Tatuagem alerta sobre maior risco de alguns tipos de câncer, como de mama, pulmão e cólon

Sensor implantado na pele libera um pigmento escuro quando detecta o aumento de cálcio no sangue do usuário. A complicação, chamada hipercalcemia, pode anteceder o surgimento de tumores variados

Correio Braziliense 20/04/2018 13:46
Reprodução/Internet/valentereispessali.com.br
(foto: Reprodução/Internet/valentereispessali.com.br)

Na medicina, quanto mais cedo ocorre a descoberta de uma doença, maiores as possibilidades de tratá-la. Essa ação precoce é ainda mais valiosa no caso de doenças graves e progressivas, como cânceres. Com esse objetivo, pesquisadores da Suíça trabalham em uma ferramenta que consegue detectar uma alteração fisiológica que antecede o surgimento de tumores: a hipercalcemia, caracterizada pelo aumento das taxas de cálcio no corpo. A tecnologia funciona como uma espécie de sensor que, depois de implantado sobre a pele do usuário, alerta, com o surgimento de uma mancha, sobre a ocorrência da complicação que pode levar a problemas ainda maiores.

Testada em ratos, a tatuagem biomédica apresentou resultados promissores. “O diagnóstico marca o início de qualquer terapia bem-sucedida, mas muitas condições médicas progridem de forma assintomática por longos períodos. Por isso, seu diagnóstico oportuno permanece difícil, e isso afeta adversamente o prognóstico do paciente”, ressaltaram os autores, em comunicado. A pesquisa, detalhada na edição desta semana da revista Science Translational Medicine, foi liderada por Martin Fussenegger, cientista da Universidade de Basel.

Para desenvolver o aparelho, Fussenegger e a equipe projetaram células artificiais que continham um receptor sensível ao cálcio. Dessa forma, pode-se monitorar a concentração do elemento químico em amostras de sangue. As células também foram planejadas para produzir o pigmento melanina. Se a detecção de concentrações de cálcio estiver acima da média, os sensores se expressam pela fabricação da melanina, que é liberada e aparece na pele como uma mancha escura. “Confirmamos que essa mudança pode ser vista a olho nu”, ressaltaram os autores.

A equipe testou a tecnologia implantando as células modificadas sob a pele de dois grupos de camundongos: um com tumores cancerígenos que causam a hipercalcemia e outros com cânceres que não afetam os níveis de cálcio. As tatuagens apareceram apenas na pele dos camundongos do primeiro grupo antes do surgimento dos sintomas da doença. Entre os carcinomas que podem ter a hipercalcemia como preditivo estão os de mama, cólon, próstata, pulmão, gastrointestinal e hematológico.

Embora a abordagem esteja nas fases iniciais de experimentação, os cientistas acreditam que ela poderá oferecer aos médicos um novo método de detecção de carcinomas e de outras complicações antecedidas pela hipercalcemia, como a insuficiência renal. “Classicamente, o tratamento médico começa com o diagnóstico após o desenvolvimento de sintomas subjetivos, mas isso pode ser tarde demais para uma terapia eficaz. O cálcio é exigido por todas as células vivas para manter a sua estrutura normal e sua função, mas só recentemente foi descoberto o seu papel como um dos principais mensageiros e um dos pilares do desenvolvimento de alguns tipos de câncer. Acreditamos que, com essa tecnologia, ele não passe mais despercebido e se torne um marcador potencial para denunciar problemas de saúde de forma precoce”, frisaram os cientistas.

Prioridade global

Segundo os autores, há um interesse crescente em medidas proativas para prevenir doenças, como o acompanhamento de indivíduos com base no histórico familiar e no estilo de vida. Começa a ganhar força também a demanda por dispositivos de diagnóstico mais eficazes. “Soluções que consigam monitorar, a longo prazo, os metabólitos relacionados com as doenças, para detectar o aparecimento ou a recorrência de condições precoces e, assim, otimizar o prognóstico e o sucesso no tratamento”, ilustraram.

Para a equipe, o tratamento de tumores poderá ser uma das áreas mais beneficiadas pelo sensor de pele. “Entre os alvos potenciais para esses dispositivos o câncer é considerado prioridade de saúde global, com mais de 14 milhões de novos casos por ano e representando cerca de 15% de todas as mortes. Além disso, está bem estabelecido que a detecção de câncer assintomático pode melhorar significativamente o prognóstico”, justificaram.

Saiba mais

Menos efeito colateral

Drogas usadas na quimioterapia podem ter os efeitos colaterais amenizados pelo uso de um dispositivo criado por pesquisadores britânicos. Hoje, elas são aplicadas na corrente sanguínea e, até chegar às células cancerígenas, podem comprometer estruturas saudáveis do corpo, causando problemas como perda de cabelo e fadiga extrema. Uma equipe da Universidade de Cardiff criou um nanotubo capaz de levar o remédio ao local esperado sem causar reações adversas. Por conta do tamanho, os nanotubos se locomovem pelo corpo e “depositam” a droga exatamente no câncer. Eles geralmente são feitos de fibra de carbono, mas há suspeita de que tenham propriedades semelhantes ao amianto, que é tóxico para humanos. A versão criada pelos ingleses, além de mais flexível, é feita de um material biocompatível, o que sinaliza que deverá ser bem tolerada pelo organismo. Detalhes do trabalho foram divulgados na revista Nanoscale.