Nuvens de mosquito que combate o Aedes aegypti são liberadas pela primeira vez em Minas

Expectativa da Secretaria de Saúde de Juiz de Fora é de que em até seis meses a população do Aedes aegypti selvagem comece a cair nos locais onde o mosquito modificado foi liberado

por Estado de Minas 01/12/2017 06:00
Olavo Prazeres/Tribuna de Minas
Mosquitos contidos em recipientes foram soltos de uma van na Zona Sul da cidade ontem (foto: Olavo Prazeres/Tribuna de Minas)
Juiz de Fora – Os chamados “Aedes do Bem”, insetos geneticamente modificados para o combate à dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana, foram lançados pela primeira vez ontem, em Minas Gerais. Os “Aedes do Bem” são mosquitos machos que não picam, portanto, não transmitem doenças. Liberados no meio ambiente, copulam com fêmeas do Aedes aegypti e geram insetos que herdam um gene autolimitante, que não os deixa reproduzir, pois morrem antes de atingir a idade adulta.

O projeto, iniciado em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a 270 quilômetros de Belo Horizonte, é uma parceria entre a prefeitura e a empresa Oxitec do Brasil. Os descendentes do “Aedes do Bem”, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, “herdam também marcador fluorescente, que permite que sejam identificados no laboratório, facilitando seu monitoramento e a avaliação da eficácia durante todo o programa de uso da tecnologia”.

A expectativa é de que, entre três e seis meses após o início das liberações, o nível da população do Aedes aegypti selvagem comece a cair nos locais onde o “Aedes do Bem” será liberado. Apesar da utilização da nova tecnologia, persiste o alerta para que a população não abandone cuidados contra a proliferação do Aedes aegypti. O resultado do projeto na cidade será conhecido entre quatro e seis meses, segundo a secretária municipal de Saúde, Elizabeth Jucá.

“Estamos muito otimistas quanto aos resultados deste projeto. No entanto, é fundamental que a população continue tirando seus 10 minutos contra a dengue todas as semanas. O ‘mosquito do bem’ fará sua parte. Se a população também fizer, estaremos cada dia mais protegidos”, afirmou.

Os mosquitos foram soltos pela manhã, na praça de Santa Luzia, Zona Sul. O bairro é um dos três contemplados pelo “Aedes do Bem”. Os outros dois são Monte Castelo, na Zona Norte, e Vila Olavo Costa, na Zona Sudeste. Cerca de 10 mil pessoas serão beneficiadas nesta etapa.

Os bairros selecionados para o projeto foram escolhidos pelo critério incidência de casos notificados de dengue e dados do Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa). Em 2016, somente no Santa Luzia foram notificados 925 casos da doença; no Monte Castelo, 564; e na Vila Olavo Costa, 152.

INFORMAÇÃO O Projeto Aedes do Bem em Juiz de Fora teve início em julho, com o trabalho de engajamento público, quando as informações sobre a tecnologia foram levadas à população. Agentes de combates de endemias, agentes comunitários de saúde e técnicos da Oxitec realizaram visitas de porta em porta nos bairros beneficiados para explicar o projeto e o funcionamento da tecnologia.

Os “Aedes do Bem” utilizados em Juiz de Fora serão criados em um posto avançado, montado pela Oxitec no município. A instalação recebe os mosquitos machos no estágio de pupa e faz com que se desenvolvam até se tornarem insetos adultos alados. As pupas são fornecidas pela fábrica da Oxitec em Piracicaba (SP), município que já obteve sucesso com a aplicação da tecnologia.

A Oxitec é pioneira no uso de engenharia genética para controle de vetores e pragas que disseminam doenças e destroem culturas. A empresa já implantou o Projeto Aedes do Bem nas Ilhas Cayman e no Panamá, e, no Brasil, em Piracicaba, depois de ser testado em bairros de Jacobina e Juazeiro, na Bahia. A redução na quantidade do mosquito selvagem chegou a alcançar 99% em um dos bairros de Juazeiro. Em Piracicaba, resultados preliminares mostraram redução de 82% em larvas selvagens nas áreas tratadas com o “Aedes do Bem” em comparação com a área não tratada.

Segundo a Oxitec, diferentemente de outras abordagens, o “Aedes do Bem” não deixa pegada ecológica. O inseto modificado liberado no ambiente e seus descendentes morrem, portanto, não persistem no ecossistema.