Salmonela é ligada à peste mexicana durante o Império Asteca

Pesquisadores analisaram DNA de esqueletos enterrados em um cemitério de vítimas: mais de 15 milhões de pessoas morreram

por Estado de Minas 17/01/2018 17:12
Teposcolula-Yucundaa Archaeological Project/Divulgação
(foto: Teposcolula-Yucundaa Archaeological Project/Divulgação )
Em 1945, no fim do Império Asteca, a segunda pior epidemia da história da humanidade tomou conta de áreas que hoje correspondem ao México e a uma parte da Guatemala. Acometidas por febre alta, dores de cabeça e sangramentos nos olhos, na boca e no nariz, cerca de 15 milhões de pessoas perderam a vida na região. O que deu origem ao cocoliztli, também chamado de peste mexicana, ainda desafia os cientistas. Esta semana, uma equipe alemã divulgou, na revista Nature Ecology & Evolution, resultados de um trabalho que traz luz ao mistério de mais de 500 anos.

“O cocoliztli foi uma das muitas epidemias que afetaram o México após a chegada dos europeus, mas foi especificamente a segunda das três epidemias mais devastadoras. A causa dessa epidemia tem sido debatida por mais de um século pelos historiadores e, agora, somos capazes de fornecer evidências diretas, através do uso de DNA antigo, para contribuir com uma questão histórica de longa data”, ressaltou, em comunicado, Ashild Vagene, cientista da Universidade de Tubinga, na Alemanha.

Os investigadores analisaram o DNA extraído de 29 esqueletos enterrados em um cemitério de mortos pela peste mexicana no sítio arqueológico de Teposcolula-Yucundaa. O local foi descoberto no começo deste século, sob a praça grande da antiga cidade e tem cerca de 800 corpos sepultados. A equipe detectou vestígios da bactéria Salmonella enterica, da variedade paratyphi C, nos restos mortais. “Testamos para todas as bactérias patógenas e vírus dos que temos dados genômicos e a Salmonella enterica foi o único germe detectado”, contou Alexander Herbig, também da Universidade de Tubinga.

O micro-organismo é conhecido por causar febres entéricas, como a tifoide, e, antes da epidemia, era detectado na Europa. O cocoliztli acometeu os astecas depois que colonizadores europeus chegaram ao Novo Mundo, trazendo germes completamente desconhecidos para as populações locais, que não tinham nenhum tipo de imunidade para combatê-los. Hoje, esse subtipo mexicano raramente causa infecções em humanos. À época, porém, dizimou em torno de 80% da população da região. Um número de vítimas menor apenas que o da peste negra, que matou 25 milhões de pessoas na Europa Ocidental no século 14, segundo estimativas.

Cepas do micro-organismo devem ter viajado para o México em animais domesticados trazidos pelos espanhóis e se disseminado na população por meio de alimentos e água infectados. Os pesquisadores, porém, ressaltam que é possível que outros agentes patogênicos da época sejam hoje indetectáveis ou completamente desconhecidos. “Não podemos dizer com certeza que a Salmonella enterica tenha sido a causa da epidemia de cocoliztli. Mas acreditamos que deve ser considerada um candidato forte”, ressaltou Kirsten Bos, também participante no estudo.