Banhos de sauna ajudam a evitar problemas cardíacos, dizem pesquisadores

Permanência de 30 minutos ajuda a evitar a hipertensão e o acúmulo de placas de gordura nas artérias, indica estudo finlandês. Segundo os estudiosos, os benefícios são similares aos de corridas com a mesma duração

por Vilhena Soares 17/01/2018 15:18
Valdo Virgo/CB/D.A Press
(foto: Valdo Virgo/CB/D.A Press)

Após realizar exercícios ou depois de um dia de trabalho exaustivo, um banho de sauna é a opção escolhida por muitas pessoas para relaxar o corpo. O hábito, além de trazer descanso e benefícios estéticos, pode ajudar a prevenir problemas cardíacos, segundo um estudo finlandês. Em experimento com voluntários, os pesquisadores concluíram que 30 minutos da experiência reduzem a pressão arterial e aumentam a elasticidade vascular, ao mesmo tempo em que aumentam a frequência cardíaca de forma semelhante a exercícios físicos de média intensidade, como uma corrida também de meia hora. Segundo os autores, os resultados, divulgados no periódico internacional Journal of Human Hypertension, sinalizam que a sauna pode ser usada como uma terapia auxiliar para pessoas com problemas cardíacos.

Duas questões motivaram os cientistas a estudar os efeitos da sauna no organismo humano: pesquisas anteriores indicando ganhos à saúde cardíaca provocados pela prática e o fato de ela ser um hábito forte na Finlândia. “Aqui, nós realizamos muito essa atividade. Ela é útil após o treinamento físico, para a saúde, o corpo e a mente”, conta ao Estado de Minas Jari Laukkanen, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade da Finlândia Oriental.

Laukkanen e sua equipe acompanharam 102 voluntários, com idade média de 51 anos e sem diagnóstico de problemas cardíacos. Os participantes realizaram uma sessão de sauna, a uma temperatura de 73ºC, durante 30 minutos. Também foram submetidos a uma série de exames para a avaliação de dados relacionados à saúde cardiovascular, como velocidade da onda de pulso, frequência cardíaca, pressão arterial e pressão de pulso. Os testes foram realizados antes, logo após a sauna e 30 minutos depois da atividade.

Os cientistas observaram que, imediatamente após o banho de sauna, a pressão arterial sistólica (quando o coração se contrai) e a diastólica (quando o órgão relaxa) dos voluntários foram reduzidas, sendo que a sistólica permaneceu menor meia hora depois da experiência. A velocidade da onda de pulso carotídeo femoral média - um marcador da rigidez arterial - foi de 9,8m/s antes da sauna para 8,6 m/s imediatamente após. A queda no número indica que a artéria está mais elástica, facilitando a circulação sanguínea.

“Todos esses fatores mostram como a função vascular é melhorada com essa atividade. Vemos como ela reduz a pressão sanguínea e aumenta a adesão vascular, ou seja, impede o endurecimento arterial, problema que pode gerar complicações ainda mais graves, como a aterosclerose”, explica o autor. A arterosclerose se caracteriza pelo acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias, levando a infartos e acidentes vasculares cerebrais.

De acordo com os cientistas, em conjunto com pesquisas anteriores feitas pelo grupo - mostrando como a prática está associada ao risco reduzido de doenças coronárias, hipertensão e doenças respiratórias -, os dados obtidos fazem da sauna uma atividade com potencial para a manutenção da saúde. “Ela pode, principalmente, tornar-se uma atividade recomendada para pessoas com problemas cardíacos, mantendo a estabilidade cardíaca”, destaca Laukkanen.

Coadjuvante

Lázaro Fernandes de Miranda, coordenador de Cardiologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), avalia que o estudo aborda um tema importante, mas demanda uma análise ainda mais ampla. “É um estudo interessante, mas ainda piloto, feito com um número pequeno de pessoas, mas que chama a atenção para um aspecto que já conhecemos em relação à pressão arterial. Sabemos que ela sobe no frio. Em países com temperaturas mais baixas, os hipertensos sofrem mais problemas em época de inverno rigoroso. São achados interessantes. Porém, que precisam ser avaliados também em pessoas que sofrem com a hipertensão. Outro ponto de análise importante é ter pessoas que não passam pela atividade, um grupo de controle, para que tenhamos uma comparação”, pontua.

