Especialista fala sobre os avanços da cirurgia plástica no Brasil

A busca pela beleza e pelo bem-estar físico e emocional leva cada vez mais pacientes aos consultórios

por Laura Valente 05/06/2018 07:00
João Carlos Martins/Encontro
(foto: João Carlos Martins/Encontro )

Referência em cirurgia plástica, o Brasil se destaca com grandes especialistas e desenvolvimento de técnicas mais avançadas na área. Um dos profissionais mais respeitados de Belo Horizonte, com 43 anos de atuação, Teófilo Taranto diz que o Brasil é vice-campeão mundial na busca por procedimentos estéticos e reparadores via intervenção cirúrgica e chama a atenção para cuidados e manutenção exigidos pela prótese de silicone e os avanços na lipoaspiração. Em entrevista ao Estado de Minas, ele revela quais são os principais avanços e os procedimentos mais realizados no país.

Quais são as cirurgias mais procuradas em seu consultório?

Na ordem: lipoaspiração, mamaplastia de aumento, ritidoplastia, abdominoplatia, mastopexia e mamaplastia redutora.

Quais as principais queixas dos pacientes que procuram o consultório?

Para atender ao padrão de beleza contemporâneo, pacientes queixam de gorduras localizadas, refratárias ao emagrecimento e procuram por lipoaspiração. O pequeno tamanho das mamas levam à busca pelos implantes de silicone. Já a ritidoplastia (cirurgia para o rejuvenescimento facial) é procurada por pacientes que não se identificam com a face marcada pelos sinais de envelhecimento e até por executivos em um mercado de trabalho que privilegia o mais jovem. As queixas para abdominoplastia são de mulheres jovens que apresentam alterações estéticas no abdome pós-gestações e também pacientes com faixa etária mais elevada que se incomodam com o aumento de volume e flacidez abdominais provocados pelo tempo. Pacientes queixando de mamas flácidas e caídas querem uma mastopexia e, finalmente, as que se queixam de aumento do volume e do peso das mamas querem uma mamaplastia redutora.

Há modismo em cirurgia plástica?

Há, sim. Frequentemente, um procedimento realizado por pessoa ou artista conhecido se torna muito procurado nos consultórios de cirurgia plástica. Mas, o paciente que deseja uma cirurgia motivado pelo modismo deve ser avaliado cuidadosamente. Somente técnicas divulgadas cientificamente e, portanto, aprovadas após estudos e avaliações de longo prazo devem ser usadas. Atualmente, pacientes têm procurado a mamaplastia de aumento para atender à mudança observada no padrão brasileiro de beleza que prevê mamas maiores. Antes, a cada 10 mamaplastias, nove eram para reduzir e somente uma para aumentar, e, hoje, minha prática diária mostra exatamente o contrário: são nove para aumentar e somente uma para reduzir. Acredito que esse padrão deverá permanecer, uma vez que a mama desempenha um papel importantíssimo na beleza do contorno corporal feminino.

E quais são os principais cuidados com a prótese de silicone?

Importante frisar que a candidata a implante de prótese deve ser esclarecida sobre o fato de o silicone representar “um mal necessário”. Isso por se tratar de um corpo estranho, químico, manufaturado e colocado em uma área nobre do corpo em que podem se alojar muitas doenças. Para que o silicone seja somente motivo de felicidade para a paciente é necessário um controle rigoroso, com autoexame diário, acompanhamento anual radiológico e ultrassonográfico das mamas e troca da prótese a partir dos 10 anos de uso (ainda não existe prótese definitiva). Visitas regulares ao cirurgião plástico que implantou o silicone também são importantes.

O que define uma cirurgia plástica de sucesso?

Segurança e naturalidade. Obviamente, o desejo do paciente deve ser atendido. No caso de um implante de silicone, a mama aumentada deve ser elogiada por sua beleza em si e não por ser evidente a existência de uma prótese. As mulheres que não aceitam essas ponderações não são boas candidatas para a cirurgia e, em minha opinião, a intervenção deve ser contraindicada. Além disso, a mamaplastia de aumento deve ser realizada somente após o completo desenvolvimento da mama e amadurecimento psicológico da paciente. Parecer do ginecologista deve ser levado em consideração e observada a idade mínima de 16 anos e, no mínimo, três anos após a menarca (primeira menstruação). "Duas palavras sintetizam a cirurgia plástica bem-sucedida: segurança e naturalidade"

E a lipo? Quais os principais avanços na área?

Lipoaspiração é a retirada de gordura através de movimentos de uma cânula fina e romba, acoplada a um aparelho de vácuo, técnica denominada lipoaspiração assistida a vácuo. Com o aumento do foco na aparência estética, a lipo tornou-se o procedimento mais popular desde sua introdução na década de 1980 do século passado. Desde então, foram surgindo variações técnicas como a lipoaspiração ultrassônica interna e externa, lipoaspiração a laser e vibro lipoaspiração. Todas implicam pequenas incisões para a aspiração do tecido adiposo e os resultados oferecidos não diferem do procedimento inicial.

