Espinhas em mulheres adultas podem indicar síndrome do ovário policístico

Doença afeta cerca de 10% do sexo feminino na fase reprodutiva

por Augusto Pio 24/07/2018 11:50
Kjesrstin Michaela/Pixabay
(foto: Kjesrstin Michaela/Pixabay )

A acne é uma doença que incomoda principalmente na adolescência, quando os hormônios e a vaidade estão aflorados e o aparecimento de espinhas compromete a autoestima. Porém, na mulher adulta, é também é indicação da presença da síndrome do ovário policístico (SOP), principalmente quando concentrada em áreas como queixo, mandíbula e pescoço. A doença é a segunda principal causa de infertilidade feminina, perdendo apenas para a endometriose, afetando cerca de 10% das mulheres na fase reprodutiva, e se caracteriza pela presença de pequenas bolsas de água (cistos) no ovário, atrapalhando o funcionamento do órgão com o aumento da produção de testosterona (hormônio masculino).

Agnaldo Lopes Silva Filho, ginecologista, professor da UFMG e vice-presidente da Região Sudeste da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que a SOP é um transtorno hormonal que afeta uma em cada seis mulheres em idade reprodutiva e que pode envolver irregularidade menstrual, acnes, excesso de pelos no corpo, infertilidade, além de alterações metabólicas como diabetes tipo 2, resistência à insulina, aumento de colesterol e doenças cardiovascular.

“Não existem subtipos de síndrome, ela é uma só. A falta de ovulação crônica pode ser a causa da SOP. O diagnóstico é importante para afastar outras causas, entre elas, doenças tireoidianas e suprarrenal, além de hormônios produtores de androgênio”, esclarece o especialista. A irregularidade menstrual (tanto o excesso quanto a falta) também está ligada à síndrome. A consequência a longo prazo pode incluir a infertilidade, câncer de endométrio, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

O médico explica que a SOP é um transtorno que, provavelmente, tem alguma origem genética. “Não há como evitar a doença, mas, para impedir as consequências a longo prazo, é importante a prática de atividade física regular, controlar o peso corporal e ter uma dieta balanceada. Do ponto de vista das alterações de pele, podem ser utilizadas combinações hormonais e medidas cosméticas. O diagnóstico é realizado pela sintomatologia clínica, podendo ser realizada a ultrassonografia transvaginal. Em algumas situações, é necessária a solicitação de outros exames, como o de sangue (que mostram um aumento dos androgênios), para afastar outras doenças que podem simular a condição da síndrome.”

ESTILO DE VIDA

Agnaldo ressalta que o tratamento se baseia em três pilares: mudanças no estilo de vida, dieta saudável, atividades físicas regulares e redução do peso. “Opções cosméticas tópicas para os sintomas androgênicos na pele (excesso de pelos e acne) e o tratamento farmacológico para reduzir o nível de androgênio circulante e controlar seu efeito nos tecidos. O tratamento necessita da avaliação de um ginecologista e, em algumas situações, pode ser necessário o envolvimento de uma equipe multidisciplinar composta por dermatologista, cardiologista e endocrinologista. O critério mais importante para o diagnóstico deve ser o exame clínico e os sintomas da paciente”, reforça.

Ele alerta que as alterações metabólicas, a longo prazo, aumentam as chances de infarto e derrame (AVC). “Recentemente, alguns estudos mostram que a SOP apresenta diferentes manifestações na mulher jovem até a adulta. Na infância, a doença pode estar associada à resistência à insulina, excesso de ganho de peso ou mesmo a primeira menstruação mais precoce. Na mulher adulta, está relacionada ao excesso de peso, uma obesidade central, irregularidade menstrual, infertilidade e até complicações na gravidez. Já na mulher que está na faixa etária mais avançada, há ligação com a diabetes tipo 2, aumento do colesterol, hipertensão arterial, doença cardiovascular e câncer de ovário.”

O ginecologista diz que a doença não tem cura, mas, sim, controle. “As complicações a longo prazo podem ser evitadas por uma mudança no estilo de vida e medidas terapêuticas aumentadas.” Ele aponta que a infertilidade está presente em até 75% das pacientes e o aumento de pelos em até 90% das pacientes. “As mulheres com ovário policístico têm uma diminuição na qualidade de vida em até 50%, especialmente por conta dos sintomas cutâneos (que incluem seborreia, acne), hinsurtismo (aumento de peso) e alopecia. O grande marcador da doença é o excesso de pelos. Em relação à acne, nas adolescentes pode ocorrer em até 95% da população. No entanto, uma a cada quatro mulheres adultas apresenta acne.”