, pista de corrida, equipamentos de ginástica e brinquedos para a criança

Algumas brincadeiras tradicionais

Amarelinha: A brincadeira consiste em pular sobre um desenho riscado no chão, geralmente com giz, que tem diversas variações. A versão mais famosa apresenta quadrados ou retângulos numerados de 1 a 10 e o topo o céu em formato oval. Ganha o jogo quem terminas de pular todas as casas primeiro.

Cirandas:
As crianças formam uma roda e cantam melodias folclóricas. Entre as músicas mais conhecidas estão Escravos de Jó, Sapo cururu, Ciranda-cirandinha e Atirei o pau no gato.

Jogo das Cinco Marias: A brincadeira é realizada com cinco saquinhos de pano ou com cinco pedrinhas (de tamanhos aproximados), e o objetivo é pegar todos os saquinhos que estiverem no chão sem deixar cair o que foi lançado para o alto.

Bolinha de gude: Existem diferentes formas de brincar com as bolinhas de gude, mas a versão mais popular consiste em um círculo desenhado no chão, onde os jogadores devem, com um impulso do polegar, jogar a bolinha.

Peteca: No jogo, dois ou mais participantes usam a mão ara arremessar a peteca de um para o outro, tentando evitar que ela toque o chão.

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares