Loção contra queda de cabelo e calvície já é comercializada no Brasil e Estados Unidos

Produto foi desenvolvido pela UFMG depois de 30 anos de pesquisas

por Elian Guimarães 25/08/2018 17:48
Yeva/Divulgação
Antes e depois: de acordo com os pesquisadores, o tratamento com o produto apresenta resultado entre três e quatro meses de uso (foto: Yeva/Divulgação)

Pessoas propensas à calvície ou com queda de cabelo já podem contar com um novo produto que atua diretamente na formação dos fios de cabelo, fortalecendo o folículo capilar e estimulando o crescimento das células que formam cabelo. O tônico capilar é resultado de 30 anos de pesquisas do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais, e foi autorizada a produção em escala industrial pela empresa Yeva Cosméticos, situada em Itaúna, Região Central do estado, que precisou de ampliar suas instalações para atender ao crescente número de pedidos, no Brasil e nos Estados Unidos (ambos com autorização das instituições locais de vigilância sanitária para comercialização do produto).

A empresa trabalha com estimativa de produção e venda mensal de 150 mil unidades. O Sanctio, nome comercial do produto, já está à venda em sites de comércio eletrônico e redes farmacêuticas. Um frasco com 20ml custa entre R$ 130 e R$ 150, e dura em torno de 40 dias. O diferencial é que, durante a fase de testes, o produto não apresentou efeitos colaterais observados em outros medicamentos utilizados para esse objetivo. A patente da fase laboratorial pertence à UFMG, que firmou uma parceria com a indústria de cosméticos. Os royalties das vendas e uso do produto são direcionados à universidade e servem para financiar outras frentes de pesquisa. O início dos estudos foi há 30 anos, por meio do professor Robson dos Santos, que descobriu uma molécula presente no corpo humano e posteriormente capsulada com lipossomas (vesículas muito pequenas capazes de carregar princípios ativos) pelo pesquisador em nanotecnologia Fredeiric Frezzard.

A farmacêutica, professora do Centro Universitário UNA, Ana Paula Corrêa Oliveira Bahia, durante doutorado na UFMG, compôs grupo de pesquisadores que desenvolveu a formulação de lipossomas para uso tópico, a serem aplicados nas camadas da pele: “Os laboratórios dispõem de várias linhas de pesquisa, e nosso grupo passou a estudar a aplicação para crescimento de pelo”. A fase de pesquisa contra a calvície durou quatro anos. Os resultados foram enviados à empresa especializada em testes clínicos, em São Paulo, que selecionou 90 voluntários, registrando o aumento do crescimento dos pelos, mais em homens que em mulheres, sem deixar os cabelos oleosos, sem alteração das características do fio e sem qualquer reação alérgica.

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Ana Paula Corrêa Oliveira Bahia, durante doutorado na UFMG, fez parte do grupo de pesquisadores que desenvolveu a formulação de lipossomas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O tratamento tem a duração mínima entre três e quatro meses para apresentar os primeiros resultados, explica a farmacêutica, e não há indicação de faixa etária para ser iniciado. “O importante é que a área onde será aplicado disponha de folículo piloso (ou folículo pilosebáceo), que é a cavidade na qual o cabelo nasce. O folículo morre com o tempo e então torna-se impossível recuperar a área atingida, por isso é importante começar o tratamento aos primeiros sinais de calvície”, alerta.

A formulação é leve, não oleosa, e consiste em um tônico que deve ser pingado durante a noite na região de controle da calvície e deixá-lo secar naturalmente. Ele deve ser de uso contínuo. O líquido atinge a camada mais profunda da pele, sem atingir a corrente sanguínea, nutrindo o fio e fazendo-o crescer.

Parceria

Carina Soares, sócia-fundadora e diretora comercial da Yeva, conta que as negociações para industrialização e comercialização do produto foram fruto do setor técnico da empresa, que começou as negociações assim que chegaram as informações sobre a descoberta da fórmula. “O produto, patenteado em escala laboratorial, precisava de um processo de desenvolvimento em escala industrial, mantendo sua qualidade e características.” Foram dois anos de adequações. A empresa praticamente dobrou o número de funcionários diretos e gerou outros postos indiretos. Investiu em equipamentos. Uma empresa parceira instalada na BHTec, a Alamantec, viabilizou os procedimentos de licenciamento para o uso da tecnologia pela Yeva, que hoje tem a exclusividade de produção e comercialização no Brasil e nos EUA.

Jair Amaral/EM/D.A Press
"Foram dois anos de adequações. A empresa praticamente dobrou o número de funcionários. É um longo processo, com investimentos consideráveis, sempre em parceria empresa e pesquisadores no sentido de um apoio mútuo em todas as etapas" - Carina Soares, diretora comercial da Yeva (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Carina Soares reforçou a importância de parcerias da indústria com as universidades e instituições de pesquisa: “É um longo processo, com investimentos consideráveis, sempre em parceria empresa e pesquisadores no sentido de um apoio mútuo em todas as etapas”.

Essa parceria foi selada pouco antes de o governo federal anunciar cortes nas áreas de pesquisa e tecnologia. Em entrevista à Rede Brasil de Comunicação, o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, afirmou que a medida implica perdas de quase R$ 800 milhões a instituições subordinadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “No total, nove atividades foram canceladas em decorrência da suspensão dos repasses. Parece que é pouco, mas é tirar pouco de algo que já está no limite”, disse Moreira à Rede Brasil.