Mesmo com todas mudanças e avanços na medicina, foco dos profissionais ainda é a prevenção

O conhecimento médico, uma boa formação na faculdade, na residência ou especialização serão componentes importantes na formação de um bom profissional

Bruna Curi* 05/12/2018 09:49
Hospital de Olhos/Divulgação
O médico Ricardo Guimarães explica que cuidados na prevenção de doenças e na promoção de saúde são fundamentais desde os primeiros meses de vida (foto: Hospital de Olhos/Divulgação )
A medicina passou por muitas mudanças nos últimos anos. Os equipamentos estão mais modernos e as técnicas evoluíram. Os impactos tecnológicos foram incorporados na área de saúde e os cursos de medicina buscam aperfeiçoar a formação dos médicos para atender a essa evolução.

Ricardo Guimarães, médico oftalmologista e presidente da mantenedora da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana (Faseh), explica que, mesmo com todas essas mudanças e avanços, o foco dos médicos ainda é a prevenção. Esses cuidados na prevenção de doenças e na promoção de saúde são fundamentais desde os primeiros meses de vida.

Além disso, outro fato importante no cuidado com as crianças é a formação médica, que ocorre ainda na faculdade. “Certamente, o conhecimento médico, uma boa formação na faculdade, na residência ou especialização serão componentes importantes na formação de um bom profissional”, explica Ricardo Guimarães. Contudo, essa melhoria no atendimento às crianças e o sucesso profissional dependem de habilidades complementares, que não são oferecidas dentro do currículo médico.

Entre essas habilidades, o oftalmologista destaca três em especiais: gestão, comunicação e liderança. Ele explica que o médico deve atuar cada vez mais próximo de seu paciente: “Falamos de uma medicina dita dos 4 pês: personalizada, preditiva, preventiva e participativa”.

ACESSO À INFORMAÇÃO

Ricardo Guimarães chama a atenção para o fato de a evolução tecnológica e o acesso à informação por parte dos pacientes também influenciarem a educação médica que ocorre dentro das faculdades.

As faculdades de medicina, em grande parte, são instituições tradicionais. Segundo o especialista, são setores bastante regulamentados e conservadores, de forma que as mudanças nas esferas didático-pedagógicas e nas metodologias de ensino ocorrem de forma mais lenta. “Além disso, outra dificuldade enfrentada é o alto custo da infraestrutura necessária para o curso de medicina, que demanda sofisticados recursos em nível avançado, condizentes com o padrão máximo de excelência para o ensino da prática médica.”

Apesar disso, já é possível observar algumas mudanças: “Grande parte das faculdades já investiu em algum tipo de alteração curricular, ou na inovação educacional. As mudanças mais marcantes incluem novos conteúdos, métodos inovadores de ensino, novas estruturas curriculares e abordagens criativas para a avaliação do conhecimento”, conta.

Ricardo Guimarães destaca que a postura em sala de aula, dos treinamentos médicos, também está sendo renovada. Antes, os estudantes de medicina simplesmente assistiam às aulas dos professores passivamente. “Professor bom e sábio era o que ensinava, enquanto o aluno recebia os conhecimentos de forma passiva”, relata.

Agora, com as metodologias ativas, a sala de aula tradicional está dando lugar às salas interativas, com formação de grupos de discussão em modelos conhecidos de “Aprendizagem Ativa”. Trata-se de aprendizado baseado em resoluções de problemas, baseado em trabalho em grupo: “O objetivo é estimular o aluno a aprender, uma vez que vivemos em um mundo em constante evolução, onde há necessidade de nos mantermos em estado de aprendizado contínuo e de atualização permanente”.

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram

ARTIGO
Influência da neurociência na educação

Ângela Mathylde - Psicopedagoga clínica, conselheira nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia

“A neurociência analisa o funcionamento do cérebro, mais especificamente do sistema nervoso. A relação da neurociência com a educação é basicamente entender como o cérebro aprende, para que, assim, sejam adotadas ações para aperfeiçoar o aprendizado. A educação e a aprendizagem se relacionam com os processos neurais, em que os neurônios se conectam fazendo novas sinapses, estimulando a memória.

O estudo científico da educação desvenda os mecanismos do cérebro, analisando o funcionamento das regiões: sulcos, lobos, e reentrâncias. O processo também estabelece as funções, enfatizando a importância de um trabalho em conjunto, em que cada um precisa e interage com o outro.

A aprendizagem ocorre quando dois ou mais sistemas funcionam de forma inter-relacionada. Aliar atividades escolares com atividades lúdicas, como, por exemplo, a música e os jogos didáticos, estimula o trabalho simultâneo dos sistemas auditivo e visual, desenvolvendo, até mesmo, o sistema tátil, através das dramatizações impulsionadas pela música. A situação proporciona melhor aproveitamento das funções cerebrais e, consequentemente, fomenta a aprendizagem.

Conhecer as codificações e decodificações do cérebro permite compreender como funciona o processo de aprendizagem e trabalhar no aprimoramento de cada área para o indivíduo. As funções executivas e o sistema de comando inibitório do lobo pré-frontal são, hoje, fundamentais na educação.

O hipocampo, estrutura na região frontal do cérebro que acolhe o lobo pré-frontal, é extremamente importante na consolidação das memórias que, por sua vez, têm um importante papel no processo de aprendizagem. A preservação depende da reativação dos circuitos neurais, ou seja, as experiências e informações precisam ser repetidas para manter as conexões cerebrais relacionadas a elas. Outra forma de instigar o hipocampo são as emoções que influenciam funções importantes, como a atenção e a memória, valiosas para a aprendizagem.

O sono é outro mecanismo fundamental nesse processo, pois, ao dormir, o cérebro reorganiza as sinapses, eliminando aquelas em desuso e fortalecendo as mais importantes para comportamentos do cotidiano.

Nas escolas, não devemos apenas nos adaptar às salas de aula, temos que nos adequar à forma de aprender do aluno. A neurociência defende que os alunos devem ser estimulados e que os estudos ocorram em ambientes adequados, compreendendo que a aprendizagem é um processo biológico, e que a empatia, um ambiente de segurança, conforto, apoio e a afinidade entre pares, nas turmas, são importantes nesse processo.

A educação eficaz compreende o indivíduo como um ser único, respeitando as particularidades e habilidades. A neurociência entende o funcionamento do cérebro de forma individual, compreendendo que os processos devem ser aplicados conforme as necessidades, explorando as habilidades e estimulando a superação das dificuldades de aprendizagem de cada um.”