Miranda também ressalta que a pesquisa traz uma abordagem promissora para a análise da complacência vascular arterial, um importante indicador da saúde cardíaca. “Essa medida avalia a elasticidade das artérias, que impede o surgimento da aterosclerose. Ela foi medida por meio de um ultrassom, um exame menos evasivo que os normais. E o resultado mostra que, com a sauna, essa elasticidade se mostrou maior”, explica o médico.

Segundo Thiago Costa de Oliveira, cardiologista do Aliança Instituto de Oncologia, em Brasília, pesquisas anteriores mostram que a frequência com que a atividade é praticada também interfere nos benefícios alcançados. Ainda assim, o especialista recomenda cautela. “Acredito que ela não seria um tratamento principal, mas poderia ser usada como uma terapia coadjuvante, para evitar problemas como a aterosclerose. Mas muito cuidado deve ser tomado, porque não é qualquer paciente que se encaixa. Pessoas com doenças infecciosas não podem usar sauna, quem teve uma angina recentemente, indivíduos que não têm a hipertensão controlada e principalmente pacientes que sofreram infartos recentes, também não”, lista.

Outro cuidado, segundo o cardiologista, envolve a combinação da sauna com o consumo de bebidas alcoólicas. “Aumenta o risco de alguma complicação ocorrer”, explica. “Mais um ponto importante de frisar é o tempo da atividade. Pesquisas mostram que, para ter benefícios à saúde, é necessário cerca de 20 minutos de sauna, mas eles não precisam ser contínuos, pois intervalos são necessários para a hidratação.”

Seca ou úmida?

Paulo Lannes, de 28 anos, é um admirador da sauna. O historiador da arte tomou gosto pela atividade, que entrou em sua rotina devido aos exercícios físicos. “Há uns cinco anos, eu praticava corrida de rua e adorava ir logo depois dos treinos para a sauna. Achava que relaxava os músculos, me deixava mais disposto. Eu também sentia a pele melhor”, lista.

Mesmo depois de deixar a corrida de lado, a sauna segue na rotina de Lannes. “Costumo ir à sauna do clube de que sou sócio durante os fins de semana, após tomar sol ou nadar na piscina. Vou uma ou duas vezes por semana, fico uns 10 minutos, normalmente na seca, e saio mais bem-disposto”, diz. Os testes da pesquisa finlandesa divulgada recentemente no Journal of Human Hypertension foram feitos em sauna seca, com umidade entre 15% e 20%. A equipe planeja testar a sauna úmida, mas acredita que os benefícios devem ser os mesmos.

Outra questão a ser estudada é por que a experiência aumenta a frequência cardíaca - velocidade do ciclo cardíaco - de forma semelhante aos exercícios de intensidade média e a temperatura corporal em aproximadamente 2°C. “Vamos realizar muitos novos estudos nesse campo de pesquisa. Também queremos mostrar possíveis mecanismos que explicam nossas descobertas”, complementa Laukkanen.

O cientista também ressalta que outro fator positivo é a aceitação da sauna, o que facilitaria uma possível recomendação médica. “Sabemos que é uma atividade de relaxamento, do corpo e mente, até a transpiração melhora com ela. Sempre encontramos relatos positivos dos participantes”, diz.

Símbolo nacional

A sauna foi criada há cerca de 9 mil anos por povos nômades da Finlândia e se tornou um símbolo do país, sendo um dos cômodos mais comuns nas casas dos finlandeses. Quando surgiu, durante a pré-história, era considerada um local sagrado, onde o corpo e o espírito eram purificados. A crença dos povos nesse efeito era tão grande que eventos como rituais de curanderia, casamentos e até partos eram realizados nas saunas. Com o passar dos anos, os turcos também se apaixonaram pela prática e a aprimoraram, utilizando caldeirões de bronze e grandes salões de mármore para realizar a atividade, que recebeu o nome de banho turco.