Pesquisadores criam curativo que não desgruda das dobras

O dispositivo é feito de um filme adesivo fino e leve, que se mantém fixo mesmo depois de 100 dobras na região em que está colado

por Estado de Minas 17/04/2018 13:06
Reprodução/Internet/Depositphotos
(foto: Reprodução/Internet/Depositphotos)

Quem já cortou um dedo ou ralou o joelho sabe o quanto é difícil prender um curativo nessas regiões. O adesivo plano comumente usado se descola a cada movimento. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, buscaram no kirigami - arte japonesa que usa cortes em uma folha de papel para obter estruturas em três dimensões - uma solução para o problema.

O dispositivo é feito de um filme adesivo fino e leve, que se mantém fixo mesmo depois de 100 dobras na região em que está colado. Os cortes possibilitam que o adesivo se estique consideravelmente, mais que o curativo tradicional, além de se adaptar melhor ao formato da parte do corpo desejada. O filme foi testado no joelho de uma voluntária, e os cientistas observaram que, toda as vezes em que a parte do corpo era dobrada, os cortes centrais da folha se abriram e os exteriores permaneceram fechados. Segundo eles, esse movimento libera parte da tensão pelas aberturas, mantendo o adesivo firme sobre a pele.

Os adesivos foram fabricados com borracha líquida, despejada em moldes impressos em 3D. Cada molde tinha uma fileira de sulcos com diferentes espaçamentos. Uma vez curadas e retiradas dos moldes, as camadas de borracha eram cortadas nesses locais. Segundo Ruike Zhao, principal autora do estudo, o filme pode ser feito de vários materiais, desde plásticos até folhas de metal. Vários padrões de cortes também podem ser usados, de acordo com as propriedades desejadas.

Por exemplo, a equipe criou uma almofada térmica com o mesmo material, permeada por fios para o aquecimento. A almofada consegue manter uma temperatura de quase 38ºC. Os cientistas também desenvolveram uma versão do filme que pode emitir luz, funcionando como uma tela acoplada à pele. Detalhes do trabalho foram divulgados na versão on-line da revista Soft Matter.

Gel

Segundo Ruike Zhao, o kirigami pode ser aplicado em uma gama de produtos. “Atualmente, no campo dos eletrônicos flexíveis, as pessoas costumam colocar os dispositivos em regiões que se deformam pouco, mas não nas juntas, pois os aparelhos descolariam. Acho que o filme de kirigami é uma solução para esse problema comum”, aponta.

A pesquisadora explica que, na maioria das vezes, as pessoas fazem cortes em uma estrutura para torná-la flexível. “Nós somos o primeiro grupo a descobrir, com um estudo sistemático desse mecanismo, que um padrão kirigami pode aumentar a adesão de um material”, ressalta.

A intenção da equipe é, a partir de agora, explorar a técnica em outros materiais. “Os filmes atuais são puramente borrachas. Queremos mudar o material para géis, que podem diretamente transferir medicamentos para a pele. Esse é nosso próximo passo”, adianta Ruike Zhao.