A partir de qual idade e em que circunstâncias há indicação para lipoaspiração?

A partir dos 18 anos (idade em que o amadurecimento corporal e emocional já estejam estabelecidos de forma clara), em pacientes sem excesso de peso e que apresentam gorduras localizadas refratárias ao emagrecimento. A recomendação atual é que o paciente esteja dentro de 30% do seu índice de massa corporal. Em pacientes obesos os resultados são insatisfatórios e o procedimento apresenta maiores taxas de complicações.

Quais são as principais contraindicações?

Pacientes portadores de grande excesso de peso que procuram a cirurgia em busca de emagrecimento. E isso por que a lipoaspiração não é indicada para emagrecer, mas, sim, tratar gorduras localizadas refratárias ao emagrecimento. Há, ainda, pacientes portadores de doenças descompensadas (diabetes, hipertensão e outras) e de transtorno dismórfico corporal, situação em que procuram a lipoaspiração para tratar defeitos estéticos mínimos ou mesmo inexistentes.

Há novidades que têm tornado a lipoaspiração mais segura?

A lipoaspiração é tão segura quanto qualquer outra cirurgia plástica. Listo, aqui, alguns cuidados que devem, em minha opinião, ser seguidos por paciente e cirurgião: o cirurgião deve estar treinado para a realização do procedimento e deve ser ligado a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica; indicar a lipoaspiração para pacientes com o índice de massa corporal normal ou no máximo sem sobrepeso; contraindicar o procedimento em pacientes obesos. As determinações estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina devem ser observadas rigorosamente como realizar a cirurgia em local apropriado com instalações autorizadas pela Vigilância Sanitária; a cirurgia não deve ultrapassar 40% da superfície corporal; o volume máximo de aspiração não deve ultrapassar de 5% a 7 % do peso corporal; pesquisar ativamente a possibilidade de o paciente ser portador de trombofilia (situação clínica em que há tendência a desenvolver trombose venosa profunda); fazer, rigorosamente, prevenção química e mecânica de trombose.

O que o senhor aponta como o futuro da lipoaspiração?

No futuro, em minha opinião, a lipoaspiração será menos traumática e menos invasiva com a interação de métodos físicos e químicos para a destruição e eliminação das células adiposas localizadas.

Os homens também têm procurado a cirurgia? No consultório do senhor, qual é a proporção dos que procuram a lipo?

No mercado de trabalho competitivo em que vivemos, o jovem, o magro e o belo têm preferência. Essa realidade faz com que, cada vez mais, os homens busquem os consultórios de cirurgia plástica. Em meu consultório, aproximadamente 50% dos pacientes do sexo masculino procuram por lipoaspiração, especialmente para tratar gordura localizada no abdome e flancos.

Fale brevemente sobre as principais indicações e avanços nas demais cirurgias que lideram o ranking de procura em seu consultório.

Na abdominoplastia, que tem como principal indicação corrigir o volume e ou a flacidez do abdome (que pode ser secundário à gestação, excesso peso e grandes perdas ponderais, especialmente pós-cirurgia bariátrica), avanço já utilizado há algum tempo é a associação com a lipoaspiração, que oferece resultados melhores em relação ao abdome superior. A técnica é hoje chamada de lipoabdominoplastia. Já na mastopexia, indicada para a correção de mamas flácidas e caídas, o grande avanço é o uso inquestionável de prótese de silicone para armação da mama, excluindo técnicas em que era utilizado o próprio tecido da paciente. Na mamaplastia redutora, que diminui o tamanho e volume da mama, indicada para fins estéticos e ou reparadores, quando o excesso de peso na mama implica problemas posturais, a segurança oferecida pelas próteses de silicone de última geração impactou diretamente a técnica de redução de mamas constituídas predominantemente por tecido gorduroso. Visando resultados melhores e mais duradouros, ainda que o objetivo principal seja a redução de tamanho, fazemos uso de pequena prótese de silicone. Esta técnica, chamada de mamaplastia redutora estruturada, constitui um grande avanço nas cirurgias redutoras de mama.

Por fim, sabemos que o Brasil é o vice-campeão no ranking mundial de cirurgia plástica, perdendo apenas para os EUA. O que atrai tantos pacientes aos consultórios e clínicas?

O Brasil é, sem dúvida, uma referência mundial em cirurgia plástica. Inúmeras técnicas, mundialmente usadas, são de autores brasileiros entre os quais se destaca o professor Ivo Pitanguy, recentemente falecido, que abriu o mundo para a cirurgia plástica brasileira. Acredito que chegamos à marca pelo fato de a cirurgia plástica proporcionar uma autoimagem positiva indispensável ao bem-estar psicológico, autoestima elevada e felicidade das pessoas. Por isso tantos pacientes são atraídos aos consultórios e clínicas.