Cientistas desenvolvem terapia virtual contra paranoia e ansiedade

Mais testes são necessários para confirmar os benefícios a longo prazo desse tipo de tecnologia, que simula estar em uma realidade cheia de avatares virtuais

por Correio Braziliense 21/02/2018 13:40
Ilustração/Maurenilson Freire
(foto: Ilustração/Maurenilson Freire)

Uma terapia que combina realidade virtual com tratamentos tradicionais, desenvolvida por cientistas na Holanda, pode se tornar um grande aliado para combater a paranoia e a ansiedade em pessoas com transtornos psicóticos. Testes clínicos realizados em 116 pacientes tiveram resultados promissores, descreveram cientistas na revista The Lancet Psychiatry. Segundo o estudo, os exercícios tornaram as relações sociais dos pacientes menos tensas.

Embora animado, o grupo de especialistas liderado por Roos Pot-Kolder, da VU University da Holanda, destaca que mais testes são necessários para confirmar os benefícios a longo prazo desse tipo de tecnologia, que simula estar em uma realidade cheia de avatares virtuais.

Estima-se que até 90% dos pacientes com psicoses têm pensamentos paranoicos, o que os leva a perceber ameaças onde não há nenhuma. Como resultado, muitos evitam lugares públicos, assim como o contato com pessoas, passando muito tempo sozinhos. A terapia cognitivo-comportamental (CBT), em que os pacientes recebem ajuda para superar problemas que parecem esmagadores, ajuda a reduzir a ansiedade, mas faz pouco para controlar a paranoia. Daí a expectativa em torno do novo estudo.

Para o teste, os 116 participantes receberam um tratamento tradicional, com medicação antipsicótica e consultas com o psiquiatra. Metade deles também praticou interações sociais em um ambiente virtual. Essa parte da terapia consistiu em 16 sessões de uma hora de duração, num período de entre oito a 12 semanas.

Os pacientes foram expostos, por meio de avatares virtuais, a situações sociais que provocariam medo e paranoia em quatro cenários: a rua, o ônibus, o café e o supermercado. Os terapeutas podiam alterar a quantidade de avatares, sua aparência e se as respostas já registradas para o paciente eram neutras ou hostis. Os especialistas também aconselhavam os participantes, ajudando-os a explorar e testar seus próprios sentimentos em diferentes situações.

Eles foram avaliados no início do teste, três meses e seis meses depois. O estudo revelou que a exposição à realidade virtual não aumentou o tempo que os participantes passaram com outras pessoas, mas, sim, a qualidade das interações. “A adição da realidade virtual aos tratamentos tradicionais reduziu os sentimentos paranóicos e o uso de comportamentos ansiosos em situações sociais, em comparação com a terapia padrão sozinha”, resumiu a autora principal, Roos Pot-Kolder.